Desgastes do governo com o congresso são atribuídos ao ministro da fazenda, Joaquim Levy
Ministro da Fazenda, Joaquim Levy |
Na iminência de perder o vice-presidente Michel Temer como titular da
articulação política, o governo e o PMDB passaram a atribuir parte dos
recentes desgastes com o Congresso ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Na avaliação do partido e do Palácio do Planalto, Levy está "esticando a
corda" e prejudicando o esforço do Executivo de recuperar alguma
estabilidade no Congresso. Muitos afirmam que o ministro gera o
desgaste, mas, depois, é obrigado pelas circunstâncias a recuar,
arranhando sua credibilidade.
Segundo relatos, três episódios ajudaram a tumultuar a convivência de
ministros políticos com o chefe da equipe econômica. No mais recente, o
titular da Secretaria de Aviação, Eliseu Padilha — no comando da
distribuição de cargos e verbas parlamentares ao lado de Temer — bateu
boca com Levy.
O motivo era a liberação de R$ 500 milhões em emendas, medida
considerada crucial à estratégia de amenizar a rebelião de partidos
aliados.
A Fazenda barrou o repasse. Padilha reagiu: "Não vou recuar na minha
palavra", disse para Levy, em uma discussão tensa que logo repercutiu na
Esplanada.
A confusão reforçou a pressão do PMDB para que Temer abandonasse o posto
de negociador do governo. Motivo: falta de autoridade para exigir que
Levy cumprisse um acordo ratificado pela própria presidente da
República.
A decisão final é que o dinheiro sairá. Mas o estrago já foi feito.
"Levy não pode interferir na competência da SRI (Secretaria de Relações
Institucionais)", disse um ministro petista, referindo-se ao ministério
acumulado por Padilha, responsável por atender às demandas do Congresso
e, assim, viabilizar votações importantes para o governo.
Para o núcleo político da Esplanada, Levy joga errado. Coloca-se contra
propostas do próprio governo, num primeiro momento, mas depois é
obrigado a recuar.
Considerado politicamente inábil no PT e, agora, no PMDB, ministros de
ambos os lados já começam a ironizar o título dado à Levy de avalista da
política econômica, contestando a tese de que o país afundará caso ele
deixe a Fazenda. "Ao menos iremos para o abismo com um fiador", brinca
um ministro.
Em uma reunião recente com o Senado para discutir a Agenda Brasil,
pacote anticrise do PMDB, o ministro ouviu críticas duras. "Levy, o teu
tempo não é o da política. No dia que você conseguir arrumar a casa, a
presidente terá de entregá-la a alguém de fora do governo porque já terá
sido tarde", afirmou o senador Romero Jucá (PMDB-RR), segundo a
reportagem apurou.
Levy tem sido obrigado a recuar em seus embates. Ele até consegue travar
medidas de aumento de gastos em um primeiro momento, mas é sempre
vencido adiante. Foi assim com a redução da meta do superavit primário
(economia para pagar juros da dívida). Ele queria algo próximo a 1,1% do
PIB. O governo rebaixou para 0,15%.
O mesmo ocorreu com a antecipação de metade do 13º dos aposentados. Ele
suspendeu o adiantamento, o que afetaria 32 milhões de pessoas, mas
acabou sendo obrigado a rever sua posição.
Na semana retrasada, ele suspendeu negociações para aumentar o limite de
endividamento dos Estados mesmo depois da presidente ter se
comprometido com governadores. Agora, já fala em ceder. Em todos os
casos, o Planalto amargou desgastes.
Procurado para comentar, Levy disse, por meio de sua assessoria, que também sofre com a falta de dinheiro.
"Apoio o ministro Padilha. Também estou frustrado. Frustrado porque
falta dinheiro e não temos como produzir mais dinheiro, então é preciso
realocar o que existe dentro dos ministérios. Estamos tentando fazer o
máximo com o que temos", disse.
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"O teu tempo não é o da política, Levy. No dia que você conseguir
arrumar a casa, terá de entregá-la a alguém de fora do governo porque já
terá sido tarde"
Romero Jucá
Senador, ao ministro da Fazenda, durante reunião para alinhavar a chamada Agenda Brasil, na segunda-feira (10.ago.2015)
"Não vou recuar na minha palavra"
Eliseu Padilha
Ministro responsável pela distribuição de emendas e cargos, ao ministro Joaquim Levy (Fazenda), na quarta-feira (19.ago.2015)
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