Real foi a moeda que mais perdeu valor em 2015
O mês de julho foi de forte pressão para o real. Em meio às disputas
entre o Planalto e o Congresso, às mudanças nas metas fiscais pelo
governo e a ameaça de perda do grau de investimento do País, o real
despencou. No exterior, a tendência também foi de queda para as demais
moedas de países exportadores de commodities. O real foi uma das três
divisas que mais cederam no mês passado. No resultado acumulado de 2015,
o real lidera o ranking de perdas.
“Não há como negar que o dólar reina hoje absoluto no mundo, contra
todas as moedas e, particularmente, ante as divisas de emergentes e
exportadores de commodities. Mas a queda está sendo maior no Brasil
porque você tem um aumento da percepção de risco em relação ao País”,
disse José Faria Júnior, diretor da consultoria Wagner Investimentos.
Levantamento feito com base em 47 divisas negociadas à vista mostra que,
em julho, o dólar subiu 10,09% ante o real, o que coloca a moeda na
terceira posição de perdas no mês. A moeda americana subiu 10,54%
comparada ao peso colombiano em julho e 10,91% em relação ao rublo
russo, as duas piores. No ranking do ano, o real é a pior moeda, sendo
que a alta acumulada do dólar está em 28,57%.
O fato de os preços das commodities estarem caindo em todo o mundo,
incluindo as matérias primas da pauta de exportação do Brasil, tem
pressionado as divisas de vários países desde o início do ano. A
proximidade do início do processo de alta de juros nos Estados Unidos é
outro fator de alta para o dólar, com investidores já se antecipando a
este movimento do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).
O problema é que o ambiente interno do País também intensifica a busca
por dólares. Em julho, houve o rompimento do presidente da Câmara,
Eduardo Cunha, com o governo, o corte da meta fiscal para 2015, 2016 e
2017 e o rebaixamento, pela S&P, da perspectiva do crédito do País.
São fatores que levaram a uma corrida em busca da segurança do dólar.
“Se você olhar um histórico mais longo e comparar o real frente ao
dólar, e uma cesta de países contra a moeda americana, em vários
momentos verá que a brasileira se descolou. E isso acontece,
tipicamente, em situações de aumento do risco doméstico”, comentou Mauro
Schneider, economista da MCM Consultores Associados.
Disparada. Com as cotações encerrando julho acima dos R$ 3,40, parece
claro que os tempos de dólar mais baixo, na faixa dos R$ 3,15, como
visto no início do mês, ficaram para trás. Schneider disse que a
consultoria revisará as projeções nos próximos dias porque os R$ 3,15
que estavam prevendo para o fim do ano ficaram “obsoletos”. “Há muito
tempo não vejo tamanha frequência na revisão de projeções como temos
visto.”
“Nessa virada de julho, já imaginávamos que o dólar ficaria mais forte.
Só que o movimento foi potencializado pelo fiscal horrível do governo”,
comentou Faria Júnior, da Wagner. “A chance de perda de grau de
investimento é enorme. A Páscoa do ano que vem (no fim de março) pode
ser uma data chave, porque a S&P costuma levar em média nove meses
para fazer uma nova avaliação sobre o País. E neste momento o primeiro
trimestre de 2016 já estará fechado.”
Faria Júnior diz que, por isso, fica difícil “recomendar venda de
dólar”, ainda mais em um ambiente de indefinição política e até
possibilidade de impeachment da presidente.
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