domingo, 16 de agosto de 2015


Em relatório, a Polícia Federal informa ao juiz Sérgio Moro que Lula revelou-se preocupado com ‘assuntos do BNDES’ na sua conversa com o lobista Alexandrino
Grampo da Lava Jato pegou conversa entre executivo da Odebrecht Alexandrino Alencar e ex-presidente Lula na noite de 15 de junho de 2015

A Polícia Federal citou o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos autos da Operação Lava Jato sobre a empreiteira Odebrecht. Em relatório final de interceptação telefônica da Operação Erga Omnes, 14ª fase da Lava Jato, a PF informa ao juiz federal Sérgio Moro que o ex-presidente conversou com o executivo Alexandrino de Salles Ramos Alencar, da empreiteira Odebrecht no dia 15 de junho de 2015. Quatro dias depois do telefonema, Alexandrino Alencar foi preso com o presidente da maior empreiteira do País, Marcelo Bahia Odebrecht.

Segundo o relatório, Lula estaria preocupado com ‘assuntos do BNDES’.
A preocupação de Lula revela-se justificável. O Núcleo de Combate à Corrupção da Procuradoria da República no Distrito Federal investiga se o ex-presidente traficou influência no exterior para que a Odebrecht obtivesse obras com o financiamento do BNDES. Alexandrino é personagem da investigação. Escalado pela empreiteira Odebrecht, ele tornou-se um assíduo companheiro de viagem de Lula. Viraram amigos.


Abaixo é reproduzido outro trecho de relatório endereçado pela PF ao juiz Sérgio Moro. Nele o delegado federal Eduardo Mauat da Silva, que integra a força-tarefa da Lava Jato, assinalou que:


A PF não grampeou o ex-presidente Lula. Os investigadores monitoravam os contatos do executivo Alexandrino de Salles Ramos Alencar, da empreiteira Odebrecht, por isso a conversa foi gravada.
O ex-presidente caiu no grampo porque ligou para Alexandrino, que se encontrava sob escuta. Falaram sobre um seminário promovido pelo jornal Valor, mas, também, trataram do que a PF chamou em seu relatório de “polêmicos financiamentos do BNDES às empreiteiras brasileiras, incluindo a Odebrecht.” Afora a apuração em curso na Procuradoria da República do Distrito Federal o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é alvo de uma CPI no Congresso, que investiga suspeitas de empréstimos contrários ao interesse público feitos durante as gestões de Lula e da presidente Dilma Rousseff — 2003 a 2015 — a CPI do BNDES. Uma das metas da oposição é tentar convocar Lula.
Embora não admitam em público, também os integrantes da força-tarefa da Lava Jato perscrutam as pegadas de Lula. A pedido de Dilma, ministros petistas sondaram o ex-presidente sobre a hipótese de ele tornar-se ministro. Abrigado na Esplanada, Lula ganharia foro privilegiado. E ficaria fora do alcance do juiz Sérgio Moro. Por ora, Lula não topou. E a inquietação em Brasília só aumenta.

Outro nome citado no relatório é de Marta Pacheco Kramer, executiva da Odebrecht. Segundo a PF, Alexandrino Alencar disse que Marta seria ligada ao Instituto Lula.
“O investigado também recebeu ligações de Marta Pacheco Kramer na data da deflagração da operação as 06:06 da manhã do dia 19 de junho de 2015. Curiosamente, Marta foi identificada pelo próprio Alexandrino como vinculada ao “Instituto Lula” o que restou consignado junto ao auto de arrecadação lavrado na residência do investigado acerca dos contatos telefônicos feitos pelo mesmo quando da chegada da equipe”, informou o delegado federal Eduardo Mauat da Silva.

COM A PALAVRA:
1 — O Instituto Lula disse que não vai comentar a referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no relatório da Polícia Federal. A entidade nega que Marta Pacheco Kramer tenha qualquer vínculo com o Instituto. Marta Pacheco é advogada da CNO. Marta Pacheco não tem nenhuma relação com o Instituto Lula.

2 — “Em relação ao relatório de monitoramento divulgado pela Polícia Federal, a Odebrecht lamenta que as informações sejam colocadas fora de contexto, traçando conclusões equivocadas que confundem a opinião pública”.

3 — “O BNDES lamenta tentativas, na imprensa e em redes sociais, de manipular e distorcer informações buscando envolver o Banco em algo supostamente nebuloso a partir da divulgação de um diálogo entre o ex-presidente Lula e um executivo da Odebrecht. A conversa não faz referência direta ao BNDES e tratou de um seminário sobre exportação que teve ampla participação do público interessado e cobertura da imprensa.”


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