segunda-feira, 10 de agosto de 2015


Lava-Jato não pode ser apenas um 'soluço', sem frutos para o futuro, diz Moro
Para juiz, publicidade do processo é o preço que se paga por viver numa democracia

Juiz Federal Sérgio Moro participa de palestra
no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4)

O juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, defendeu na segunda-feira (10.ago.2015), em palestra em Porto Alegre, a publicidade dada aos processos da Operação Lava-Jato. Segundo ele, a publicidade é uma garantia à sociedade, principalmente em crimes que contra a administração pública. Para Moro, segredo de Justiça só deve existir para garantir a eficácia de uma investigação e evitar exposição da vítima.
— A publicidade do processo é o preço que se paga por se viver em uma democracia. É uma garantia à sociedade, principalmente em casos de crimes contra a administração pública. Esses processos devem estar submetidos ao escrutínio popular — afirmou Moro, que falou no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) em curso promovido pela Escola da Magistratura (Emagis) do tribunal.
A fala de Moro foi uma defesa das informações diárias sobre as investigações. No fim do mês passado, advogados da empreiteira Odebrecht disseram que a Lava-Jato foi transformada num "reality show judiciário".
Na palestra, Moro defendeu mudanças na legislação penal brasileira, para tornar mais efetivo os processos e julgamentos criminais. Para ele, o excessivo número de recursos, que adiam o cumprimento das penas, cria uma cultura de impunidade. Moro disse que o sistema judicial brasileiro se assemelha ao italiano e usou como exemplo a Operação Mãos Limpas, na Itália, lembrando que ela teve um número de investigados bem superior ao da Lava-Jato.
— Cerca de 40% dos crimes acabaram sem julgamento de mérito. Boa parte se perdeu nos labirintos do processo penal italiano — disse.
Moro ressaltou que, nos Estados Unidos, o condenado fica preso, cumprindo a pena, enquanto tramitam e são julgados eventuais recursos. Para ele, nos casos em que a prova é esmagadora, não se justifica o tempo e o custo do processo.
O juiz disse que o Brasil poderia usar o instituto da admissão de culpa, como nos Estados Unidos. O mecanismo, conhecido como transação penal, prevê negociações entre o indiciado e o Ministério Público, evitando a abertura de processo criminal.
— Para a população, o que importa é o efeito final, é saber se a Justiça funciona ou não. Não podemos ter a Operação Lava-Jato como um soluço que não gere frutos para o futuro. São necessárias reformas na legislação que aumentem a efetividade do nosso sistema — disse Moro.
Moro ressaltou que no Brasil existem casos criminais em que a prova incriminatória é esmagadora, "mastodôntica", mas o réu insiste em ir até o fim do processo, "apostando na impunidade”.
— No Brasil, existem casos em que a prova incriminatória é esmagadora, mastodôntica, com a responsabilidade demonstrada, e o réu insiste em ir até o final do processo apostando na impunidade — ponderou Moro. — Vinculamos a presunção de inocência ao trânsito em julgado do processo, e têm homicidas confessos que ficam 10 anos sendo julgados em liberdade.


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