quarta-feira, 19 de agosto de 2015


Número de migrantes ilegais chegando à Europa em julho supera o triplo de 2013: 108 mil
Com mais de 340 mil refugiados desembarcando pelo mar, recordes de 2014 são quebrados

Crianças afegãs esperam refúgio em ilha grega: crise só aumenta

BRUXELAS — Quase 108 mil migrantes entraram ilegalmente na União Europeia (UE) em julho, segundo dados da agências de fronteiras do bloco, a Frontex. A quantia, composta principalmente por sírios que tentam atravessar da Turquia para a Grécia, superou com facilidade a de julho de 2014 (70 mil) e mais de três vezes a de 2013.
De acordo com a Frontex, os recordes foram nas ilhas gregas no Mar Egeu, com 50 mil imigrantes chegando principalmente da Turquia. O destino tem sido mais procurado no verão pela maior facilidade de chegar à União Europeia, assim como o Mediterrâneo.
Quase 340 mil imigrantes já desembarcaram na UE desde o início do ano, principalmente através de Itália, Grécia e Hungria. São 175% a mais que no período equivalente de 2014, quando o ano inteiro — que já quebrara recordes — teve 280 mil chegando.
A UE afirma que quase 626 mil pessoas solicitaram asilo no mês passado. Apenas a Alemanha já vislumbra 750 mil pedidos neste ano.
Os aumentos drásticos na crise migratória se devem principalmente à intensificação dos conflitos no Oriente Médio e em regiões da África. Somente Síria e Eritreia concentram a maior parte dos refugiados que arriscam as vidas no mar.

Em Idomeni, fronteira grega com a Macedônia, refugiados atravessam campos
de girassóis em busca de refúgio

GRÉCIA CRITICA QUESTIONAMENTOS. Apenas na Grécia, 21 mil imigrantes desembarcaram na semana passada. O país vive um caos migratório em pleno período de indefinição total da economia.
Um porta-voz da agência de refugiados da ONU (Acnur) em Genebra disse que o país precisava mostrar "muito mais liderança" para lidar com a crise. Mas as autoridades gregas disseram que precisavam de uma melhor coordenação dentro da União Europeia.
"Esse problema não pode ser resolvido através da imposição de processos legais rigorosos na Grécia, e, certamente, não levando os barcos de volta", disse a porta-voz do governo, Olga Gerovassili. "A imigração também não pode ser abordada através da construção de cercas."

Um imigrante vindo das Ilhas Maurício puxa um barco momentos depois
de chegar na ilha grega de Kos

BERLIM — Alemanha deverá receber 750 mil refugiados este ano — ministro pede que UE atue e nomeie um comissário para o problema no continente.
O número de pessoas que chegam à Alemanha em busca de asilo poderá chegar este ano a 750 mil, de acordo com fontes ouvidas pela mídia local. A previsão inicial era de 450 mil, mas o governo já trabalha com um número recorde, de acordo com o jornal econômico “Handelsblatt”.
Em 1992, a Alemanha recebeu 438.191 pedidos de asilo, o que até então era considerado seu maior índice. Mas o país lida com uma nova onda de refugiados, que chegam principalmente da Síria e dos Bálcãs.
Em entrevista ao jornal “Die Welt”, o alto comissário para Refugiados da ONU, Antonio Guterres, disse que mais países da Europa devem dividir as responsabilidades.
“É insustentável a longo prazo que apenas dois países da UE, Alemanha e Suécia, recebam a maior parte dos refugiados”, disse.
No início de 2015, estavam previstos 300 mil pedidos, mas no início deste mês o número já havia sido superado. O ministro alemão de Desenvolvimento, Gerd Muller, fez um apelo para que a União Europeia aja diante do aumento do fluxo de pessoas.
— A Comissão Europeia deve passar do “modo férias” ao “modo urgência”. Além disso, precisamos de um comissário europeu para os Refugiados.

As romenas Elena Stanescu e Mariana Ion temem ataques. Xenofobia é temor das autoridades

ESTOCOLMO — Imigrantes pobres da União Europeia testam limites da tolerância sueca — cidadãos do bloco se queixam de não receber os mesmos benefícios que refugiados de fora da Europa.
Após mendigar noite afora em bares e boates, Gheorghe Rancu, migrante sem-teto da Romênia, dormia certa manhã recente em um parque de Estocolmo quando acordou e começou a sentir uma dor aguda no rosto.
"Senti a pele escamar, dei um pulo e fechei meus olhos", ele contou, mostrando o local no parque onde alguém o encharcou com um líquido corrosivo que a polícia suspeita conter cloro. "Pensei que fosse morrer."
Graças ao tratamento hospitalar, Rancu conseguiu se livrar das cicatrizes, mas a agressão, da qual não existem suspeitos, deixou outro tipo de marca.
"Quando venho para este parque começo a tremer", contou Rancu, que parece mais velho do que seus 27 anos e diz querer voltar à Romênia assim que tiver dinheiro.
O ataque no Parque Berzelii foi apenas mais um contra um número crescente de migrantes ciganos aqui, uma tendência que ameaça a reputação da Suécia como uma das nações mais tolerantes e receptivas da Europa.
O fato também alude à peculiaridade do debate sobre as ondas de migrantes que trazem desafios políticos, econômicos e sociais pelo continente. Ao contrário dos refugiados da Síria, África e outros lugares pobres assolados pela guerra que chegam à Europa ilegalmente, cidadãos de países da União Europeia como a Romênia têm liberdade de ir aonde quiserem dentro do bloco de 28 nações.
Porém, enquanto os refugiados de fora da Europa que recebem asilo têm direito a benefícios sociais básicos, os migrantes europeus pobres desempregados — principalmente os mendigos temporários ciganos — geralmente têm pouca ou nenhuma ajuda pública.
A Suécia recebeu 31.220 pedidos de asilo em 2014 de refugiados de fora da União Europeia. Contudo, agora o país está lidando com um influxo de migrantes de nações mais pobres do sul europeu, como a Romênia, que se tornaram um barril de pólvora no conflito sobre os limites da abertura e da generosidade europeias.
"A questão está sendo discutida em todos os cantos da Suécia", disse Sven Hovmoller, professor de Química da Universidade de Estocolmo e vice-presidente de uma organização criada para dar apoio a migrantes sem-teto (HEM).
"Em qualquer lugar do país, onde existe uma loja de alimentos, haverá alguém do lado de fora mendigando", ele declarou. Isso se deve em parte ao fato de que os "pobres perceberam que eles também podem circular pela Europa em busca de um futuro melhor".

Ciganos em acampamento perto de Estocolmo: fluxo tem incomodado autoridades

A pobreza na Romênia faz desse país um ponto de origem importante para esse tipo de migrantes, principalmente para os ciganos, muitos dos quais também enfrentam preconceito; segundo a organização estatística da União Europeia, a Eurostat, a Romênia tem uma das rendas mais baixas do bloco de países.
Na Suécia, a questão ajudou a alimentar o crescimento dos Democratas Suecos, partido de direita, populista e contrário à imigração, que recebeu 13 por cento dos votos nas eleições nacionais em 2014. Aconteceram reações políticas semelhantes na Dinamarca, França e Grã-Bretanha. No último caso, a preocupação com a chegada de operários da Europa Meridional e Oriental foi um ponto de destaque no debate sobre a possível saída da Grã-Bretanha da União Europeia.
"É a maior mudança em décadas", disse Andreas Johansson Heino, diretor editorial do Timbro, instituto de pesquisa, referindo-se ao crescimento dos Democratas Suecos. "Na Suécia, a falta de um partido contra a imigração fazia parte da identidade do país. Nós achávamos que aqui não existiam esses partidos populistas."
Mendigar não é ilegal na Suécia, mas os Democratas Suecos querem sua criminalização — ao menos do que o partido chama de forma "organizada". A polícia disse existir ao redor de quatro mil pedintes na Suécia, dos quais quase 1.500 vivem em Estocolmo, a capital.
Linda Staaf, chefe da divisão de inteligência do departamento de operações nacionais da polícia sueca, afirmou que aumentaram os ataques contra os ciganos e que a opinião entre os suecos está dividida entre os hostis aos mendigos e quem os vê como pessoas necessitando de ajuda.
Todavia, a visibilidade dos mendigos — geralmente carregando seus pertences nos conhecidos sacos azuis grandes da Ikea, uma das marcas mais conhecidas do país – indubitavelmente desconcertou muitos suecos. Em sua sociedade abastada e bem organizada, a mendicância é rara, de acordo com Anna-Sophia Quensel, pesquisadora da Expo, organização fundada pelo escritor Stieg Larsson para combater o extremismo de direita.
"Isso está dividindo a sociedade em duas", ela afirmou, acrescentando que os mendigos forçam os suecos a escolher entre se envolver ou ignorar os pobres, raramente vistos por aqui antes.
"Pedintes só eram vistos no exterior, em países pobres. Nós não somos um país pobre", ela disse.
Entretanto, agora existe um bolsão de pobreza espantosa nos morros de Hogdalen, a 20 minutos de metrô do centro de Estocolmo, uma das capitais mais ricas da Europa. Aqui, um grupo de 50 a 60 ciganos mora em barracos sem água, eletricidade nem esgoto, em uma clareira em meio aos abetos.
Os homens e mulheres daqui dizem que costumam ficar durante meses, ganhando dinheiro com a mendicância e recolhendo garrafas vazias que podem ser trocadas por moedas, antes de voltar à Romênia.
Trabalhadores de entidades de caridade afirmam que embora alguns ciganos cometam contravenções, eles são os destinatários de algo muito pior. Segundo as notícias da imprensa, a Expo contabilizou 77 ataques contra pedintes em 18 meses, ainda que as entidades considerem esse crime pouco denunciado.
Os ataques incluem um em Malmo, onde os barracos de um acampamento cigano foram incendiados. Em Boras, um indigente foi atropelado por uma motoneta. E, em Skara, pelo menos um migrante foi atingido por balas de chumbinho.
Muitas páginas na internet destacam as reclamações contra os mendigos, muitas vezes chamados aqui de "migrantes da União Europeia". Para os ativistas, a polícia dá pouca atenção aos ataques contra os pedintes — fato negado pelas autoridades.
Enfrentando problemas crescentes, o governo designou um coordenador nacional, Martin Valfridsson, para cuidar dos cidadãos da UE em estado de vulnerabilidade.
Ele descreve os crimes de ódio contra os ciganos como "malignos".
Segundo o coordenador, nos últimos meses a Suécia fechou um acordo com o governo romeno para incentivar a cooperação entre assistentes sociais e o pessoal da saúde dos dois países. Valfridsson defende mudanças jurídicas para ajudar a processar migrantes que controlam pontos de mendicância e exigem uma parcela dos lucros.
Contudo, ele também quer simplificar o processo para que os proprietários expulsem os mendigos de terrenos invadidos. "Devemos passar a mensagem de que não é possível morar no meio do mato. Quem vier à Suécia deve ter o dinheiro suficiente para pagar um camping ou pensão."

Um refugiado sírio abraça os dois filhos e chora ao conseguir desembarcar
na ilha de Kos, na Grécia, após a travessia em um barco inflável: € 1.160 por pessoa

LESBOS, GRÉCIA — Intermediários turcos chegam a ganhar € 4 milhões com travessia no Mediterrâneo — mercado se alimenta do desespero de imigrantes que tentam chegar à Europa em busca de uma vida melhor.
Uma lancha se aproxima a toda velocidade da costa da ilha grega de Lesbos. No mastro, ela ostenta uma bandeira americana. O condutor é um homem musculoso com óculos de sol e boné, acompanhado de um jovem. Embora finjam sê-lo, não se tratam de turistas, mas sim traficantes de pessoas com 15 somalis a bordo. A operação tem que ser rápida para que a guarda costeira grega não os interceptem. Podem pegar 15 anos de prisão, se capturados. Com o motor ainda ligado, obrigam os imigrantes a saltar na água em uma área repleta de rochas ocultas pela vegetação. Nervosos e sem olhar para trás, viram o barco para empreender a fuga e arrastam consigo um jovem, cujo pé se prendeu na proa da embarcação. Diante dos gritos desesperados dos imigrantes, os traficantes param a lancha. O pé do jovem, que luta para não se afogar, é por fim liberado. Estes traficantes cruzaram os 14 quilômetros que separam a Turquia da Grécia em 15 minutos.
— Saímos há um mês da Somália, através de Quênia e Irã, até chegar à Turquia — conta, com respiração ofegante, Mohamed, um dos imigrantes que estavam a bordo.
Em um quarto de hora, os traficantes embolsaram € 17.500 — € 1.160 por cabeça. É um negócio capaz de gerar € 4 milhões por mês, e que se alimenta do desespero de quem foge. É comum um traficante fazer três viagens por dia, com uma média de 50 passageiros em cada embarcação.
Avistar um traficante é difícil. Com medo dos guarda-costas turcos e gregos, a maioria faz suas viagens sem obedecer a um padrão. Em comparação com o ano passado, a polícia grega deteve 727 traficantes de pessoas, apenas cem a mais que no ano anterior. Enquanto isso, o número de imigrantes ilegais explodiu de 32 mil para 156 mil.
Esmirna, uma cidade na costa da Turquia, se converteu em um dos epicentros do negócio. Como se fossem agências de viagens, mediadores competem entre si e negociam com imigrantes na Praça de Basma. Após quatro anos como refugiado no Líbano sem ser reassentado na Europa, Hamzi el-Baradi optou por pagar a um dos traficantes para ser levado até a Grécia com o filho.
— Negociei € 1 mil para mim e € 600 para o meu filho de 10 anos — conta Hamzi, que desembarcara de um barco em Lesbos. — Eles nos conduziram por quatro horas em um furgão com outras 45 pessoas até Istambul. De lá, nos levaram a um lugar na costa aonde havia três Zodiacs (marca de barcos infláveis). Zarpamos quando informantes chamaram dizendo que o caminho estava livre de guardas costeiros.
Afegãos pagam € 750 euros, sírios, € 1 mil. Diante da alta demanda por seus serviços, os traficantes amontoam seus clientes. No interior das dezenas de Zodiacs que chegam à costa da Grécia se lê “capacidade máxima de 13 pessoas.” Pescadores locais garantem que colocar mais de 35 pessoas em um destes barcos é receita certa para um naufrágio. Nos barcos dos traficantes, a média é de 65. Há duas semanas, seis pessoas morreram afogadas. Outras cinco morreram em um furgão ao fugir da polícia turca.
Os preços variam conforme o país de origem. Os somalis e afegãos, com menos poder aquisitivo, pagam de € 750 a € 900. Os sírios, € 1 mil. Poucos podem pagar os € 1.160 a € 1.300 cobrados pelos donos de lanchas, que percorrem a distância até a Grécia cerca de quatro vezes mais rapidamente do que um dos barcos infláveis. O único investimento dos traficantes é um pouco de gasolina e um barco com motor.
Por economizar, é comum que o motor pare no meio do mar, o barco inflável perca o ar, ou que o carburador simplesmente quebre. Foi o que aconteceu com a família Nasser. Os patriarcas observavam de Lesbos um ponto imóvel no mar. Seus filhos estavam a bordo de uma das balsas que enfrentaram problemas. Eles só chegaram em terra firme uma hora depois, e contam que, sem combustível, foram obrigados a se atirar no mar e empurrar o barco.
— Os intermediários são afegãos, somalis ou sírios, mas quem manda, quem realmente ganha dinheiro, têm escritórios em Istambul — conta Mohammed el-Morsi, advogado refugiado recém-chegado a Lesbos.
Nas costas gregas, outro negócio começa a surgir. Quando barcos atingem as rochas, pescadores locais se apressam para retirar os bebês. Depois, começam a desmembrar as embarcações para aproveitar o material. Os motores dos Zodiacs valem alguns euros na ilha. Nos países de origem também há oportunidade de lucro, com falsificadores que cobram de € 200 a € 1 mil por passaportes falsos.
Uma vez na Grécia, grupos de imigrantes se dirigem ao norte. De novo, recorrem aos traficantes para ultrapassar a fronteira entre a Grécia e a Macedônia. As rotas existem há anos. Antes eram só albaneses e sérvios. Agora, sírios, afegãos e somalis.

Guarda costeira turca intercepta migrantes no Mar Egeu: cena comum no último mês

ANCARA — Turquia diz ter resgatado 18 mil migrantes no Mar Egeu em um mês — Em apenas 30 dias, fluxo de refugiados interceptados superou os sete primeiros meses do ano.
A Turquia anunciou na segunda-feira (17.ago.2015) ter resgatado cerca de 18.300 migrantes no Mar Egeu em um mês, quantia maior que a dos sete primeiros meses do ano. O grande fluxo de refugiados à deriva se deve às tentativas de chegarem à costa grega, porta de entrada para a União Europeia.
De acordo com os dados compilados pela guarda costeira do país, foram resgatados entre 17 de julho e 17 de agosto mais de 18.290 imigrantes ilegais. Isto é metade da quantia total de 2015: desde o início do ano, pelo menos 36.500 imigrantes foram resgatados no Mar Egeu.
“O governo lamenta o aumento significativo no número de migrantes em situação irregular (...) desde o início do verão”, diz um comunicado, referindo-se aos refugiados que tentam chegar à Grécia a partir da Turquia. “Na maioria dos casos, os migrantes embarcam em barcos precários que afundam no mar.”
Desde julho, o fenômeno tem se concentrado principalmente entre a cidade de Bodrum e a ilha grega de Kos. Com embarcações precárias utilizadas na travessia, muitos acabam naufragando.
Segundo as autoridades turcas, no entanto, a mortalidade de refugiados diminuiu em relação a 2014 e está abaixo da média de outros países que enfrentam casos semelhantes.

Mulheres aguardam para desembarcar em Siracusa: quem viaja sozinha é alvo mais fácil de gangues

POZZALLO, ITÁLIA — Imigrantes são espancados, torturados e estuprados a caminho da Europa — Refugiados correm risco antes mesmo de se lançarem ao mar.
Imigrantes são estuprados, baleados e torturados em sua jornada para a Europa antes mesmo de arriscarem a vida cruzando o Mediterrâneo, revela uma médica. Ao tratar de homens, mulheres e crianças que chegam à Itália, Anna Crepet, dos Médicos sem Fronteiras (MSF), se sente “em uma zona de guerra”.
No porto siciliano de Pozzallo, muitos imigrantes chegam com ferimentos que podem ser fatais, mas que só são tratados quando estes alcançam segurança.
— Às vezes parece que estamos trabalhando em uma zona de guerra, mas acho que é ainda pior, porque vemos casos que não receberam tratamento por semanas — conta. — Vemos fraturas resultantes de espancamento, muitas feridas de tiros. Encontramos balas nos músculos e sob a pele.
Ela lembra de um homem que chegou à Sicília com um buraco de bala que atravessou uma coxa e se alojou na outra perna. Mas algumas feridas são mais difíceis de serem notadas. Crepet diz que grande parte das mulheres que fazem a travessia de suas casas na África ou no Oriente Médio é estuprada no caminho, muitas vezes chegando grávidas à Itália.
— Elas costumam falar muito pouco sobre o que passaram, mas algumas vezes identificamos marcas do estupro — comentou. — Sabemos que a maioria das que chegam sozinhas deve ter sido estuprada. E não são poucas que viajam assim.
Crepet já ouviu relatos de tortura, de imigrantes sendo estuprados diante dos familiares, fossem homens ou mulheres. Alguns com apenas 13 anos.
As histórias são similares: sequestros, feitos reféns e espancados por gangues na Líbia que exigem dinheiro. Mesmo antes de chegarem ao país, de onde muitos barcos de traficantes partem em direção à Europa, pessoas originárias da África subsaariana ou do Oriente Médio passam semanas em picapes superlotadas.
Para a médica, o Saara é “uma das partes mais fatais da jornada”, com muitos imigrantes sendo assassinados ou morrendo em acidentes de carro ou de desidratação.
Ela conheceu um eritreu que teve a perna amputada, após cair do caminhão e ser atropelado. Um adolescente da Somália contou que quando seu grupo chegou à Líbia foi sequestrado e cada um foi obrigado a pagar mais US$ 300. Uma das mulheres, após ser solta, tentou se matar.
— Não podíamos falar entre nós e apanhávamos constantemente — contou o jovem, que só foi solto após a mãe enviar o dinheiro.

Imigrantes que tentavam chegar à Europa são resgatados pela Marinha Italiana

ROMA — Ao menos 40 imigrantes morrem sufocados em barco lotado no Mediterrâneo, diz Marinha italiana — Vítimas morreram depois de ficarem presos no porão de embarcação ilegal que tentava chegar à Europa.
Pelo menos 40 imigrantes morreram depois de, aparentemente, ficarem presos no porão de um barco no Mediterrâneo, informou no sábado (15.ago.2015) a Marinha italiana. Segundo a imprensa local, as vítimas teriam ficado sufocadas e não resistiram à arriscada travessia, que já fez milhares de vítimas só neste ano.
“Operação de resgate em andamento em um barco. Muitos imigrantes e pelo menos 40 mortos”, disse a Marinha em uma mensagem em sua conta no Twitter.
O porta-voz da Marinha, Costantino Fantasia, informou que o navio levava 312 passageiros, entre eles 45 mulheres e três crianças, quando se deparou com dificuldades. Segundo ele, os mortos estavam “supostamente no porão”, mas não deu mais detalhes porque a operação de resgate ainda estava acontecendo.
A embarcação estava a cerca de 30 quilômetros da costa da Líbia, na rota classificada como a mais mortífera para os refugiados que buscam uma vida melhor na Europa. Só neste ano, mais de 2.100 imigrantes morreram no mar Mediterrâneo tentando fazer a travessia em barcos conduzidos por traficantes e contrabandistas.
Além do risco de afogamento, muitos correm o risco de morrerem sufocados ou queimados nos porões das embarcações. Segundo relatos dos sobreviventes, a parte de baixo do assoalho dos barcos ficam lotadas de refugiados, que pagam menos pela viagem. Muito deles são pessoas que tentam fugir da guerra, perseguição e pobreza no Oriente Médio, África e Ásia.
Cerca de 340 mil imigrantes chegaram à União Europeia nos sete primeiros meses deste ano, somando quase o triplo do índice no mesmo período no ano passado, segundo dados da Agência Europeia de Fronteiras (Frontex). As cifras não param de subir por conta das tentativas de chegada pelo Mar Mediterrâneo, o que a Comissão Europeia chamou de maior crise do tipo desde a Segunda Guerra Mundial.
A migração em massa que vem tomando a Europa está especialmente intensa nesse verão. Somente em julho, foram registrados mais imigrantes que em todo o ano de 2013 (107.500), de acordo com o diretor adjunto da Frontex, Gil Arias.

Imigrantes chegam a ilha grega de Kos depois de uma travessia arriscada pelo Mediterrâneo


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