sábado, 1 de agosto de 2015


FHC diz que Dilma é 'honrada' e responsabiliza Lula por escândalos

Fernando Henrique Cardoso dá entrevista sobre o
escândalo na Petrobras à revista alemã 'Capital'
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) eximiu a presidente Dilma Rousseff de responsabilidade direta no escândalo de corrupção da Petrobras, que levou o governo à mais grave crise já enfrentada pelo PT desde sua chegada ao Planalto, em 2003.
Em entrevista à revista alemã "Capital", o tucano diz que a petista é "honrada" e que a responsabilidade "política" pela situação atual é do antecessor dela, Luiz Inácio Lula da Silva.
Questionado sobre se via envolvimento de Dilma no caso da Petrobras, FHC disse que "não. Não diretamente". "O partido dela sim, naturalmente. O tesoureiro [João Vaccari Neto] está na cadeia", ressaltou.
"Eu a considero uma pessoa honrada", disse FHC. "Não tenho nenhum ódio na política", concluiu. Já sobre o envolvimento do ex-presidente Lula, o tucano disse não saber "em que medida" se poderia atribuir algo a ele, mas que "politicamente é responsável".
"Os escândalos começaram no governo dele", diz FHC, que lembra durante a entrevista o esquema do mensalão, descoberto em 2005, ainda no primeiro mandato de Lula.
Ao ser questionado sobre o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) por participação no mensalão e citado por delatores da Operação Lava Jato, disse ser "impossível que ele [Lula] não soubesse" da corrupção na Petrobras. "Todos sabiam que havia algo esquisito, mas provar isso é outra coisa", avaliou.
O tucano concedeu a entrevista em seu escritório, em São Paulo, o que indica que as declarações foram dadas há pelo menos três semanas, já que FHC saiu de férias neste período.
As falas, portanto, ocorreram antes de se revelar que interlocutores do petista Lula e do Palácio do Planalto procuraram FHC para estimular uma conversa entre os dois sobre o futuro do governo Dilma.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizou amigos em comum a procurar seu antecessor, o tucano Fernando Henrique Cardoso, e propor uma conversa entre os dois sobre a crise política. O objetivo imediato do movimento é conter as pressões pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Amigos de Lula discutiram separadamente com ele e FHC a possibilidade de um encontro dos dois. Os contatos ocorreram às vésperas de o tucano viajar de férias para a Europa.
Não foi o primeiro aceno de Lula à oposição. Em maio, ele encontrou o senador José Serra (PSDB-SP) na festa de um amigo comum e disse que gostaria de marcar uma conversa reservada. Lula derrotou Serra na eleição de 2002.
A intenção do petista é buscar um conciliador na oposição para tentar dissipar, pelo menos dentro do PSDB, as forças que trabalham pelo impeachment da presidente.
A crise que envolve Dilma aprofundou-se, com o avanço das investigações sobre corrupção na Petrobras, a crise econômica e a rebeldia dos aliados do PT no Congresso.
No PSDB, há dúvidas sobre a conveniência de uma conversa que tenha como tema a governabilidade de Dilma. Mesmo tucanos considerados moderados, que hoje são contra o impeachment, temem que um diálogo com o PT seja visto como conchavo e arranhe a imagem do partido.
O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), que foi derrotado por Dilma na eleição presidencial do ano passado, é visto pelos petistas como um dos principais obstáculos a qualquer tentativa de acerto entre os dois grupos políticos. 
CADEIA
Apesar de atribuir responsabilidade política a Lula nos escândalos de corrupção, FHC diz que é preciso "haver algo concreto" para considerar a possibilidade de uma condenação. "Talvez ele seja convidado a depor como testemunha. Isso já seria desmoralizante o suficiente."
O tucano afirma que uma condenação de Lula "dividiria o país" e diz ressalta que o petista é um "líder popular" com uma história de vida comovente. "Ele é um símbolo e esse símbolo não deve ser destruído, ainda que isso beneficie o meu partido. É preciso ter sempre o futuro do país em mente", sinalizou.


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