Segundo governo:
sem a CPMF o Orçamento se decompõe
sem a CPMF o Orçamento se decompõe
Para um governo sob reprovação recorde e sem controle de sua base,
propor a recriação da CPMF soa como suicídio político. Mas a outra opção
é o suicídio orçamentário.
Em 2007, último ano da cobrança, o governo tomava R$ 18,9 de cada R$ 100
da renda dos brasileiros. Nessa conta, a CPMF respondia por R$ 1,3.
A arrecadação não sofreu tanto com a perda da CPMF. De início, porque a
economia ajudava; depois, porque foram improvisadas outras fontes de
recursos, dos lucros das estatais a sucessivos programas de parcelamento
para contribuintes em atraso.
Mesmo em 2014, quando as finanças entraram em colapso, a receita da
União foi equivalente a 18,5% do Produto Interno Bruto, não muito abaixo
do patamar de 2007.
O que mudou de forma muito mais dramática no período foi a despesa, de
16,8% para 18,7% do PIB – isso sem contar a disparada dos juros e dos
encargos da dívida.
E, a despeito dos cortes feitos pelo ministro Joaquim Levy (Fazenda), o
percentual tende a crescer agora com o encolhimento da economia.
Nesse cenário, tornou-se impossível até elaborar um projeto de Orçamento
para 2016 sem uma nova fonte bilionária de receita – ressuscitada, a
CPMF arrecadaria cerca de R$ 75 bilhões anuais.
Se nada for feito, uma previsão realista de despesas/receitas em 2016
mostrará um novo buraco das contas. O mercado credor fará as contas e
trará a crise para o presente.
No ano eleitoral de 2014, a dívida pública foi de 53,3% para 58,9% do
PIB. No primeiro semestre deste ano, fechou em 63,2%. O ritmo é
explosivo e suscita dúvidas crescentes sobre a solvência futura do
Tesouro Nacional.
A cartada da CPMF ao menos ilumina a gravidade do cenário. Nos últimos
meses, o Congresso não só desfigurou as propostas de ajuste, mas também
criou e ameaça criar novas despesas.
Essa é uma cilada da qual nem governo nem oposicionistas – se quiserem
voltar ao Planalto – poderão escapar. O desgaste político virá na forma
de redução de programas sociais ou aumento de tributos. Ou, ainda, mais
inflação.
CPMF alíquota de 0,38% e vinculação à saúde
Presidente Dilma Rousseff e os ministros da área econômica
decidiram propor a recriação da CPMF, com verbas direcionadas à Saúde e
divididas com Estados e municípios; proposta deve enfrentar grande
resistência no Congresso.
O governo vai propor a recriação da CPMF, mesmo enfrentando a
resistência de parlamentares e empresários. Pela proposta, será cobrado
0,38% sobre cada movimentação financeira, a mesma alíquota que vigorava
em 2007, quando a contribuição foi extinta. A decisão foi tomada na
quinta-feira (27.ago.2015) pelos ministros da equipe econômica e pela
presidente Dilma Rousseff. Na segunda-feira (31.ago.2015), o anúncio
deve ser feito junto com a proposta de lei orçamentária para 2016.
A expectativa é que a recriação do tributo seja proposta por emenda à
Constituição. As estimativas do governo apontam que, com alíquota de
0,38%, a CPMF poderia trazer aos cofres públicos cerca de R$ 75 bilhões
ao longo de um ano.
Depois de desmentidos por integrantes do governo e uma repercussão
negativa no Congresso, coube ao ministro da Saúde, Arthur Chioro,
anunciar que havia consenso para a criação de uma “Contribuição
Interfederativa da Saúde”. Pela proposta em discussão, a cobrança
incidiria em movimentações financeiras e sua renda seria destinada
exclusivamente para a saúde. O valor arrecadado seria dividido entre
governo federal, Estados e municípios. A forma como seria feita a
partilha está em discussão. “Ela poderia ser alterada, ao longo do
tempo.” Mas a reportagem apurou que a proposta em estudo prevê que, do
total, 0,20% ficariam com a União, 0,10% com Estados e 0,08% com
municípios.
Apesar de reconhecer a dificuldade de aprovar a medida no Congresso, a
presidente vai insistir na necessidade da criação do imposto. O Palácio
do Planalto está convencido de que, com a queda na arrecadação, essa é a
única saída no horizonte.
Na avaliação de líderes da base parlamentar aliada, o fato de o assunto
ter vindo à tona precipitou o debate e dificulta ainda mais a aprovação
da medida no Congresso. Na tentativa de acalmar os ânimos, auxiliares da
presidente foram acionados para entrar em contato com governadores e
prefeitos de capitais para reduzir o desgaste. Coube ao ministro da
Fazenda, Joaquim Levy, vender a ideia ao presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL).
Apesar de Chioro afirmar que há convergência no governo em torno da
proposta, para um ministro ouvido, a divulgação do retorno da CPMF neste
momento foi “totalmente inoportuno”. Outro auxiliar disse que será
muito difícil levar a proposta adiante.
Desde que assumiu, Chioro defende a criação de uma nova fonte de
recursos para o setor. Pelas contas do governo, as perdas com fim da
contribuição sobre o cheque entre 2008 e 2014 somam R$ 350 bilhões.
Negociação. A alíquota de 0,38% é defendida pela
equipe econômica e é considerada um teto pelo governo - o piso seria
0,20%. A ideia é mandar a PEC com alíquota de 0,38% e discutir com o
Congresso.
Haverá o compromisso do governo de, junto da CPMF, iniciar uma política
de simplificação tributária, com o PIS e a Cofins, que incidem sobre o
faturamento das empresas, sem que essas reformas envolvam novos aumentos
de tributos. A ideia é aproveitar o envio da proposta de Orçamento de
2016 ao Congresso para reforçar essa mensagem de importância da CPMF
para todos os entes federados junto com o compromisso de simplificar
tributos federais.
Fontes do governo dizem que a possibilidade de paralisia da máquina
pública deverá fazer com que os parlamentares entendam a necessidade de
uma medida dura como essa. Além disso, dizem as fontes, a CPMF é fácil
de arrecadar, ajuda a combater a sonegação e tem menor impacto
inflacionário do que outras alternativas.
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