Líderes do PMDB buscam apoio para fortalecer Temer
Líderes do PMDB começaram a trabalhar em várias frentes na última semana
para dar ao vice-presidente Michel Temer condições de governar se o
aprofundamento da crise política em que o governo Dilma Rousseff
mergulhou levar ao afastamento da presidente antes da conclusão do seu
mandato.
Os articuladores desse movimento estão em busca de apoio do empresariado
e começaram a dialogar com líderes da oposição, numa tentativa de
construir um caminho político que aponte Temer como alternativa mais
segura para superar a crise.
Os aliados de Temer admitem que esse movimento ainda não está maduro,
mas acreditam ter colhido uma primeira resposta positiva na quarta-feira
(05.ago.2015), quando as federações estaduais das indústrias de São
Paulo e Rio expressaram publicamente apoio ao vice, um dia depois de ele
fazer um apelo por união para superar a crise.
Um dos responsáveis pela iniciativa, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, é
filiado ao PMDB e comemorou seu aniversário em um almoço com Temer na
sexta-feira (07.ago.2015).
No campo político, tanto petistas que estão no governo como nomes da
oposição apontam o senador Romero Jucá (PMDB-RR) como um dos entusiastas
e artífices da articulação pró-Temer.
Na terça-feira (04.ago.2015), Jucá participou de reunião entre líderes
de PMDB e PSDB. Segundo relatos de três participantes, deixou evidente
que não vê mais saída para a crise com Dilma no Planalto.
Ministros próximos à petista temem que o presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL) também embarque no movimento pró-Temer, o que
poderia enfraquecer ainda mais a presidente.
Políticos que estiveram com Renan na última semana disseram que ele
ainda adota postura muito cautelosa e se diz disposto a colaborar com o
governo, barrando ações da Câmara que ameacem o ajuste fiscal.
Enquanto líderes do Congresso tratam do assunto com reserva, aliados de
Temer fora de Brasília têm assumido atitude mais agressiva. Amigo do
vice, o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) reproduziu nas redes
sociais vídeo que diz que "o impeachment de Dilma Rousseff só depende do
PMDB".
O locutor do vídeo afirma que "o povo" quer que o PMDB escolha entre os
"comparsas petistas" ou "o Brasil". "O PT quebrou o Brasil. O PMDB só
tem uma escolha. Impeachment, já."
Núcleo do PMDB pró-impeachment se organiza
O vídeo circulou em mensagens de celular de peemedebistas que enxergam o governo Dilma Rousseff como uma espécie de Titanic. Seus membros se equipam para defender internamente a tese segundo a qual o desembarque do governo precisa ocorrer logo, antes do encontro de Dilma com um hipotético iceberg.
Chamado de “peça de guerrilha” por um dos integrantes do grupo, o vídeo recupera mensagens que o vice-presidente Michel Temer e o presidente da Câmara Eduardo Cunha gravaram para propaganda exibida pelo PMDB na tevê em fevereiro. Ambos falam da suposta conexão entre o partido e a sociedade. Na nova montagem, as declarações servem de escada para a defesa do impeachment de Dilma, hoje uma presidente apoiada por um contingente de 7,7% a 10% dos brasileiros, dependendo da pesquisa.
Sempre que aborda o assunto publicamente, Temer desautoriza esse tipo de
ação e afirma que trabalha pela governabilidade com Dilma.
"Ele não conspira e não pode parecer que faz isso", diz um aliado. "Ele
precisa ser naturalmente visto pelos políticos, pela sociedade e pelo
empresariado como único agente capaz de reagrupar o país, e a pecha de
conspirador não cabe nesse cenário."
Nesta semana, Temer fez o movimento mais explícito desde o início da crise, ao falar em união nacional.
Ao saber que ministros próximos a Dilma avaliaram que seu gesto
contribuiu para enfraquecer a presidente, Temer disse que poderia
entregar o cargo de articulador político do governo, o que não foi
aceito por Dilma.
No PT, decidiu-se que ele não será atacado publicamente, mas há uma
operação em curso para reduzir o espaço de atuação do vice, estimulando
agentes do PT a também dialogar com deputados da base sobre cargos e
recursos para projetos em seus redutos eleitorais.
No PSDB, a reação ao avanço da operação pró-Temer veio da boca de
aliados do senador Aécio Neves (MG). Os líderes da sigla no Congresso
convocaram a imprensa, sem consultar os colegas de bancada, para indicar
que não aceitarão compor com o vice.
Um risco para o movimento pró-Temer é o avanço da Operação Lava Jato.
Apontado como o elo entre a corrupção na Petrobras e caciques do PMDB, o
lobista Fernando Baiano começou a negociar um acordo de delação.
Aliados de Temer dizem que ele não tem preocupação pessoal com o
assunto, mas acham que o vice pode sair chamuscado se revelações
atingirem a cúpula do PMDB. Renan, Jucá e o presidente da Câmara,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), são investigados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário