quinta-feira, 6 de agosto de 2020

domingo, 3 de maio de 2020

Leitos de UTI devem acabar em maio
na maioria dos estados






A maioria dos estados brasileiros deve atingir neste mês a ocupação máxima dos leitos de UTI no Sistema Único de Saúde (SUS) por causa da epidemia do novo coronavírus.
No sistema privado, um número menor chegará ao limite de suas Unidades de Tratamento Intensivo em maio. Até o fim de junho, porém, a maioria dos estados deverá ter os leitos particulares e públicos lotados.
Durante o período de ocupação máxima, a falta de UTIs no sistema público pode atingir cerca de 20 estados e durar, em muitos casos, aproximadamente dois meses.
No sistema particular, com mais leitos proporcionalmente, a carência de vagas será de cerca de um mês.
Em ambos os sistemas, o tempo de internação em UTI de pacientes com a Covid-19 pode chegar a variar de 21 a 35 dias — o que torna a falta de leitos prolongada.
Mantida a tendência atual de ascendência da curva, o Brasil poderá registrar mais de 40 mil infecções diárias após a primeira semana de junho e um déficit de leitos de UTI acima de 20 mil ao final do próximo mês.






Simulador de Leitos Hospitalares (COVID-19) — As projeções foram feitas a partir de ferramenta criada por pesquisadores do Departamento de Engenharia de Produção e do Núcleo de Educação em Saúde Coletiva, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e alimentada regularmente com dados oficiais sobre a evolução da epidemia.
Com base em informações pregressas sobre o total de infecções e parâmetros reais a respeito do número de leitos, sua taxa de ocupação e o tempo médio observado nas internações, o modelo estima em quanto tempo o sistema pode saturar.
A ferramenta leva em conta também o perfil ajustado, por estado, de idosos com 65 anos ou mais e a velocidade média observada da transmissão do vírus, entre outros parâmetros que influem no total de internações.
O modelo faz ainda uma estimativa de preenchimento dos leitos gerais dos hospitais, utilizados por pacientes menos graves. Nesses casos, o risco de colapso do sistema é bem menor.
As infecções já registradas pela ferramenta projetam uma curva futura, cujo "espelhamento" mostra a diminuição dos leitos disponíveis.
As novas informações do dia a dia alimentam o modelo matemático, elevando sua capacidade de previsão ao longo do tempo.
Para consultar e fazer projeções com a ferramenta, os gestores de saúde ou qualquer pessoa podem acessá-la no endereço Simulador de Leitos Hospitalares (COVID-19).






De um modo geral, a expectativa é que a falta de leitos de UTI comece a ocorrer duas semanas antes no SUS do que no sistema privado.
A razão disso é que, além de atender cerca de 75% dos brasileiros, o SUS tem somente 1,4 leito de UTI, em média, para cada 10 mil habitantes. No sistema privado, são 4,9 leitos por 10 mil segurados.
Em alguns estados do Norte e do Nordeste, onde a oferta de leitos públicos é menor, maio será marcado pela ocupação máxima tanto dos leitos do SUS quanto dos privados.
No Sudeste, as vagas de UTI do SUS podem acabar neste mês em São Paulo e no Rio de Janeiro. Essas previsões, no entanto, podem ser alteradas no caso de estados e municípios passarem a integrar leitos privados ao SUS, como a cidade de São Paulo já faz.
No cenário atual, é preciso considerar também que, se por um lado as subnotificações de casos existentes antecipam a chegada do colapso, novos leitos gerais e de UTI dos hospitais de campanha incorporados ao sistema vêm postergando esse momento.
Assim, a data de ruptura dos sistemas de saúde público e privado pode oscilar em relação ao apontado pela ferramenta.
A estimativa também poderá ser alterada dependendo das medidas que forem tomadas em relação ao distanciamento social. Nos últimos dias, observa-se uma diminuição do isolamento, o que tende a acelerar a chegada do colapso.









Como funciona por dentro um quarto de UTI






As unidades de terapia intensiva (UTIs) são consideradas indispensáveis no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus. Ainda que a literatura médica aponte infecções leves ou assintomáticas na maioria dos casos da doença, as UTIs são responsáveis por receber os quadros mais graves da covid-19.
Levantamento recente feito da pandemia no Brasil aponta que cerca de 41,5% das pessoas internadas com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por covid-19 acabaram precisando ser internadas em UTI. Destes, quatro a cada dez pessoas tiveram de usar respirador — situação em que o paciente fica sedado e inconsciente o tempo inteiro.
Médicos que atuam na linha de frente do combate à pandemia já perceberam, ainda, que o período médio de internação por coronavírus supera o de outras doenças e, consequentemente, a rotatividade nos leitos é mais baixa do que o normal. Em meio à aceleração dos casos diagnosticados dia após dia, esse cenário pressiona as redes hospitalares no País, a despeito dos esforço para ampliar, em caráter de urgência, a capacidade de atendimento.

O paciente da UTI — Às unidades intensivas, são destinados a pacientes com quadro de insuficiência respiratória grave e instável por covid-19. Ou seja, aqueles com risco de apresentar piora repentina e, por isso, demandam atenção médica 24 horas por dia. Na UTI, as equipes de saúde devem estar preparadas para intervir imediatamente. Entre os pacientes, há relatos de cansaço extremo ao realizar atividades simples ou até mesmo a sensação de estar se afogando.

Exames — Alguns indicadores são importantes na hora de o médico avaliar se há necessidade de internação, como a taxa de oxigênio no sangue (oximetria), retenção de gás carbônico (capnografia) e o estado dos pulmões (tomografia de tórax). Em casos graves de covid-19, é comum a saturação de oxigênio ficar abaixo de 90% e surgirem lesões pulmonares, chamadas de “vidro fosco”.

Equipamentos — A legislação brasileira lista 39 materiais considerados requisitos mínimos para o funcionamento da UTI. Como o coronavírus é considerado uma doença altamente contagiosa, também há unidades intensivas mais sofisticadas que dispõem de câmaras de pressão negativa para impedir a contaminação do ar. Segundo médicos intensivistas e gestores de hospitais, os equipamentos mais importantes no combate ao coronavírus são:

[1] Cama hospitalar: o ajuste de posição facilita determinados tratamentos; quando equipada com balança também ajuda a pesar o paciente sem deslocá-lo, o que é útil para detectar quadros de desidratação ou retenção de líquido.

[2] Monitor multiparamétrico: mede sinais vitais do paciente em tempo real (frequência respiratória, frequência cardíaca, pressão arterial, saturação de oxigênio, temperatura).

[3] Bomba de infusão: dispositivo eletrônico que aplica de forma contínua fluidos (medicamentos ou nutrientes) previamente programados.

[4] Máscara de nebulização e cateter de alto fluxo: equipamentos não-invasivos que aumentam a oferta de oxigênio; usado em casos menos severos.

[5] Ventilador pulmonar mecânico (respirador): equipamento invasivo para realizar ventilação mecânica; usado em casos mais graves.

[6] Diálise: Procedimento que substitui a função dos rins; médicos intensivistas têm relatado intercorrência de insuficiência renal em até 20% dos pacientes internados por coronavírus.

[7] Desfibrilador e cardioversor: usados para corrigir emergências cardíacas.

[8] Câmara de pressão negativa: sistema que impede o ar “infectado” de sair e contaminar outros ambientes.





Profissionais de saúde — Por precisar de vigilância constante, pacientes são acompanhados por equipes multiprofissionais na UTI, sob coordenação de um médico intensivista. Com o coronavírus, o foco é em especialidades respiratórias, mas profissionais de outras áreas também são acionados para atuar em procedimentos do dia a dia e no tratamento de pessoas com comorbidades ou complicações específicas.
O paciente é acompanhado por uma equipe específica, mas também recebe visitas de médicos plantonistas a cada mudança de turno. Em alguns hospitais, a situação do doente chega a ser checada presencialmente quatro vezes por dia.

Por causa da covid-19, no entanto, há unidades que restringiram a visita a um profissional por equipe para reduzir a exposição ao vírus. Entre os equipamentos de proteção individual, os profissionais devem usar luvas, avental, máscara, óculos e face shield, com protocolos rígidos na hora de se “paramentar” e de retirar as peças.

Equipe multiprofissional (requisito mínimo estabelecido por legislação)

—> Médico diarista/rotineiro: um intensivista para cada dez leitos.

—> Médico plantonista: um para cada dez leitos, em cada turno.

—> Enfermeiros assistenciais: um para cada oito leitos. 

—> Técnico de enfermagem: um para cada dois leitos.

—> Fisioterapeutas: um para cada dez leitos.

—> Auxiliar administrativo: tem de ser exclusivo da unidade de UTI.

—> Funcionário de limpeza: tem de ser exclusivo da unidade de UTI para cada turno.

Tratamento — Embora estudos estejam em andamento, não existe vacina ou tratamento com resultados clinicamente comprovados contra o novo coronavírus. Entre as drogas que estão em teste há hidroxicloroquina, azitromicina (antibiótico para tratamentos de infecções respiratórias) e remdesivir (antiviral usado contra ebola).
Nas unidades intensivas, equipes médicas focam em tentar manter o paciente estável e tratar possíveis complicações — ações que variam de acordo com cada quadro. Levantamento aponta que cerca de 42% das pessoas internadas em UTI acabam precisando de ventilação mecânica para tentar sobreviver.

[A] Métodos não-invasivos — Em alguns casos, o paciente apresenta falta de ar mas ainda consegue respirar por conta própria. Para os quadros menos severos, os médicos utilizam métodos não-invasivos, aumentando a oferta de oxigênio através de máscara de nebulização ou de cateter de alto fluxo. O paciente fica consciente durante o tratamento.

[B] Método invasivo — Já nos casos mais graves, o paciente tem de ser submetido à ventilação mecânica -- ou seja, o respirador é conectado à traqueia do paciente e compensa a falta de atividade dos pulmões. Para isso, a pessoa precisa ser sedada e recebe relaxante muscular. Ela fica inconsciente durante todo o período de entubação.

Alta — Médicos intensivistas relatam que um paciente com coronavírus fica, em média, entre 10 a 14 dias na UTI. Em alguns casos a recuperação é mais rápida, com extubação — ou seja, a retirada do respirador — em três ou quatro dias. No entanto, também há registro de pessoas que chegaram a passar mais de três semanas internadas.
Em geral, ninguém vai direto para casa: após sair da UTI, o paciente é encaminhado para unidade semi-intensiva ou apartamento, antes de receber alta. Para deixar o hospital, os médicos devem estar seguro de que o quadro de saúde estabilizou.
Em internações longas, independentemente da doença, também é comum que o paciente desenvolva outros problemas, como perda de massa muscular. Nos casos mais graves, é necessário fazer fisioterapia para retomar a atividade plena dos músculos.




terça-feira, 31 de março de 2020



Moro ‘não está fazendo nada’ para ajudar



Sérgio Moro - ministro da Justiça e Segurança Pública


A tensão causada pela pandemia do covid-19 tem alimentado vigorosamente a usina de crises do governo Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto. Depois de bater de frente com as recomendações de isolamento do próprio ministro da Saúde, que tem sido elogiado pelo comando na área, o presidente Jair Bolsonaro decidiu, em sua última empreitada, atacar o ministro da Justiça, Sérgio Moro.

No final de semana, Bolsonaro reclamou a interlocutores que Moro é “egoísta” e não está atuando para defender as suas posições contrárias às medidas restritivas dos estados e municípios para controlar a disseminação da doença. O presidente afirmou que o ministro “só pensa nele” e “não está fazendo nada” para ajudar o governo na batalha que trava com os governadores.

Desta vez, Bolsonaro reclama de estar desassistido juridicamente. Moro, achando que “prudência no momento é fundamental”, tem se isentado de abraçar o discurso de Bolsonaro diminuindo a gravidade da pandemia.

O presidente tem tentado, nos últimos dias, elaborar decretos que impeçam governadores e prefeitos de fechar estabelecimentos. Autoridades da Justiça, incluindo ministros do Supremo Tribunal Federal têm reafirmado que tais decretos não poderão ter valor e quando publicados, deverão ser derrubados. Em sua última fala sobre o assunto, Bolsonaro afirmou que pretende publicar um decreto para “liberar toda e qualquer profissão” a trabalhar. Auxiliares jurídicos têm alertado o presidente que as decisões podem acarretar uma série de ações judiciais questionando as medidas e tentado convencê-lo que chegar a um consenso com governadores e prefeitos é mais eficaz.

Para Bolsonaro, Moro deveria ajudar o governo na disputa jurídica. Em sua concepção, o ministro, ao não buscar auxiliar o governo fora dos temas diretamente relacionados à sua pasta, atua somente no que lhe dá capital político.

Antes, Moro era um dos pilares da popularidade do presidente, agora, recebe alfinetadas. Em grupos de WhatsApp bolsonaristas já circula uma montagem que mostra o ministro da Justiça em três fotos. Na primeira, Moro está com uma máscara na boca, na segunda, nos olhos, e na terceira, duas máscaras tapam os ouvidos do ministro.









domingo, 29 de março de 2020


Covid-19 no Brasil —> em 28.mar.2020



Projeção —> nova forma de se manifestar



O produtor de VJ Spencer, um dos criadores do Projetemos, diante de imagem do grupo


Em tempos de pandemia e confinamento, um novo tipo de protesto passou a acompanhar os panelaços contra o governo Jair Bolsonaro. Projeções feitas em paredões de prédios dão voz às pessoas que, dentro de casa, acham que bater panela é pouco para manifestar indignação política ou alertar sobre os cuidados recomendados contra o coronavírus.
Em menos de 24 horas, a iniciativa de um produtor de vídeo e de uma cientista política, ambos moradores de São Paulo, ganhou o País. Pelas redes, o Projetemos, que hoje virou um grupo com mais de 150 pessoas, debate diariamente a pauta das mensagens e compartilha arquivo único para projeção, mesmo que de forma caseira, e dicas para obter o melhor resultado.
De acordo com o VJ Felipe Spencer, um dos criadores do grupo, basta baixar as imagens no computador, conectá-lo a qualquer projetor e apontar para uma parede vizinha. As exposições são informais, ou seja, sem autorização de condomínios ou das prefeituras — na capital paulista, a Lei Cidade Limpa proíbe esse tipo de ação.
“Nossa intenção é conscientizar as pessoas sobre a situação que estamos vivendo, destacar a posição dos especialistas da área médica e protestar contra a postura do governo diante da pandemia.”
Na semana passada, as projeções se tornaram coletivas, diárias (sempre às 20h) e com duas horas, em média, de duração. Nesse período, as mensagens são trocadas, alternando dicas de saúde com críticas políticas. Salvador, Recife, Rio, Belo Horizonte e Brasília são algumas das cidades que já registraram ações do Projetemos.
O grupo faz contato, quando possível, com especialistas para chegar às frases ideais.
Os participantes também tomaram partido na polarização mais recente da política brasileira: a necessidade de isolamento social para combater a pandemia, defendida por governadores e negada pelo presidente Jair Bolsonaro. Nas paredes dos prédios, mensagens como “Ei, mano, fica em casa” fizeram defesa do distanciamento emergencial.



Projeção em prédio da Vila Madalena, em São Paulo


Empatia —> Mas nem tudo é protesto. Brunna Rosa, que trabalha como estrategista de redes sociais, diz que o objetivo é também focar na formação de uma rede de afeto. Ela destaca as mensagens otimistas projetadas em todo o Brasil, como “Vai dar tudo certo” ou “Vai passar, fiquem vivos para ver.”
“As nossas projeções são coletivas desde o dia 21.mar.2020. Foi fantástico nesse dia ver uma enorme rede de solidariedade e informação se formando”, disse Brunna. “E depois todo mundo manda foto dos bastidores. Tem gente que coloca o projetor em cima de uma tábua de passar roupa, na pia da cozinha, adaptado num banquinho. Todo mundo pode dar um jeito de usar a arte para quebrar barreiras.”
A repercussão ganhou as redes e o grupo começa hoje a ensinar a distância como dar seu recado. Uma live destinada a jovens da Rocinha, uma das maiores favelas do Rio de Janeiro, oferece uma introdução à projeção mapeada. “Mesmo quando essa pandemia passar vamos continuar com as mensagens. Sempre há o que reivindicar”, diz Spencer.




Primeiro Comando da Capital (PCC) quer usar coronavírus para libertação de presos em São Paulo



O Primeiro Comando da Capital (PCC) determinou que seu departamento jurídico — a chamada sintonia dos gravatas — procure, em razão da pandemia de covid-19, integrantes no Estado Paulista que tenham HIV, sejam diabéticos, tuberculosos ou tenham doenças cardíacas respiratórias e imunodepressoras. Os advogados devem pedir prisão domiciliar para esses detentos, não importando os crimes que eles praticaram.
O documento — um salve da cúpula da facção — foi interceptado pela inteligência da polícia de São Paulo no sábado, 28.mar.2020. A organização criminosa ainda orientou seus advogados — os gravatas — a pedir regime domiciliar para gestantes e lactantes e para os presos que cometeram crimes sem violência. Por fim, a facção quer a substituição das prisões temporárias por tornozeleiras eletrônicas e a progressão adiantada da pena para quem já cumpriu a maior parte do que era previsto em regime fechado.
O documento é a primeira manifestação da facção desde o começo da pandemia. Há duas semanas, 1,3 mil detentos fugiram de quatro presídios de regime semiaberto depois que a Justiça proibiu a saída temporária deles na Páscoa.  O Ministério Público Estadual (MPE) acredita que a facção deve inundar as varas de execuções criminais do Estado Paulista com pedidos de libertação.
Em São Paulo, a Justiça também limitou o número de visitas para cada preso a uma única pessoa como forma de controlar a disseminação da covid-19. Por enquanto, a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) não constatou nenhum caso da doença entre os 230 mil presos do Estado — há somente casos suspeitos. Já entre os funcionários há um agente na Praia Grande, no litoral paulista, que foi diagnosticado com o novo coronavírus.



Fumaça sobre o Centro de Progressão Penitenciária (CPP) de Tremembé,
no interior paulista, onde presos incendiaram objetos na noite de 16.mar.2020


Libertação em massa —> Em São José dos Campos, no Vale do Paraíba, a juíza Sueli Zeirak decidiu soltar 61 presos do Centro de Detenção Provisória (CDP) de Tremembé. A decisão foi tomada na sexta-feira, 27.mar.2020, com base em um pedido feito pela Defensoria Pública. Além do CDP de Tremembé, a juíza é responsável pelas penitenciárias de Potim 1 e 2, Caraguatatuba e São José do Campos. Entre os presos soltos, estão 29 traficantes de drogas, 8 assaltantes, 5 homicidas, 5 estelionatários, 4 furtadores, 4 receptadores e 6 detentos presos por outros crimes.
O perfil dos libertados mostra que 19 tinham 60 anos ou mais — o mais velho deles tinha 83 anos e havia sido condenado a seis anos de prisão por homicídio. Havia ainda entre os soltos 17 detentos entre 40 e 59 anos, 15 com 30 a 39 anos e, por fim, dez com menos de 30 anos. Quanto às doenças que mais motivaram a libertação estão a hipertensão (19 casos), tuberculose (8 casos), bronquite (6), HIV (56) e diabetes (5). Mas há entre os soltos até um preso que alegava ter enxaqueca. Trata-se de um traficante de drogas condenado a sete anos de prisão e que tem 61 anos.






Em entrevista: o vice-presidente, general Hamilton Mourão



O vice-presidente, general Hamilton Mourão


Hamilton Mourão, 66 anos, general quatro estrelas da reserva, formou-se na Academia Militar das Agulhas Negras. Cumpriu missão de paz em Angola, atuou como adido militar na Embaixada do Brasil na Venezuela e foi comandante militar do Sul. Em 2018, filiou-se ao PRTB e ingressou na carreira política.
O vice-presidente, general Hamilton Mourão, diz que é hora de as autoridades deixarem o individualismo de lado no combate ao coronavírus no Brasil e defende um consenso frente à pandemia.
"O fulano está pensando só nisso porque é de direita e o outro só aquilo porque é de esquerda. Não, nós temos de buscar um meio-termo e a igualdade", disse.
"Acho que está havendo uma falta de coordenação das ações no final", declarou sobre a crise entre os governadores e o presidente Jair Bolsonaro.
O general concedeu entrevista em seu gabinete no Palácio do Planalto na sexta-feira (27.mar.2020). Segundo ele, é preciso encontrar um modelo de isolamento que não seja "oito ou oitenta".
Questionado sobre a decisão de Bolsonaro de não mostrar o exame negativo para o vírus, respondeu: "Acho que tem de confiar na palavra do presidente. Seria o pior dos mundos o presidente chegar e declarar que testou e deu negativo e depois aparecer que deu positivo".

O coronavírus é uma doença séria ou uma gripezinha?
Ele [o vírus] é sério. O presidente, quando fala de gripezinha, é o linguajar dele. Busca passar certo grau de confiança para a população. Aí a turma fica com raiva e quer pular na jugular dele.

O senhor falou que o presidente foi mal interpretado no pronunciamento de terça-feira (24.mar.2020). Ele não é irresponsável em falar em gripezinha, resfriadinho, pedir todos na rua, atacar a mídia?
Sobre a questão da briga do presidente com a mídia e da mídia com o presidente, já houve um momento em que deixou de haver a crítica, sinceramente. Às vezes, vejo jornalistas renomados falando, principalmente na televisão, com raiva. Pelo amor de Deus, não vamos ter raiva.

Como o senhor avalia o papel da mídia na cobertura da pandemia?
A mídia está fazendo o papel dela e está informando.

Por que o senhor diz que o presidente foi mal interpretado?
Porque ele quis explicar as consequências de um "lockdown" drástico e o que ia acontecer na economia. Então apresentou aquela preocupação.

O presidente não deveria ser mais cuidadoso em suas falas?
O presidente tem o jeito dele. Sou vice-presidente do Jair Bolsonaro. Ando na ala dele. Não estou aqui para dizer: "Presidente, muda seu jeito de ser". Não adianta. Ele tem 65 anos.

Bolsonaro foi questionado sobre a avaliação feita pelo senhor do pronunciamento e respondeu que o presidente é ele. O senhor se incomodou?
Em absoluto, ele é o presidente. Falo isso para ele sempre.

O pronunciamento foi discutido com os filhos do presidente. Não incomoda à ala militar a participação deles em reuniões no Planalto sobre a crise? O Carlos é vereador, não tem nenhuma atribuição federal.
É uma família unida, que atravessou problemas ao longo de sua evolução do núcleo familiar e o presidente tem muita confiança nas opiniões deles.

Mas o Carlos sentou à mesa de reunião ...
Sentou, mas não abriu a boca. Ele sabe também que não vai abrir a boca porque não tem nenhum papel no governo.

Como tem se protegido contra a doença? Chegou a realizar o teste?
Não fiz o teste porque não tenho sintoma. Estou cumprindo o protocolo do Ministério da Saúde: se tem algum sintoma, faz o teste. Não vou gastar teste comigo se não tenho sintoma.

O presidente não deveria, como fizeram outras autoridades, mostrar o teste dele que diz ter dado negativo, já que é informação de interesse nacional?
Acho que tem de confiar na palavra do presidente. Porque aí seria uma coisa muito, vamos dizer assim, acho que seria o pior dos mundos o presidente chegar e declarar que testou e deu negativo e depois de alguma maneira aparecer o teste dizendo que deu positivo. Isso aí, para mim, seria o pior dos mundos.
Parto do princípio, e isso é uma coisa que é muito cara para nós que viemos do meio militar, a questão que sua palavra tem fé de ofício. A gente só trabalha no meio militar assim. Se eu falei A, é porque é A. A partir do momento em que vou estabelecer uma desconfiança com o subordinado ou com um superior, morre o relacionamento. Acho que, se o presidente disse que deu negativo, OK. Deu negativo.

O senhor mostraria se estivesse no lugar dele?
Acho que é inócuo. A minha palavra vale.



O vice-presidente, general Hamilton Mourão, em seu gabinete, Brasília-DF


A crise criou um tensionamento maior na relação entre Executivo e Legislativo, pedidos de impeachment. O governo passa pelo seu pior momento?
O relacionamento sempre se pautou de forma distinta de governos anteriores. O governo nunca construiu base. Então tem havido essa rusga e fricção. Aí é óbvio que, agora, nessa questão do coronavírus, todo mundo quer ter seu protagonismo e apresentar-se como "bom, eu fui o cara que contribuí para a solução". Aí, tem de deixar um pouco o individualismo de lado e buscar mais uma vez construir o consenso.

O governo lançou uma campanha publicitária "O Brasil não pode parar". O senhor concorda?
Concordo que o Brasil não pode parar. Talvez agora chegue o momento de, em uma conversa entre a área técnica da medicina e a econômica, buscar posição onde determinadas atividades possam de forma progressiva retomar. Temos um temor de que muita gente desempregada e subempregada de uma hora para a outra fique sem recurso.

Não chegamos ainda ao pico da doença. Neste momento o que é mais importante: proteger a população ou não prejudicar a atividade econômica?
A questão está mal colocada porque está muito no oito ou oitenta. Não é oito ou oitenta. Uma coisa é certa: temos de proteger a população. Em nenhum momento o governo deixou de destacar isso. Mas é óbvio que as características do Brasil são diferentes das de outros países. E isso não pode ser discutido com paixão política. Esse é o problema. O fulano está pensando só nisso porque é de direita e o outro só aquilo porque é de esquerda. Nós temos de buscar um meio-termo e a igualdade.

A paixão política está nos dois lados, não? Como o senhor viu na discussão do presidente com o governador João Doria (São Paulo). Essa paixão também não tem que ser reduzida pelo próprio presidente?
O presidente é atacado duramente. É um conjunto do sistema político dentro do país onde todo mundo coloca que ele está totalmente errado e é um tosco. Não é isso. Ele tem a visão dele e se expressa, vamos colocar assim, de forma clara.

Por que o senhor balançou a cabeça em sinal negativo durante o bate-boca entre Bolsonaro e Doria?
Eu considerei que era totalmente inoportuna aquela discussão. Considerei inoportuno o governador se aproveitar ali para fazer crítica ao presidente. Critica abertamente pela imprensa, mas naquele momento, frente a frente, ele sabia que haveria uma reação. É óbvio que o presidente reage da maneira que ele sabe fazer.

Esse clima de beligerância está prejudicando o enfrentamento da doença?
Acho que está havendo uma falta de coordenação das ações no final. Vamos lembrar que somos uma federação. Aquilo que é do município é do município. Se extrapola o município, aí é do estado. Se extrapola do estado, é da União. Nossos governadores têm de entender os limites e buscar uma coordenação com o governo federal.

Pela sua experiência na área militar, qual é a melhor forma de combater a pandemia?
São três coisas. Primeiro, tem de ter planejamento centralizado e determinar objetivos. E, a partir daí, na execução, ter clareza para todo mundo entender o que está sendo feito. Um trabalho de coordenação é paciente. Numa estrutura militar, dou ordem e a turma obedece. Em uma estrutura política, isso não funciona desse jeito. A coordenação é muito mais no sistema do consenso, na busca do entendimento e na busca dos melhores propósitos.

Após recomendação do Ministério da Saúde, as pessoas se fecharam em casa. O presidente depois adotou o discurso defendendo apenas o isolamento do grupo de risco. O senhor é a favor disso?
A questão do isolamento vertical tem uma lógica no momento em que se busca que as atividades econômicas voltem a funcionar. É óbvio que não é simples em um país das dimensões do Brasil, cinco países em um. Volta e meia vejo a turma comparar com a Holanda. Se somar Alagoas e Sergipe, dá uma Holanda. São países pequenos, com populações distintas.

O presidente defende a abertura das escolas. As crianças vão para as escolas, voltam para casa, circulam na rua. Não é arriscado neste momento abri-las?
Em áreas pobres, as crianças que vão à escola estão concentradas em casa e não têm acesso à alimentação que tinham na escola.

Não se corre o risco de errar como na Itália, de fazer uma abertura e depois se arrepender?
A Itália é diferente. A epidemia começou no norte do país. Ali, eles tinham uma ligação direta com a China. Comparar com a Itália é meio complicado.

O Governo de São Paulo afirmou que o confinamento tem segurado a curva de contágio. Não é uma contradição com o discurso de Bolsonaro?
Passaram os 15 dias de confinamento, vamos reavaliar. Acho que é isso que tem de ser feito. Onde está concentrada a epidemia? Os outros que não estão tendo problema vamos deixar circular. Agora, pega cidades de 80 mil ou 100 mil habitantes. Basta impedir aglomeração. Não vai ter festa e baile.

Mas pequenas cidades têm muitas igrejas. O presidente liberou cultos. Não vai na contramão do desestímulo à aglomeração?
Vai da sensibilidade de cada pessoa. Está liberada a igreja, mas preciso ir?

Os especialistas veem o isolamento social como principal medida. Não é ruim para a imagem do Brasil ir na contramão?
A gente não sabe ainda como o vírus vai se comportar em um clima quente como o do Brasil. O ministério disse que vamos conviver com três epidemias. Todo ano temos o problema da gripe, que mata velhinhos direto, e o da dengue. E ainda tem o coronavírus por fora. Quais mortes serão atribuídas ao coronavírus? Caso da senhora que faleceu em Goiás, era cardiopata, diabética, tinha insuficiência respiratória aguda, tinha tido dengue e ela morreu de coronavírus?

Sim, o coronavírus potencializa.
A pessoa que tem problema cardíaco tem problema respiratório, e o coronavírus é síndrome respiratória grave e ataca o pulmão de forma diferente da gripe.

A sensação é de que o governo está tentando transferir responsabilidade aos governadores e à mídia pela falta de eficiência na economia.
O governo já colocou o pacote de R$ 147 bilhões. Tem esse de mais R$ 88 bilhões para estados e municípios. Está votado os famosos R$ 600 para os autônomos.

Estamos chegando no dia 31 de março, data importante para as Forças Armadas. O senhor mesmo se envolveu em polêmicas sobre isso. Que mensagem deveria ser passada na data do golpe de 1964 em meio a essa crise?
É um fato histórico, que pertence à história do Brasil e lá vai ficar. Não pode ser apagado com borracha. Então, eu acho que isso aí fica na história. E, em tempos de coronavírus, passará em branco.

A crise pode afetar a questão amazônica?
Lógico, cadê o recurso? Está todo voltado para o coronavírus. Temos de nos preparar, porque vai terminar o coronavírus. Aí, quando acordar, está lá o problema na Amazônia.






Representantes das Forças Armadas têm realizado encontros em Brasília para discutir cenários sobre afastamento do presidente



Hamilton Mourão e Jair Bolsonaro


A cúpula das Forças Armadas acendeu um sinal de alerta nos últimos dias diante das reações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) à crise do novo coronavírus. Nesta semana, representantes da Aeronáutica, Exército e Marinha sinalizaram ao até então nem tão bem-quisto vice-presidente, general Hamilton Mourão (PRTB), que poderia contar com o apoio deles, caso o ocupante do Palácio do Planalto deixasse o cargo por meio de um impeachment ou renúncia.

Apesar de o debate ter se intensificado desde que a crise sanitária se agravou, as chances de que Bolsonaro saia da presidência são remotíssimas. Em mais de uma ocasião ele disse indiretamente que não deixaria o cargo. “Nunca abandonarei o povo brasileiro, para o qual devo lealdade absoluta!”, afirmou em seu Twitter. E o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), responsável por dar o ponta pé inicial a um eventual processo de impeachment, declarou nesta semana que o assunto não está na pauta do Congresso, por ora.
Ainda assim, os militares têm feito seguidas reuniões em Brasília, inclusive com aliados de Bolsonaro e membros civis de seu primeiro escalão. Nesta semana, ao menos dois encontros ocorreram. Neles foram debatidos cenários hipotéticos para o médio e longo prazo.

Dois participantes dessas reuniões relataram que o grupo está preocupado com um possível aumento repentino de registros e mortes provocadas pela doença e que isso seja vinculado ao discurso negacionista feito por Bolsonaro sobre a gravidade da Covid-19. Ressaltaram que, quando o mandatário sugere o fim das quarentenas e dos isolamentos sociais decretados por governadores e prefeitos, pode soar insensível.

Nesse cenário, avaliam que a popularidade do presidente poderia despencar e que fosse colada nele a pecha de um fracassado líder que prefere alavancar a economia do que salvar vidas. “É um discurso de que estamos em guerra. Mas quem está na linha de frente da guerra é um soldado que sabe que pode morrer. Em uma pandemia, não podemos colocar todos na mesma situação que os soldados”, afirmou, em caráter reservado, um dos membros do grupo. Responsável por atrair a maçonaria à campanha de Bolsonaro, o vice-presidente já garantiu o apoio dela caso tenha de assumir o Planalto.

Na terça-feira (24.mar.2020), o comandante do Exército, o general Edson Leal Pujol, tratou de vacinar as forças de qualquer responsabilidade sobre a crise. Na contramão do defendido pelo presidente, declarou que os militares devem, sim, se preocupar com a Covid-19 e disse que o combate à disseminação da doença “talvez seja a missão mais importante de nossa geração”.

Tem circulado em Brasília também a tese de que o presidente poderia dar uma cartada extrema e decretar um estado de sítio ou de defesa – ambos dependem de aprovação do Congresso Nacional, onde ele não tem maioria – e criam uma série de restrições de liberdade, de comunicação e a suspensão de garantias constitucionais. São atos radicais, mas que podem ser usados politicamente com base no discurso voltado para os seus, de que ele tenta “salvar o Brasil”, mas a velha política não o ajuda.

Oficialmente, o presidente nega que decretará estado de sítio ou de defesa sob a justificativa de que causaria uma sensação de pânico no país. “Acho que estaríamos avançando, dando uma sinalização de pânico para a população”, disse em entrevista coletiva na semana passada. Nas entrelinhas, porém, manda recados. Na sexta-feira (27.mar.2020), em entrevista ao jornalista José Luiz Datena, da TV Band, ele foi indagado se pretendia dar um golpe e fechar o país. A resposta: “Quem quer dar o golpe jamais vai falar que quer dar”.

Principalmente por essas sinalizações, os militares se aproximaram do vice-presidente. Entre os fardados, o próprio Mourão está longe de ser uma unanimidade. No meio militar, ele passou as ser visto como um radical quando, em 2015, sugeriu que as Forças Armadas poderiam fazer uma intervenção. Na ocasião, a presidenta Dilma Rousseff (PT) estava em crise e a Lava Jato começava a revelar escândalos de corrupção em série. No campo político, Mourão era a quinta opção de Bolsonaro para compor sua chapa. Foi escolhido de última hora, diante das negativas de outros políticos, dos partidos deles ou por desconfiança do próprio presidente.

Entre a família Bolsonaro, Mourão também não é bem visto. Seu principal inimigo entre o clã é o vereador pelo Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (PSC). Logo no início da gestão, ele passou a receber embaixadores estrangeiros para mostrar que o Brasil não se fecharia para o mundo. Também foi o principal articulador da aproximação com a China, principal parceira comercial do Brasil. A partir de então, passou a ser visto como uma voz moderada em um governo de ultras. Entre o núcleo ideológico do governo, a aproximação com a China foi interpretado como uma traição ao presidente, que queria se afastar comunistas. Na prática, a ideologia foi colocada de lado e o comércio entre as duas nações foi mantido a pleno vapor.

Mourão foi colocado de lado. Atuou em poucos momentos-chaves, como na crise da Venezuela, quando se discutia se o Brasil apoiaria ou não uma intervenção militar para apoiar Juan Guaidó no embate com o presidente Nicolas Maduro e, mais recentemente, passou a coordenar o Conselho Amazônia, um colegiado recriado após a crise dos incêndios florestais.

Nesta semana, o vice voltou a emergir quando contrariou o seu chefe e disse que ele havia sido mal interpretado ao defender em um pronunciamento à nação que o país deveria priorizar a economia. “Pode ser que ele (Bolsonaro) tenha se expressado de uma forma, digamos assim, que não foi a melhor, mas o que ele buscou colocar é a preocupação que todos nós temos com a segunda onda como se chama nesta questão do coronavírus”.

Bolsonaro reagiu na sexta (27.mar.2020). Na entrevista à Band, disse que Mourão se sentia à vontade para se pronunciar por ser “indemissível”. “Com todo o respeito ao Mourão, ele é muito mais tosco do que eu. Não é porque é gaúcho, não. Alguns falam que eu sou até muito cordial perto do Mourão. Ele é o único que não é demissível no Governo, então pode ficar à vontade”.

Soma-se ainda a esse contexto, a aposta de Bolsonaro em confrontar governadores e se isolar politicamente e a ouvir panelaços contrários ao seu governo há dez dias seguidos nas principais cidades do país. Nesta semana, ele perdeu o apoio de um aliado de primeira hora, o governador goiano Ronaldo Caiado (DEM). Mas o xadrez político está distante de estar definido. Depois da pressão do presidente, três governadores autorizaram a abertura parcial do comércio em seus Estados: Rondônia, Santa Catarina e Mato Grosso. Os dois primeiros Marcos Rocha e Carlos Moisés são filiados ao PSL, antigo partido do presidente e eleitos na onda conservadora das eleições de 2018. Já o mato-grossense Mauro Mendes é emparedado pelo setor agrícola, mola propulsora da economia local. Os próximos movimentos no planalto central ainda dependerão mais da questão sanitária do que dos discursos de um lado ou de outro.




quinta-feira, 26 de março de 2020



Brasil adota terapia complementar a casos graves de Covid-19





O Ministério da Saúde anunciou que vai começar a aplicar cloroquina e hidroxicloroquina em casos graves de covid-19 no Brasil. O tratamento será específico de curto prazo para oferecer "alguma alternativa" para os doentes.

O Ministério da Saúde considera o "protocolo específico de cinco dias de tratamento" com cloroquina e hidroxicloroquina a melhor opção "para tratar pacientes hospitalizados" de Covid-19.

A Pasta admitiu que ainda estão sendo concluídos os testes em humanos, mas que o Ministério considera o protocolo de curto prazo a melhor opção para tratar os doentes do Covid-19 pelas pesquisas feitas no Brasil.

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que os medicamentos não devem ser utilizados de forma irresponsável em casa. "Usar esse medicamento fora do ambiente hospitalar não é seguro. Deve ser feito em condições de segurança e com acompanhamento médico", disse.

Segundo o ministro Mandetta, "hoje, o Brasil detém competência e capacidade de produzir o medicamento em larga escala" e que o Ministério passará a distribuir para os estados 3,4 milhões de unidades do medicamento.




terça-feira, 10 de março de 2020

segunda-feira, 9 de março de 2020



Planalto teme risco de nova recessão




As notícias de que há risco de a economia desandar e o receio de que manifestações do próximo domingo (15.mar.2020) sejam esvaziadas levaram o presidente Jair Bolsonaro a, mais uma vez, defender os atos programados para 15 de março. As falas do presidente, de que está com “uma faca no pescoço”, e do general Augusto Heleno, de que há uma “resistência muito grande ao Brasil estar dando certo” e de que há uma “rede de corrupção”, foram vistas por analistas como uma “vacina” diante do que está por vir ––  um cenário em que a economia mundial pode caminhar para uma recessão devido aos impactos do novo coronavírus levando o Brasil junto e, consequentemente, derrubando os preços dos ativos.
As declarações foram feitas em Boa Vista, numa escala do voo presidencial em Roraima, antes de seguir para os Estados Unidos, onde Bolsonaro cumpre intensa agenda. O presidente defendeu os atos, dizendo que não são contra o Congresso e nem contra o Judiciário, mas, sim, pró-Brasil. Acrescentou que quem tem medo de rua não serve para ser político. Criticou “pessoas” que não pensam no Brasil, só nelas. Entretanto, não deu nomes. A fala fez aumentar a tensão entre os poderes, porque, nas redes sociais, muitos apoiadores se referem ao movimento de 15 de março como algo contra o Legislativo e contra o Judiciário.

Reações –– Os congressistas, porém, não pensam em colocar mais combustível no tanque da crise política. A expectativa é de que reações políticas contra o governo virão apenas depois de 15 de março. Os congressistas querem esperar para ver o tamanho da manifestação e como a economia e os investidores se comportam. Até aqui, o chamamento aos atos de rua ao longo de 2019 gerou mais instabilidade por colocar gasolina no reservatório da crise econômica. O PIB do ano passado cresceu 1,1%, taxa menor do que a de 2018 e de 2017, ambas de 1,3%.
O prometido investimento não veio em larga escala, como previa o governo assim que assumiu. Ao contrário, está deixando o Brasil. O encontro entre os presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump, neste final de semana, é visto com esperança para tentar segurar os números e animar o mercado por aqui. Mas, entre os investidores, há a certeza de que a calmaria da política seria a saída para evitar dias piores. Até aqui, esse céu de brigadeiro não veio.
As estimativas de crescimento da economia neste ano continuam sendo revisadas para baixo e alguns analistas já começam a falar em retração do PIB do primeiro trimestre. O maior banco privado do país, o Itaú Unibanco, por exemplo, reduziu de 2,2% para 1,8% a expectativa de crescimento da economia em 2020 e elevou as apostas para novos cortes na taxa de juros básica, a Selic, para 3,75% até o fim do ano, como forma de o Banco Central (BC) dar mais estímulo à economia.
Interlocutores do presidente do BC, Roberto Campos Neto, contam que têm notado uma inquietação nada habitual nele, que está encurralado entre o dilema da necessidade de cortar juros e de intervir no mercado para conter a forte alta do dólar. O real tem apanhando e acumulado forte desvalorização neste ano diante do dólar, que está cada vez mais perto de R$ 5, cotação proibitiva até para patroa poder continuar indo à Disney –– conforme ironizam economistas sobre as palavras de Paulo Guedes.
No entanto, analistas estrangeiros têm feito projeções piores do que as do Itaú para o Brasil, com alta de 1,3% neste ano, como é o caso da britânica Capital Economics, que já prevê uma desaceleração da China, onde o foco do coronavírus começou, de 5% para 2%. Se essa projeção se confirmar, será um baque e tanto na economia global.
Analistas estrangeiros têm dito que o mundo caminha para uma recessão e o Brasil pode repetir o desastre do governo de Dilma Roussef. Uma recessão seria dramática para os interesses do governo.
A expectativa é de que, nesta semana, as novas projeções já falem sobre uma recessão.






Crescimento medíocre desfez o encanto em torno da infalibilidade de Paulo Guedes



Jair Bolsonaro e Paulo Guedes - economia em crise


Desde a campanha eleitoral, a equipe econômica, comandada por Paulo Guedes, era considerada um dos maiores ativos que Jair Bolsonaro tinha a oferecer como garantia de qualidade para o seu governo. Pouco mais de um ano depois, o governo Bolsonaro entregou um crescimento pífio para o PIB de 2019 (1,1%), a cotação do dólar está na estratosfera (R$ 4,63) e os efeitos do novo coronavírus sobre a economia do mundo têm derretido a Bolsa de Valores (perdeu a marca dos 100 mil pontos) e ameaçam o desempenho do Brasil em 2020.
Nesse período tão curto, o antes inquestionável Paulo Guedes passou a conviver com críticas ao seu desempenho à frente do Ministério da Economia e, em rodas de empresários governistas foi deflagrado o debate se a estratégia adotada pelo ministro é a melhor para garantir a retomada do crescimento.
Um cenário como esse era inimaginável, mas é fruto de uma conjunção simultânea de uma série de problemas que afetam o País. O primeiro ponto é que a economia brasileira não saiu do lugar em 2019. Pior: o crescimento do PIB do primeiro ano de governo Bolsonaro foi inferior aos dois anos anteriores (do governo de Michel Temer).
Num governo tão ideológico quanto o de Bolsonaro, ser comparado em condição de inferioridade com uma administração tão desgastada quanto a de Temer é o equivalente a perder a disputa de um título no futebol. Além disso, como as expectativas pela chegada de Guedes e sua política “realmente liberal” foram colocadas nas alturas, um resultado de crescimento medíocre desfez o encanto em torno da infalibilidade do ministro.
Até porque os próprios governistas alimentaram previsões superotimistas em relação ao crescimento de 2019, calculando em pelo menos 2,5% a aposta para o PIB do primeiro ano. É verdade que essas estimativas foram se reduzindo com o passar dos meses e com o acúmulo de dificuldades. Mas Bolsonaro ainda viu o Congresso aprovar propostas importantes, como a reforma da Previdência e a MP da Liberdade Econômica, por exemplo. Mesmo assim, o número foi mais acanhado do que se esperava.
O efeito da epidemia do novo coronavírus caiu como uma bomba na economia mundial e saiu derrubando produtividade e mercados. Claro que seus efeitos chegaram ao Brasil. A Bolsa teve quedas pesadas e seguidas e as previsões otimistas para o crescimento deste ano foram revisadas para baixo. E já há o risco real de Bolsonaro ter dois anos seguidos de PIB baixo, sem conseguir alcançar nem 2%.
Esse quadro, sem dúvida, coloca a equipe econômica submetida ao seu maior teste até agora. Guedes precisa encontrar uma fórmula que garanta um crescimento mais robusto. Já o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, precisa descobrir um meio de domar a disparada da cotação do dólar. E ainda segue em marcha lenta o trabalho de geração de empregos, que desapareceram a partir do ruinoso segunda mandato de Dilma Rousseff.