Ministro do TSE pede à Procuradoria investigação sobre campanha de
Dilma
Sob o argumento de que há "vários indicativos" de que a campanha à
reeleição de Dilma Rousseff e o PT foram financiados por propina
desviada da Petrobras, o ministro Gilmar Mendes pediu na sexta-feira
(21.ago.2015) que a Procuradoria-Geral da República apure eventuais
crimes que possam motivar uma ação penal pública.
O ministro, que é integrante do Supremo Tribunal Federal (STF) e
vice-presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), usou em seu
despacho informações das investigações da Operação Lava Jato. Ele
cruzou esses dados com as doações registradas na Justiça Eleitoral.
"Há vários indicativos que podem ser obtidos com o cruzamento das
informações contidas nestes autos (...) de que o PT foi
indiretamente financiado pela sociedade de economia mista federal
Petrobras [o que é proibido pela lei]. (...) Somado a isso, a conta
de campanha da candidata também contabilizou expressiva entrada de
valores depositados pelas empresas investigadas", afirma Mendes.
Entre os elementos da Operação Lava Jato usados pelo ministro está
trecho da delação premiada do empreiteiro Ricardo Pessoa em que ele
afirma ter doado R$ 7,5 milhões para a campanha de Dilma em 2014 por
temer prejuízos em seus negócios com a Petrobras se não ajudasse o
PT.
Segundo informações somadas pelos técnicos do TSE, empresas sob
suspeita de participar do esquema doaram R$ 172 milhões ao PT entre
2010 e 2014.
Mendes aponta que parte desses valores suspeitos foram transferidos
para a contabilidade da campanha de Dilma.
"Durante a campanha presidencial, além das doações (...) repassadas
pelo partido político, a candidata recebeu expressivas doações das
empresas investigadas, no valor total de R$ 47,5 milhões", segue o
despacho.
DESPESAS SUSPEITAS
Por fim, o ministro também pede investigação sobre despesas
suspeitas da campanha de Dilma, entre elas os gastos declarados para
a empresa Focal, que conforme se revelou, foi a segunda empresa
que mais recebeu da campanha de Dilma, apesar de estar,
oficialmente, no nome de um motorista.
"Assim, tenho por imprescindível dar conhecimento às autoridades
competentes sobre os indicativos da prática de ilícitos eleitorais e
de crimes de ação penal pública", afirma Mendes, que determina
apuração pela Procuradoria-Geral da República, Polícia Federal e
Corregedoria-Geral Eleitoral.
As contas da campanha à reeleição de Dilma foram aprovadas no ano
passado, mas Mendes determinou na ocasião que as autoridades
continuassem investigando suspeitas de ilícito.
DOAÇÕES SEGUIRAM PARÂMETROS LEGAIS
Em resposta ao pedido de investigação sobre a campanha de Dilma Rousseff
feito pelo ministro do TSE Gilmar Mendes, o PT informou que "todas as
doações recebidas pelo partido aconteceram estritamente dentro dos
parâmetros legais e foram posteriormente declaradas à Justiça
Eleitoral".
A assessoria do PT respondeu que a "as despesas das campanhas da
presidenta Dilma Rousseff, em 2010 e 2014, foram pagas com doações
eleitorais, sem a utilização de intermediários".
Questionado sobre o pedido, Edinho Silva, ex-tesoureiro da campanha
presidencial de 2014 e atual ministro da Secretaria de Comunicação
Social da presidente, disse que "todas as contribuições e despesas da
campanha de 2014 foram apresentadas ao TSE, que, após rigorosa
sindicância, aprovou as contas por unanimidade".
Em nota o ministro Edinho Silva (Comunicação Social), diz que "todas as
despesas da campanha foram quitadas pelo comitê financeiro da campanha". E que "todos os fornecedores da campanha de 2014 foram contratados após
cotação de preços e todos os contratos foram auditados pela própria
campanha e, as contas, aprovadas por unanimidade pelo Tribunal Superior
Eleitoral".
AÇÕES DO PSDB
Tramitam atualmente no TSE quatro ações que questionam a prestação
de contas da campanha petista à Presidência, todas movidas pelo
oposicionista PSDB.
Na semana passada, o ministro do TSE Luiz Fux pediu vista em um
desses processos.
A decisão foi tomada numa sessão tensa, marcada por provocações
entre os ministros do tribunal.
Gilmar Mendes disse que não se pode transformar o país em um
"sindicato de ladrões". O ministro apresentou um voto, muitas vezes
em tom emotivo, cobrando coragem do tribunal para discutir os
processos sobre cassação.
"Os fatos são de gravidade tamanha que fingir que eles inexistem é
um desrespeito à comunidade jurídica. Falar isso e voltar para casa
faz com que nós sintamos com vergonha de olharmos no espelho",
disse.
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