Com demissões em alta, está mais difícil receber direitos
As demissões cresceram tanto neste ano que trabalhadores de São Paulo
esperam até três meses para fazer a homologação da rescisão do contrato
de trabalho e assim conseguir receber seus direitos e os documentos
necessários para acessar o seguro-desemprego e o FGTS.
Em períodos pré-crise, o tempo de espera era em média de 15 a 20 dias,
segundo sindicatos que prestam esse serviço a demitidos, com mais de um
ano de casa.
A procura para dar baixa na carteira cresceu até 700% em julho deste ano
ante o mesmo mês do ano passado e levou os sindicatos a contratarem
mais funcionários, realocarem empregados de outros setores e a fazerem
mutirões aos sábados para atender os demitidos.
É o caso dos sindicatos dos metalúrgicos, dos trabalhadores da
construção civil de São Paulo e dos comerciários, três dos maiores do
país.
Nos metalúrgicos de São Paulo, 18.487 homologações foram feitas de
janeiro a julho deste ano, 260% mais que no mesmo período de 2014.
"A demora é reflexo direto do aumento de demissões", afirma Miguel
Torres, presidente da Força Sindical e do Sindicato dos Metalúrgicos de
São Paulo.
A taxa de desemprego na região metropolitana de São Paulo ficou em 7,2%
em junho, ante 5,1% um ano antes. No país, passou de 4,8% para 6,9% no
mesmo período.
Gerentes de recursos humanos e advogados de empresas da Grande São Paulo
relataram à reportagem que optaram por fazer a homologação das
rescisões de seus demitidos nos sindicatos porque o agendamento da
homologação em agências do Ministério do Trabalho tem demorado até seis
meses.
As homologações podem ser feitas nos sindicatos ou nas superintendências
do Trabalho (MTE), desde que esteja presente um representante do
empregador.
Além do maior número de demitidos e da falta de funcionários nos postos,
em algumas unidades do ministério, como a da região central da capital
paulista, os servidores administrativos estão em greve há cerca de duas
semanas, o que prejudica ainda mais o atendimento.
O Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de São Paulo vai
contratar mais quatro funcionários para reforçar a equipe de 12 que atua
na homologação.
"Nunca o sindicato esteve tão cheio. Mudamos o sistema de atendimento e a
ideia é concentrar a vinda de todos os demitidos de uma determinada
construtora em uma só data para agilizar a conferência das verbas
rescisórias", diz Antonio de Sousa Ramalho, presidente do sindicato.
Nos comerciários de São Paulo, a homologação, que ocorria em oito subsedes da entidade, agora foi concentrada na sede.
"Montamos uma verdadeira linha de produção com 20 funcionários no
atendimento", diz Ricardo Patah, presidente da UGT e do sindicato da
categoria.
No primeiro semestre, foram feitas 60,6 mil homologações no sindicato ante 63,6 mil no mesmo período de 2014.
"No ano passado, a rotatividade era alta, mas o trabalhador conseguia
emprego rapidamente e muitas vezes pedia demissão para ganhar mais.
Agora, a realidade é outra", diz Patah.
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