Negócio milionário — Lula recebeu R$ 27 milhões por palestras
Relatório de órgão de fiscalização do
governo mostra que a empresa de Lula faturou 27 milhões de reais — sendo
10 milhões apenas das empreiteiras envolvidas no escândalo de corrupção
da Petrobras
De acordo com reportagem da revista "Veja", a empresa de palestras do
ex-presidente, a LILS, recebeu R$ 27 milhões depois que Lula deixou a
Presidência, de 2011 a 2014. A reportagem afirma que os dados constam de
relatório produzido pelo Coaf (órgão de inteligência financeira
vinculado ao Ministério da Fazenda) que foi entregue à força tarefa da
Operação Lava Jato.
A revista não explica se o documento do Coaf está vinculado a algum inquérito específico da Lava Jato.
Segundo a revista, R$ 9,8 milhões da receita da LILS vieram de empreiteiras investigadas no escândalo da Petrobras.
São elas a Odebrecht (R$ 2,8 milhões), a Andrade Gutierrez (R$ 1,9
milhão), a OAS do Brasil, dos EUA e da Costa Rica (R$ 1,9 milhão), a
Camargo Corrêa (R$ 1,4 milhão), a Queiroz Galvão (R$ 1,1 milhão), a UTC
Engenharia (R$ 357 mil) e a Quip (R$ 378 mil), uma sociedade entre
quatro empreiteiras que presta serviços à Petrobras.
Da receita, a LILS destinou R$ 12,9 milhões para aplicações financeiras e R$ 5 milhões para plano de previdência privada.
A assessoria do Instituto Lula afirmou no sábado (15.ago.2015) que o
ex-presidente "fez palestras para dezenas de empresas de diferentes
setores e países e temos plena certeza da legalidade e da correção das
atividades".
Em 12 de junho último, a reportagem solicitou à assessoria do Instituto
Lula a "relação dos clientes, e respectivos valores, da empresa LILS",
de janeiro de 2011 a junho de 2015. Não houve resposta até o momento.
No mesmo dia, o Instituto Lula divulgou nota à imprensa segundo a qual
"a grande maioria das atividades do ex-presidente Lula é organizada por
instituições sindicais, populares, órgãos de imprensa e por outras
organizações da sociedade civil".
Nesses casos, segundo a nota, Lula "participa gratuitamente". Além
dessas atividades, diz a nota, Lula "recebe convites de diversas
empresas e organizações privadas para proferir palestras. Sua
participação, nesses casos, inclui o pagamento de honorários. Para
receber esses convites e organizar sua participação em palestras, o
ex-presidente criou a LILS Palestras e Eventos, empresa que cumpre com
todas as suas obrigações legais".
ELITE - Desde que deixou o governo, em 2011, Lula abriu uma empresa e se
dedicou a dar palestras pagas no Brasil e no exterior. Em quatro anos, juntou uma fortuna |
O negócio milionário de Lula
Para um presidente da República de qualquer país, é enaltecedor poder
contar que teve origem humilde. O americano Lyndon Johnson mostrava a
jornalistas um casebre no Texas onde, falsamente, dizia ter nascido. A
ideia era forçar um paralelo com a história, verdadeira, de Abraham
Lincoln, que ganhou a vida como lenhador no Kentucky. Lula teve origem
humilde em Garanhuns, no interior de Pernambuco, e se enalteceu com
isso. Como Johnson e Lincoln, Lula veio do povo e nunca mais voltou. É
natural que seja assim. Como é natural que ex-presidentes reforcem seu
orçamento com dinheiro ganho dando palestras pagas pelo mundo. Fernando
Henrique Cardoso faz isso com frequência. O ex-presidente americano Bill
Clinton, um campeão da modalidade, ganhou centenas de milhões de
dólares desde que deixou a Casa Branca, em 2001. Lula, por seu turno,
abriu uma empresa para gerenciar suas palestras, a LILS, iniciais de
Luiz Inácio Lula da Silva, que arrecadou em quatro anos 27 milhões de
reais. Isso se tornou relevante apenas porque 10 milhões dos 27 milhões
arrecadados pela LILS tiveram como origem empresas que estão sendo
investigadas por corrupção na Operação Lava-Jato.
Na semana passada, a relação íntima de Lula com uma dessas empresas, a
empreiteira Odebrecht, ficou novamente em evidência pela divulgação de
um diálogo entre ele e um executivo gravado legalmente por
investigadores da Lava-Jato. O alvo do grampo feito em 15 de junho deste
ano era Alexandrino Alencar, da Odebrecht, que está preso em Curitiba.
Alexandrino e Lula falam ao telefone sobre as repercussões da defesa que
o herdeiro e presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, também preso,
havia feito das obras no exterior tocadas com dinheiro do BNDES. Os
investigadores da Polícia Federal reproduzem os diálogos e anotam que o
interesse deles está em constituir mais uma evidência da "considerável
relação" de Alexandrino com o Instituto Lula.
Fora do contexto da Lava-Jato, esse diálogo não teria nenhuma relevância
especial. Como também não teria a movimentação financeira da LILS. De
abril de 2011 até maio deste ano, a empresa de palestras de Lula, entre
créditos e débitos, teve uma movimentação de 52 milhões de reais. Na
conta-corrente que começa com o número 13 (referência ao número do PT), a
empresa recebeu 27 milhões, provenientes de companhias de diferentes
ramos de atividade. Encabeçam a lista a Odebrecht, a Andrade Gutierrez, a
OAS e a Camargo Corrêa, todas elas empreiteiras investigadas por
participação no esquema de corrupção da Petrobras. Essas transações
foram compiladas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras
(Coaf), do Ministério da Fazenda. O Coaf trabalha com informações do
sistema financeiro e seus técnicos conseguem identificar movimentações
bancárias atípicas, entre elas saques e depósitos vultosos que podem vir
a ser do interesse dos órgãos de investigação. Neste ano, os analistas
do Coaf fizeram cerca de 2 300 relatórios que foram encaminhados à
Polícia Federal, à Receita Federal e ao Ministério Público. O relatório
sobre a LILS classifica a movimentação financeira da empresa de Lula
como incompatível com o faturamento. Os analistas afirmam no documento
que "aproximadamente 30%" dos valores recebidos pela empresa de
palestras do ex-presidente foram provenientes das empreiteiras
envolvidas no escândalo do petrolão.
O documento, ao qual VEJA teve acesso, está em poder dos investigadores
da Operação Lava-Jato. Da mesma forma que a conversa do ex-presidente
com Alexandrino Alencar foi parar em um grampo da Polícia Federal, as
movimentações bancárias da LILS entraram no radar das autoridades porque
parte dos créditos teve origem em empresas investigadas por corrupção.
Diz o relatório do Coaf: "Dos créditos recebidos na citada conta, R$ 9
851 582,93 foram depositados por empreiteiras envolvidas no esquema
criminoso investigado pela Polícia Federal no âmbito da Operação
Lava-Jato". Seis das maiores empreiteiras do petrolão aparecem como
depositantes na conta da empresa de Lula.
O ex-presidente tem uma longa folha de serviços prestados às
empreiteiras que agora aparecem como contratantes de seus serviços
privados. Com a Odebrecht e a Camargo Corrêa, por exemplo, ele viajava
pela América Latina e pela África em busca de novas frentes de negócios
junto aos governos locais. Outro ponto em comum que sobressai da lista
de pagadores da empresa do petista é o fato de que muitas das empresas
que recorreram a seus serviços foram aquinhoadas durante seu governo com
contratos e financiamentos concedidos por bancos públicos. Uma delas, o
estaleiro Quip, pagou a Lula 378 209 reais por uma "palestra
motivacional". Criada com o objetivo de construir plataformas de
petróleo para a Petrobras, a empresa nasceu de uma sociedade entre
Queiroz Galvão, UTC, Iesa e Camargo Corrêa - todas elas investigadas na
Lava-Jato. No poder, Lula foi o principal patrocinador do projeto, que
recebeu incentivos do governo. Em maio de 2013, ele falou para 5 000
operários durante 29 minutos. Ganhou 13 000 reais por minuto (assista ao
vídeo abaixo).
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