Crise amplia divisão entre caciques do PSDB
O agravamento da crise ampliou as divisões existentes na oposição sobre a
estratégia mais conveniente para lidar com o governo Dilma.
Setores do PSDB que vinham criticando a postura radical de integrantes
da sigla no Congresso em votações de projetos com impacto sobre as
contas públicas ganharam reforço de peso.
O senador José Serra (SP) disse ver com "angústia" as consequências do
desarranjo da base governista e o flerte da oposição com ameaças ao
ajuste fiscal. "O futuro não pode ser vítima de um presente de
irresponsabilidades", disse.
"O volume e a qualidade dos projetos que estão sendo apresentados não
têm efeito apenas sobre o governo Dilma, mas principalmente a médio e
longo prazo", disse. Para o senador, "todos os que têm projeto de poder"
devem levar isso em conta.
Serra só se dispõe a falar sobre os efeitos econômicos do desmonte do
governo no Congresso, mas as discussões dentro de seu partido vão muito
além dessa questão.
O PSDB está dividido sobre os rumos que deve adotar caso Dilma não
consiga concluir o mandato. Se antes já havia divergência sobre o melhor
desfecho, o avanço das articulações que tentam fazer do
vice-presidente, Michel Temer (PMDB), a saída menos traumática para o
país ampliou o descompasso entre os presidenciáveis da sigla.
Presidente nacional do PSDB, o senador Aécio Neves (MG) comandou
operação para sinalizar a Temer e a integrantes do próprio PSDB que uma
composição entre tucanos e Temer, caso Dilma seja afastada, não será
natural.
Com o consentimento dele, os líderes da sigla na Câmara e no Senado
defenderam publicamente a renúncia de Dilma e Temer e a convocação de
novas eleições como saída para a crise.
A ideia era recolocar em pauta o desfecho que Aécio considera ideal: o
de que só alguém legitimado pelo voto pode reorganizar o país.
Além disso, era também uma mensagem contra o flerte de tucanos com
Temer. Serra, por exemplo, vem sendo apontado como nome certo em um
eventual ministério do peemedebista.
As declarações dos aliados de Aécio foram recebidas com surpresa no
partido. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse a um aliado que
a mensagem soou um tom "acima do possível".
HOMENAGEM
O desencontro de reações à operação que tenta viabilizar Temer ficou
ainda mais evidente porque o governador Geraldo Alckmin (SP) patrocinou
uma homenagem ao peemedebista em São Paulo e o saudou como um homem que
trabalha pelo "bem comum", horas após a fala dos aliados de Aécio no
Congresso. Alckmin quer ser candidato a presidente. E só terá chance se o
atual governo chegar até 2018 – com Dilma ou Temer.
A aliados, Aécio disse que o partido sabe das responsabilidades que tem
com o país e reclamou de cobranças que seus aliados recebem. Para ele,
não tem sentido exigir coerência ideológica dos deputados tucanos nas
discussões do ajuste se até petistas têm votado contra o governo.
Na terça-feira (04.ago.2015), o mineiro jantou com líderes do PMDB no
apartamento do colega de bancada Tasso Jereissati (CE). Não houve
consenso sobre o destino de Dilma, mas ficou pactuado que PSDB e PMDB
vão trabalhar no Senado para barrar "excessos" em matérias fiscais.
Procurado, Aécio disse que hoje "várias possibilidades se colocam,
inclusive a de Dilma permanecer no cargo": "O desfecho depende muito
mais da capacidade do governo e das decisões da Justiça do que da
oposição."
A movimentação pró-Temer causou tanto alarde que setores da oposição
passaram a torcer para o TCU (Tribunal de Contas da União) adiar o
julgamento das contas de 2014 de Dilma. Uma condenação na corte abriria
caminho para o impeachment.
Esse cenário, agora, colocaria o PSDB em uma encruzilhada. O partido
jamais se posicionaria contra o afastamento da petista, mas o momento
não é bom para todos. Coincidiria com o período em que Temer ganha
projeção como potencial sucessor de Dilma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário