quinta-feira, 13 de agosto de 2015


Saiba como a moeda da China pode afetar a economia brasileira

Os mercados foram tomados de surpresa com a nova política cambial chinesa, ao permitir que a moeda do país fosse determinada pelas forças de mercado. Com o acirrado controle de capitais existente na China, a saída de recursos do país, por canais permitidos ou não, tem pressionado a cotação da moeda chinesa frente ao dólar.
Permitir atualmente que as forças de mercado ditem a cotação da moeda chinesa tende a ajudar a economia daquele país, conferindo maior competitividade aos seus produtos no mercado internacional.

Prédio em formato de moeda de yuan no setor financeiro de Guangzhou, na China

Entretanto alguns pontos merecem destaque:

1. É preciso louvar a atitude do governo chinês que permitiu maior flexibilidade à sua paridade cambial. Aparentemente o governo de Pequim utilizou um momento de pressão vendedora de sua moeda para implantar sua política de maior flexibilização. Acredito que cabe a pergunta: se o inverso ocorresse? Ou seja, se uma pressão compradora da moeda chinesa levaria a China a apostar na flexibilidade cambial que ela tem alardeado nestes últimos dias.

2. Em relação ao nosso comércio bilateral (Brasil-China) a depreciação de apenas 3% nestes últimos dias em pouco — ou quase nada — deve afetar o nível de importações que o Brasil apresenta com aquele país. Dado que o real já se depreciou pelo menos 50% nos últimos 12 meses, uma depreciação da moeda chinesa entre 5% a 10% ainda neste ano pouco tende a afetar o nível de nossas compras por bens chineses.

3. Por outro lado, ao anunciar uma maior flexibilidade cambial permitindo que o yuan se depreciasse 3% em apenas dois dias, o governo chinês acabou enviando um recado claro aos agentes econômicos de que a desaceleração da economia chinesa talvez seja pior do que o esperado. Na realidade, acredito que nos próximos 10 anos o crescimento chinês, na média, dificilmente será maior do que 5 a 5,5%. Ao perceber que a segunda maior economia do mundo crescerá menos do que o esperado, o preço de commodities, principalmente as metálicas, devem continuar com sua tendência de queda. Neste aspecto, a pauta de exportações brasileiras para a China, fortemente concentrada em minério de ferro, soja e petróleo, deve ser impactada negativamente. Se compararmos as exportações de minério de ferro e soja de janeiro a julho de 2014 e no mesmo período de 2015, veremos que apesar de ambas as rubricas caírem em termos monetários 58% e 14%, respectivamente, o volume de soja exportada aumentou, ao passo que no caso do minério, caiu. Ou seja, mesmo com um aumento na quantidade exportada de soja, a queda dos preços de ambas as commodities impactou as exportações brasileiras para a China. No caso do minério foi pior, pois não apenas a quantidade, mas o preço do minério também despencou.

4. Acreditar que esse movimento de maior flexibilidade cambial ditada por Pequim seria parte de uma estratégia para tornar a moeda chinesa uma moeda conversível, é um longo passo. Para moedas se tornarem conversíveis precisam contar com a livre mobilidade de capitais no país, o que não é o caso da China. Considerar que o país asiático abrirá completamente sua conta capital permitindo a livre mobilidade de capitais, condição necessária para que uma moeda seja conversível, seria acreditar que o governo chinês deixará de utilizar seu sistema financeiro como braço parafiscal a fim de garantir o crescimento econômico, evitando assim tensões sociais e garantindo a legitimidade do partido comunista chinês. Expor os bancos locais a uma fuga de capitais, por qualquer motivo, como ocorrido com os países do sudeste asiático em 1997/1998, certamente não seria a melhor receita para a continuidade do crescimento econômico chinês — mesmo com as taxas bem mais reduzidas nos próximos anos.


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