Lula e Dilma apostam em movimentos sociais para contrapor ações de oposicionistas
Objetivo é responder aos protestos programados para o próximo domingo
A presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
dão início nesta terça-feira (11.ago.2015) a uma ofensiva para mobilizar
os movimentos sociais como forma de neutralizar a pressão da oposição
contra o governo federal. O PT aposta nos movimentos sociais para
responder aos protestos programados para o próximo domingo
(16.ago.2015), que podem servir de combustível para os grupos políticos
que articulam o impeachment.
Em outro movimento para neutralizar a pressão popular que cresce com a
proximidade do protesto do próximo domingo, Dilma acelerou a agenda de
viagens pelo país. A recomendação para que a presidente saísse do
gabinete em Brasília partiu de Lula. Em quatro dias, ela viajou a
Roraima e Maranhão.
— Muitos companheiros do PT pedem para Lula viajar pelo país. Viajar
pelo país para dizer o quê? Tem de viajar para repercutir o que a
presidenta está falando, liderando, propondo e fazendo — avaliou o
prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, petista dos mais próximos a
Lula.
Na cúpula do partido, a decisão de Dilma de começar a percorrer o país
com anúncio de medidas positivas também foi comemorado. Nas viagens a
Roraima e ao Maranhão, a presidente entrou em unidades do programa
“Minha Casa, Minha Vida”.
Há, no entanto, cobranças e expectativas do PT. Marinho considerou uma
“bobagem” a redução de ministérios como forma de enfrentar a crise e
afirmou que o PMDB já tem muito espaço dentro do governo, enquanto o PT
tem “espaço insuficiente”.
— Para que mais espaço para o PMDB? Ele tem espaço demais. Cuida da
articulação política, Integração, Minas e Energia, Portos. Tem coisa
para caramba. Mas, se a solução for pôr 100% do PMDB, então ponha 100%
do PMDB. Eu sinceramente acho uma visão muito estreita.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva |
MARCHA DAS MARGARIDAS
Em Brasília, nesta terça-feira (11.ago.2015) e na quarta-feira
(12.ago.2015) , Lula e Dilma estarão lado a lado na Marcha das
Margaridas, ato em defesa dos direitos das mulheres organizado pela
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).
A entidade, aliada histórica do PT, estima que cerca de 70 mil mulheres
estarão presentes ao evento. Na abertura, na noite desta terça-feira
(11.ago.20155), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursará
para essa plateia pró-governo no estádio Mané Garrincha, num palco
montado nas arquibancadas. Amanhã, Dilma também deve falar no estádio,
no centro do gramado, e encerrará a marcha, que seguirá em direção à
Esplanada dos Ministérios.
O presidente da Contag, Alberto Broch, acredita que dificilmente Lula deixará de falar da crise política que atinge o governo.
— Dificilmente ele não se manifestará nesse momento — disse Broch, que
que prefere não emitir juízo se a marcha será um contraponto às
manifestações do próximo dia 16 contra o governo, e acha que durante a
marcha haverá atos a favor de Dilma. — É natural que ocorram
manifestações de apoio à presidente. Esse projeto (governo do PT) sempre
teve apoio da Contag, o que não significa dizer amém para tudo que ele
faz. Agora, com certeza ocorrerão (manifestações) em defesa da
democracia e dos direitos conquistados pelos trabalhadores.
Lula não participava da Marcha das Margaridas desde 2007, quando ainda
era presidente. Fazem parte ainda do plano de reaproximação dos petistas
com a base do partido um encontro de Dilma com a CUT, com o MST e com a
UNE, programado para quinta-feira (13.ago.2015), em Brasília, e a ida
de Lula ao ato nacional pela educação organizado pelo partido, também na
capital federal.
“Vamos deixar claro para a presidenta Dilma que vamos lutar para
defender o mandato que ela conquistou legitimamente”, afirma nota
divulgada ontem pela CUT sobre o encontro com a presidente. A central
sindical ligada ao PT informa que partiu dela e dos outros movimentos a
iniciativa de pedir o encontro com Dilma. Diz que o objetivo da reunião é
“reafirmar a disposição de luta em defesa da democracia”.
Além disso, a partir desta terça-feira (11.ago.2015), um grupo ligado ao
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que nos anos 1970 foi presidido por
Lula, vai montar uma vigília na frente do instituto do ex-presidente, na
Zona Sul de São Paulo. A ideia é ficar no local até domingo
(16.ago.2015) para prestar solidariedade ao líder petista e evitar
ataques como o do dia 30 de julho, quando uma bomba caseira foi atirada
contra o local. Na última sexta-feira (07.ago.2015), cerca de 500
petistas já fizeram um ato de apoio ao ex-presidente na frente do
Instituto Lula.
Luiz Marinho diz que Dilma está dando os primeiros passos para tentar reverter a crise.
— A presidenta Dilma aparentemente resolveu tomar as iniciativas de
diálogo com vários segmentos. Espero que isso se restabeleça e que o
partido não tenha mais que fazer esse tipo de reclamação — disse o
prefeito, para quem o governo deve “sair dessa perplexidade e agir”.
Marinho também atacou a política econômica do ministro da Fazenda
Joaquim Levy. Além de defender que o governo adote medidas como as
tomadas por Lula em 2008, para ampliação do crédito e do consumo, ele
criticou a decisão do ministro de apenas liberar estados e municípios
para fazerem convênios internacionais no ano que vem.
— É preciso que o Levy tire o pé da garganta dos municípios e dos estados.
Carina Vitral, presidente da UNE |
UNE — organiza atos por 'legalidade e democracia'
A União Nacional dos Estudantes (UNE), que junto com os movimentos
sociais terá um encontro com a presidente Dilma Rousseff, em Brasília,
prepara uma convocação aos movimentos estudantis para um ato pela
legalidade e pela democracia no dia 20. De acordo com a presidente da
UNE, Carina Vitral, os motes principais serão a defesa da democracia e
as críticas ao ajuste fiscal.
A ideia, segundo Carina, é organizar uma série de outros protestos em
seguida. Aos 26 anos e recém-chegada à presidência da UNE — ela foi
eleita em junho —, a estudante do sexto ano de Economia da PUC de São
Paulo, filiada ao PCdoB, negou que os atos dos estudantes serão de apoio
à presidente Dilma Rousseff, mas uma “resposta a ideias conservadoras”.
— Vai ser uma resposta não a favor ou contra um governo, vai ser uma
resposta contra ideias conservadoras que estão nas ruas. Mais do que uma
passeata contra a presidenta Dilma, o que a gente viu nas passeatas da
direita foram ofensas à figura da mulher. E levantaram a bandeira da
intervenção militar — disse a presidente da UNE. — Reafirmamos uma
posição de apoio à legalidade do mandato da presidenta, mas mantendo a
independência em dizer com o que a gente não concorda. Os melhores
amigos dizem as verdades, não o que se quer ouvir.
— Vão ser atos organizados no Brasil inteiro, com a linha da defesa da
democracia e críticas ao ajuste fiscal. (Haverá) Apoio à legalidade do
mandato da presidenta, apoio à democracia — diz Carina.
Segundo Carina, a ideia do encontro com Dilma na quinta-feira
(13.ago.2015) partiu de movimentos sociais e centrais sindicais,
capitaneados pela UNE e pela própria CUT. Essas entidades acreditam que,
com o agravamento da crise política, a presidente precisa “se apoiar no
povo brasileiro, em setores da sociedade que a elegeram”, e dar uma
“demonstração de força”.
A presidente da UNE fez críticas aos cortes no orçamento da Educação e
disse ser “incoerente” um governo que usa o slogan “Pátria educadora”
cortar verbas da pasta:
— Nós achamos que é incoerente cortar dinheiro da Educação com o slogan
da “Pátria educadora”. E nós sempre dissemos isso. Temos criticado o
corte de verbas na Educação e vamos continuar criticando.
Carina se reuniu pela primeira vez com o ex-presidente Lula há duas
semanas, na sede do Instituto Lula, em São Paulo. Elogiou sua capacidade
de ouvir os líderes estudantis e ouviu o desejo do ex-presidente de
transformar o Plano Nacional de Educação em bandeira política.
Carina criticou ainda o ajuste fiscal e pôs na conta dos ministros do PT
(“que não estão 100%”) as sucessivas derrotas do governo no Congresso,
sob a batuta do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), e o
crescimento do espaço dos peemedebistas no governo.
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