terça-feira, 31 de outubro de 2017

Desde 1995: Temer é o presidente mais eficiente na relação com o Congresso



O desempenho de Michel Temer (PMDB) nas suas relações com o Congresso não faz o menor sentido.
Por se tratar de figura extremamente impopular, que chegou à Presidência após um impeachment legítimo, embora controverso, e que vem se defrontando com inúmeras e sérias acusações de corrupção e obstrução da justiça, o mais racional seria que os membros de sua coalizão no mínimo inflacionassem o preço do apoio político como consequência direta da vulnerabilidade do chefe do Executivo.
O que se observa, no entanto, é justamente o inverso.
O governo tem sido capaz de aprovar projetos difíceis : o teto para os gastos públicos, as reformas trabalhista e do ensino médio, a mudança do marco regulatório do petróleo e a criação de uma nova taxa de juros para o BNDES, entre outros exemplos. Muitas dessas propostas exigiram quórum qualificado em dois turnos de votação em cada uma das Casas Legislativas.
Além disso, iniciativas da oposição que visam a constranger o presidente têm sido bloqueadas no Congresso, e as duas denúncias apresentadas pelo Ministério Público Federal foram rejeitadas.
Mais surpreendente, Temer conseguiu todas essas vitórias mantendo sua coalizão estável a um custo agregado relativamente baixo.
Como um presidente com esse perfil pode ser tão eficiente nas suas relações com o Congresso? Como Temer pode ser tão impopular entre os eleitores e tão popular entre os deputados e os senadores?
A chave desse suposto enigma está na gerência da coalizão. Temer tem-se saído incrivelmente bem numa tarefa típica de todo presidente num sistema político multipartidário, no qual o partido do chefe do Executivo em geral não dispõe de maioria no Legislativo.
A situação é diversa daquela normalmente verificada no presidencialismo bipartidário dos Estados Unidos, onde a Casa Branca costuma contar com apoio suficiente no Capitólio.
Tanto assim que os americanos têm um ditado que se aplica àqueles períodos em que o governo não desfruta da maioria das cadeiras em pelo menos uma das Casas Legislativas: “Se o contrário de pró é contra, o contrário de progresso deve ser o Congresso”.
Ou seja, de um governo dividido, intrinsecamente minoritário, espera-se maior frequência de paralisia decisória, de conflitos entre o Executivo e o Legislativo e, provavelmente, de problemas de governabilidade, com o presidente sendo refém do Congresso e impedido de realizar “progressos”.
Se valesse essa interpretação aritmética para presidencialismos multipartidários, a condição de governo dividido seria observada na maior parte dos casos.
Nos 18 países latino-americanos nos quais predomina a combinação de presidencialismo com multipartidarismo, em apenas 26% das vezes a legenda do presidente obteve maioria de cadeiras no Congresso.
Em relação ao Brasil pós-redemocratização, isso só ocorreu nas eleições de 1986 para a Assembleia Nacional Constituinte, quando o PMDB de José Sarney conquistou a maioria esmagadora dos assentos na Câmara e no Senado.
Os presidentes pós-Sarney não tiveram a mesma sorte. Seus partidos ocuparam no máximo 20% dos lugares na Câmara e 27% no Senado. Para governar em uma condição a princípio adversa como essa, é preciso montar e sustentar coalizões majoritárias pós-eleitorais.
Cabe salientar que esse arranjo está longe de ser especificidade brasileira. A rigor, dois terços das atuais democracias são presidencialistas ou semipresidencialistas e tipicamente são governadas por coalizões multipartidárias.
A interpretação dominante na literatura especializada que investiga o presidencialismo de coalizão brasileiro afirma que os poderes constitucionais e de agenda delegados ao Executivo seriam suficientes para superar os problemas inerentes da condição de governo minoritário e para atrair partidos para a coalizão do presidente.
Dotado desses poderes, o chefe do Executivo teria condições de governar a um custo relativamente baixo, aprovando a sua agenda em um ambiente previsível e de cooperação com o Legislativo.
Entretanto, nem sempre é assim. Existe grande variação tanto na taxa de sucesso das iniciativas legislativas de autoria do Executivo quanto nos custos que o presidente enfrenta para aprovar essas medidas (ou bloquear ações indesejáveis da oposição). O gráfico abaixo apresenta essa comparação para os últimos sete governos brasileiros.


Gráfico mostra evolução dos sete últimos mandatos presidenciais


A linha rosa representa a curva de tendência do custo de gerência da coalizão dos presidentes brasileiros, enquanto os pontos rosas exprimem o custo real mensal. A linha azul-clara remete à quantidade de propostas legislativas de autoria do Executivo enviadas para o Congresso, e a linha azul-escura indica quantas dessas iniciativas foram aprovadas.
Ou seja, o gráfico mostra a eficiência do presidente na gestão de sua coalizão: um governo eficiente aprova mais proposições a um custo relativamente baixo.
A medida do custo de gerência da coalizão é composta de três variáveis: 1) quantidade de ministérios (e secretarias com status de ministério) que um presidente decide ter em seu governo; 2) total de recursos que aloca entre os ministérios (e secretarias com status de ministério) ocupados pelos membros da coalizão; 3) montante em emendas individuais que os parlamentares fazem ao Orçamento anual e que o presidente executa. (Nos itens 2 e 3, os valores em reais são calculados como proporção do PIB.)
Desses três fatores resulta um índice sintético de custos de governo (ICG), que permite comparar o nível de recursos disponibilizado pelo presidente aos membros da sua coalizão e ao seu próprio partido. Esse índice não deve ser interpretado de forma absoluta, e sim de forma relativa a outros governos.
Claro que outras moedas de troca podem fazer parte do arsenal presidencial: empréstimos subsidiados de bancos públicos, perdão seletivo de dívidas com a União, distribuição de cargos de escalões inferiores etc.
Infelizmente, porém, elas não atendem aos critérios de disponibilidade e periodicidade nem dispõem de série longa o suficiente para permitir comparações entre governos.
De qualquer forma, não existe motivo para pensar que as variáveis do ICG e as demais moedas de troca não observáveis sejam substituídas umas pelas outras. Na verdade, elas desempenham papel simétrico.
Essas medidas tendem a subir ou a descer juntas. Sabe-se que ao menos duas delas — empréstimos subsidiados e programas de refinanciamento de dívidas — foram utilizadas de forma recorde no período de maior crescimento do ICG (final do segundo governo Lula e início do primeiro governo Dilma).
Dado que não houve mudanças efetivas nos poderes do Executivo ao longo desses 22 anos, o que explica tamanha variação tanto na taxa de sucesso legislativo do presidente quanto no custo de governabilidade?
O primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), por exemplo, foi caracterizado por um custo total relativamente baixo (média de 36 pontos). Interessante notar que os custos de FHC com o seu próprio partido foram inferiores ao somatório de custos com as demais siglas da coalizão (média de 40% e 60%, respectivamente).
No segundo mandato do tucano, houve um aumento expressivo dos custos totais de governo (média de 59,5 pontos), que passaram a se concentrar mais no próprio PSDB (55%) do que nos demais parceiros de coalizão (45%).
No governo Lula (PT), os custos totais de governo aumentaram ainda mais (média de 90,6 pontos) e o partido do presidente passou a ser destinatário de 69% dos recursos.
Padrão semelhante se reproduziu no segundo mandato de Lula. Os custos totais ainda aumentaram um pouco (média de 95,2 pontos), sobretudo a partir da metade do período, devido a uma ampliação dos custos com as outras siglas da coalizão, embora o PT tenha continuado a receber a maior fatia (60%).
A primeira gestão de Dilma Rousseff (PT) apresentou pequena queda nos custos totais de governo (média de 88,1 pontos), com sensível aproximação entre as proporções dos recursos destinados ao PT (51%) e aos aliados (49%).
No curto segundo mandato de Dilma, os custos totais de governabilidade declinaram consideravelmente (média de 58 pontos), alcançando o mesmo patamar do segundo termo de FHC. Contudo, o PT voltou a ser recompensado de forma desproporcional em relação aos outros parceiros da coalizão (56% e 44%, respectivamente).
Apesar do aumento dos custos de gerência da coalizão durante as administrações petistas, a capacidade de aprovação de iniciativas legislativas de seus presidentes declinou sensivelmente, especialmente a partir do começo do segundo governo Lula e no final do primeiro mandato de Dilma.
Com o impeachment de Dilma e a ascensão de Temer, os custos da governabilidade despencaram e alcançaram os níveis mais baixos da série histórica (média de 15,4 pontos). Além disso, houve uma inversão radical na sua composição, com 70% dos recursos distribuídos entre parceiros da coalizão e 30% direcionados ao PMDB.
Nota-se ainda o aumento do número de propostas legislativas de autoria do Executivo, inclusive reformas constitucionais, a indicar que o presidente recuperou o poder de agenda no Congresso. Por fim, a taxa de sucesso dessas iniciativas cresceu consideravelmente.
Isto é, como o gráfico indica, o governo Temer tem sido mais eficiente que seus predecessores, com aumento do apoio legislativo obtido a um custo relativamente baixo.
Dito de outro modo, Temer tem sido mais feliz que seus antecessores ao perseguir o objetivo de todo presidente na administração de um governo racional: maximizar o apoio político com o menor custo possível.
Num ambiente multipartidário, os riscos de conflitos entre o Executivo e o Legislativo podem ser multiplicados ou reduzidos de acordo com as escolhas que o presidente faz para gerenciar sua coalizão.
Portanto, ao definir quantos e quais partidos integrarão sua base, o chefe do Executivo precisa levar em conta a preferência ideológica desses parceiros, determinar a quantidade de poder e de recursos que serão compartilhados entre eles e, finalmente, analisar se a preferência da sua coalizão espelha a preferência do Congresso.
Essas escolhas são muito importantes, pois elas têm consequências decisivas para a capacidade de governo de um presidente e para a qualidade de suas relações com o Legislativo.
Quanto maior o número de partidos na base, quanto maior a heterogeneidade ideológica entre eles, quanto menor a proporcionalidade na alocação de recursos (políticos e monetários) e quanto maior a diferença entre as preferências da coalizão e as do plenário do Congresso, maiores serão as dificuldades de coordenação dos aliados e, por consequência, maiores os custos de governabilidade.
Entretanto, é bom destacar que o equilíbrio em uma coalizão não é estático. Pode variar diante de choques externos ou internos (crise econômica, escândalo de corrupção etc.) e quando os membros da coalizão (presidente e partidos) decidem renegociar a aliança à luz de novas condições (uma sigla passou a ser mais importante ou o presidente se fragilizou, por exemplo).
Modificados os termos da negociação, o governo precisa alcançar novo equilíbrio, o que engendra uma nova matriz de custos.
Quando se analisam esses fatores, ficam evidentes as disparidades das escolhas de montagem e gerência de alianças.
FHC, por exemplo, montou uma coalizão com um número baixo de parceiros (média de 4 e 4,6 siglas).
A heterogeneidade ideológica de seus governos foi muito parecida e relativamente baixa, 31 e 30,5 pontos, respectivamente — cálculo feito a partir dos dados de ideologia partidária propostos por Timothy Power e Cesar Zucco (2012), através de pesquisa de opinião com os próprios legisladores.
Com a chegada do PT ao poder, especialmente no primeiro mandato de Lula, a heterogeneidade ideológica da coalizão governista aumenta bastante, alcançando o patamar de 48 pontos, na média. Particularmente nos seus primeiros meses de governo, a base aliada atingiu o pico de diversidade ideológica na série, com 54 pontos.
No segundo mandato do petista, o valor médio da heterogeneidade da coalizão caiu um pouco, mas ainda permaneceu comparativamente muito alto, 42 pontos. O número de siglas na base governista também era elevado (média de 7,7 e 9,1 partidos no primeiro e segundo governos, respectivamente).
Dilma também montou coalizões com um grande número de legendas (média de 7,8 e 7,9 partidos). No primeiro mandato, a heterogeneidade média da base voltou a subir para 45,5 pontos, demonstrando mais uma vez a dificuldade do PT de montar alianças congruentes com seu perfil ideológico.
Após sua reeleição, com uma estratégia clara de sobrevivência política, Dilma reduziu bastante a heterogeneidade média de sua coalizão, mas ainda assim para um nível elevado (quase 37,7 pontos).
Temer, por sua vez, lidando com a maior fragmentação partidária da história do presidencialismo brasileiro, montou uma coalizão com o maior número de aliados (dez). Ainda assim, tem conseguido gerenciar a coalizão ideologicamente menos heterogênea da série, apenas 27,1 pontos na média.
Essa constatação empírica joga por terra a pressuposição de que fragmentação partidária necessariamente leva presidentes a gerenciar coalizões ideologicamente heterogêneas ou mais caras.
Com relação à concentração de poder, ela foi medida pelo índice de coalescência, consagrado na literatura (Octavio Amorim Neto, 2006), que mede o grau de proporcionalidade entre o gasto com os partidos e o peso de cada um deles na coalizão — quanto mais próximo de cem, mais proporcional é a divisão de poder.
Temer, além de reduzir o número de ministérios, decidiu compartilhar muitos espaços com os aliados. Essa estratégia levou sua coalizão a apresentar o nível mais alto de proporcionalidade da série (média de 80,4 pontos).
As gestões do PT, em contraste, tiveram tendência de baixo compartilhamento de poder com aliados.
Lula, em seu primeiro mandato, alocou 21 (60%) dos seus 35 ministérios para membros do próprio PT, que ocupava 18% das cadeiras na Câmara. O PMDB, que detinha 15% de cadeiras na Câmara, recebeu dois ministérios (6%). Consequentemente, a proporcionalidade de sua coalizão foi relativamente mais baixa (média de 65,5 pontos).
No segundo mandato, Lula melhorou a proporcionalidade da coalizão (média de 69,1 pontos), mas o índice de coalescência ainda ficou abaixo do registrado nos governos FHC (média de 71,4 e 73,8).
Dilma manteve prática muito parecida com o padrão monopolista do governo Lula, com 46% dos ministérios distribuídos para o PT no primeiro mandato, partido que ocupava 17% de cadeiras na Câmara. A proporcionalidade de sua coalizão ficou em torno de 68,9 pontos.
No seu segundo mandato, fez um esforço considerável de compartilhamento de poder com os aliados, alcançando média de 75,6 pontos.
A decisão de Dilma de montar coalizões menos heterogêneas e menos monopolistas proporcionou uma redução em seus custos de gerência. É possível, porém, que esse esforço tenha ocorrido tardiamente, pois não foram efetivos para evitar a quebra da coalizão e barrar seu impeachment.
E mesmo que do ponto de vista aritmético coalizões petistas tenham sido majoritárias, suas preferências ideológicas, na média, ficavam distantes das preferências do plenário. A exceção ficou por conta do segundo mandato de Dilma, quando, numa tentativa quase desesperada de sobrevivência, aproximou-se da mediana do plenário.
FHC e Temer, por outro lado, montaram coalizões que, na média, espelharam as preferências ideológicas do plenário.
Os impactos das escolhas na gerência da coalizão vão além dos custos da governabilidade. A depender das circunstâncias, eles podem afetar a dinâmica do Congresso e ajudar a determinar o resultado da eleição para a presidência da Câmara, por exemplo, peça-chave no controle da agenda legislativa.
Com frequência, o papel relevante de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no impeachment de Dilma é tomado como elemento exógeno, como se sua ascensão repentina fosse obra do imponderável. Essa perspectiva, no entanto, desconsidera como e por que ele chegou ao comando da Câmara.
A emergência e a atuação de Cunha resultaram das escolhas de gerência de coalizão do PT, e não de disfuncionalidades do presidencialismo de coalizão ou de idiossincrasias da personalidade do ex-deputado.
Não fosse a estratégia monopolista de gestão da base aliada e a tentativa petista de desidratar o PMDB, talvez a eleição para a presidência da Câmara tivesse desfecho diferente.
Para um parceiro político que já não vinha sendo recompensado de acordo com o seu peso no Congresso durante todos os governos petistas, a quebra da coalizão parecia uma questão de tempo e de oportunidade. O acúmulo de animosidades era evidente.
Naturalmente, a exposição de contas secretas de Cunha, feita no bojo da Lava Jato, abalou o equilíbrio da coalizão. O preço que ele cobrou pela sua proteção se tornou proibitivo para o governo e para o PT, mesmo diante dos riscos de que o então presidente da Câmara desse sequência aos sucessivos pedidos de impeachment.
O jogo, assim, adquiriu uma dimensão de sobrevivência individual, e as promessas do governo de salvar Cunha da cassação deixaram de ser críveis: desde o julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal, os órgãos de controle saíram do controle dos políticos.
Diante de sucessivos mal-entendidos, insatisfações pelas promessas não cumpridas e pelo acesso reduzido a poder e a recursos controlados desproporcionalmente pelo PT, os aliados começaram a construir alternativas para aumentar o seu poder de barganha nas negociações e tentar reequilibrar a distribuição de poder e recursos.
Em presidencialismos multipartidários, portanto, o presidente precisa saber manusear as ferramentas de manutenção e gerência de sua coalizão se quiser ser efetivo no Legislativo a um custo de governabilidade relativamente baixo.
Além do mais, o Executivo não pode ignorar as preferências do Congresso se desejar terminar o seu mandato, mesmo que isso implique perdas de sua popularidade e/ou ajustes momentâneos de sua preferência política.
Numa inversão do ditado americano sobre o governo paralisado, diante de uma ineficiente gerência de coalizão, o contrário do “progresso” deixa de ser o Congresso e passa a ser o próprio presidente.




Sem barreiras na internet e redes sociais,
notícias falsas podem se espalhar rapidamente.






Sites que integram uma teia de páginas que disseminam pela internet informações falsas e/ou de teor sensacionalista montam um negócio grotesco nos meios digitais — uma pandemia conhecida no mundo todo sob o rótulo de “fake news” (notícias falsas) e que passou a chamar a atenção devido a sua influência em votações no Reino Unido e nos Estados Unidos, no ano passado.
O que une esses sites é a busca por cliques. No mundo digital, clique é dinheiro.
Estes sites lucram com a venda de anúncios. Quanto maior a audiência da página, mais ela ganhará com publicidade. Segundo a empresa comScore, que mede audiência digital, e profissionais do mercado publicitário consultados pela reportagem estimaram que os anúncios rendam de R$ 100 mil a R$ 150 mil por mês, dos quais até 50% ficariam com o intermediário e o restante com o dono do site.
A venda da publicidade costuma ser feita por agências especializadas ou via ferramentas como o Google AdSense, que seguem a lógica de um leilão: o site diz o preço mínimo que pretende receber por anúncio e qual modalidade prefere, sendo as mais comuns CPM (custo por mil impressões, que considera o número de visualizações) e CPC (custo por clique, em que o pagamento é calculado em cima de quantas vezes o anúncio foi clicado).
Os anunciantes definem o perfil de público que querem atingir, mas não controlam em que site a propaganda será veiculada. A audiência é o principal requisito para quem anuncia; no caso de sites de notícias, não costuma haver verificação sobre a credibilidade do veículo ou a qualidade da reportagem.
A maioria dos sites sensacionalistas é registrada fora do país, não identifica os autores dos textos e não publica expediente, endereço ou telefone para contato.

'RECEITA DO BOLO' — Sites sensacionalistas e de inverdades que se disseminam nas redes sociais faturam de acordo com a audiência que os conteúdos apelativos impulsionam. Pesquisas mostram que a maioria dos leitores tem dificuldade em distinguir boatos de informações confiáveis.
Um estudo do Instituto Paulo Montenegro e da ONG Ação Educativa mostrou que apenas 8% dos brasileiros em idade de trabalhar (entre 15 e 64 anos de idade) são capazes de se expressar por textos, de opinar sobre argumentos e interpretar tabelas e gráficos.
Nos Estados Unidos, pesquisa da Universidade Stanford com alunos de ensinos fundamental e médio e de faculdades revelou que a maioria é incapaz de diferenciar notícias produzidas por fontes confiáveis de anúncios e informações falsas.
Pesquisa do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo mostra que cada vez mais brasileiros de grandes centros urbanos usam redes sociais como fonte de notícias: eram 47% em 2013, índice que saltou para 72% em 2016.

MACEDÔNIA — de uma perspectiva global — Veles, uma cidade de 43 mil habitantes no pequeno país dos Balcãs, ganhou fama no ano passado com a revelação de que se tornara um bunker de sites de notícias falsas sobre as eleições dos Estados Unidos. Tocados por adolescentes em busca do dinheiro de anúncios, os sites inventaram notícias sensacionalistas (em geral pró-Donald Trump) e geraram milhões de engajamentos (soma de curtidas, compartilhamentos e comentários) no Facebook, integrando um movimento que, para muitos, teve peso relevante na vitória do republicano.

Segundo um estudo do site BuzzFeed, as 20 notícias falsas sobre a eleição americana com maior engajamento no Facebook nos três meses que antecederam a votação geraram mais engajamentos (8,7 milhões) que as 20 notícias reais com mais reações publicadas por grandes veículos (7,3 milhões).
O BuzzFeed brasileiro chegou a resultado semelhante em relação a notícias sobre a Lava Jato publicadas em 2016: as dez falsas com mais engajamento no Facebook (3,9 milhões) superaram as dez verdadeiras (2,7 milhões).

Nos Estados Unidos, estudos recentes relativizam a influência das “fake news” na eleição de Trump. Um deles, do centro de pesquisa NBER (Birô Nacional de Pesquisa Econômica), concluiu que as mídias sociais tiveram papel “importante, mas não determinante”. Foram apontadas como fonte de informação mais importante por somente 14% dos americanos (contra 57% da TV, por exemplo).
Ainda assim, o fenômeno preocupa. “É fato que essas notícias falsas geram bastante engajamento no Facebook e que, segundo pesquisas, as pessoas estão propensas a acreditar nelas. Isso é surpreendente e constrangedor, e por isso espera-se que algo seja feito”, disse Craig Silverman, editor de mídia do BuzzFeed norte-americano, estudioso do tema e autor de uma das principais reportagens sobre “os garotos da Macedônia”.
Para ele, “qualquer atitude só será eficiente se atacar as vantagens financeiras de criar notícias falsas — e deve incluir as empresas que fornecem as plataformas que estão sendo usadas para criá-las e espalhá-las”.
De fato, corporações digitais e empresas de mídia em todo mundo começaram a se mexer.

CENSURA NÃO — Um dos maiores desafios do percurso, observa Silverman, é “assegurar que qualquer medida tomada para coibir notícias falsas não afete a liberdade de expressão”.
É uma preocupação semelhante à de Patricia Blanco, presidente do Instituto Palavra Aberta, organização dedicada à promoção da liberdade de expressão. “Como garantir uma web livre e evitar que ela seja usada de forma criminosa é algo que temos de resolver. Mas não podemos deixar que o legislador, para proteger cidadãos, crie limites à liberdade de expressão.”

Sancionado em 2014, o Marco Civil da Internet isenta de responsabilidade a empresa que abriga o conteúdo. Mas, têm obrigação de retirar do ar, se notificadas, a calúnia, a injúria ou a difamação, sob pena de conivência.

Vítima de notícias falsas, o jornalista e ativista Leonardo Sakamoto, da ONG Repórter Brasil e blogueiro, considera que, dada a extensão do problema, é necessária uma convenção global para regular a circulação de notícias na internet e a eventual responsabilização por excessos.
No ano passado, Sakamoto foi alvo de um texto difamatório abrigado no um site de notícias falsas. Segundo documentos produzidos por ordem judicial, as empresas JBS e 4Buzz promoveram a exposição do texto por meio de anúncio pago no Google — elas negam.
Autor do livro “O que Aprendi Sendo Xingado na Internet”, o blogueiro defende também, como solução a médio prazo, uma “alfabetização midiática.”: a introdução, nos ensinos fundamental e médio, de noções sobre como detectar argumentos fraudulentos.

O historiador norte-americano Robert Darnton, professor emérito da Universidade Harvard, diz se opor a qualquer medida que envolva censura e sugere que, “a médio ou longo prazo, isso [o consumo indiscriminado de mentiras] acaba, se autocorrige; se melhorar a política, isso melhora também”.
Darnton lembra que a disseminação de notícias falsas não é novidade. Já no século VI, conta, o historiador Procópio escreveu um texto secreto, chamado Anekdota. “Ali ele espalhou fake news, arruinando a reputação do imperador Justiniano e de outros. Era bem similar ao que aconteceu na campanha eleitoral americana.”
Em artigo recente, a pesquisadora americana Judith Donath, do Centro Berkman Klein para Internet & Sociedade da Universidade Harvard, escreveu que, na era das redes sociais, não se compartilha e curte notícias apenas para informar ou persuadir, mas “como um marcador de identidade, uma forma de proclamar sua afinidade com uma comunidade particular”.
Interagir com uma notícia falsa, argumenta, pode enfurecer os de fora dessa comunidade, mas é um “sinal convincente de fidelidade ao seu grupo”.
A psicanalista e jornalista Maria Rita Kehl lê de outro modo. “Como não sabemos o que fazer com algumas notícias que nos chocam, ética ou moralmente, passamos adiante com a sensação de estar participando, de alguma forma, da esfera pública. No fundo não é muito diferente da dona de casa que ouve uma fofoca e corre para o muro, a contar para a vizinha”, afirma.
“A diferença”, acrescenta, “é que o 'muro' hoje é a internet, e a fofoca que a vizinha quer passar adiante chega a milhares de pessoas. O que torna o problema mais complexo é que o mesmo dispositivo que serve para espalhar notícias falsas e arruinar a imagem de pessoas públicas, também serve para mobilizar campanhas de solidariedade, por exemplo”.




segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Super Tucano Turboélice da Embraer vai à guerra por US$ 3,5 bi






O A-29 Super Tucano, turboélice de ataque leve da Embraer, vai à guerra no Oriente Médio, cumprindo missões de fogo da Força Aérea dos Estados Unidos, a Usaf, em uma zona de conflito real. A batalha também contempla um alvo de longo prazo — um futuro contrato abrangendo de 120 a 300 aviões, negócio de até US$ 3,5 bilhões. O local ainda não foi decidido. Serão enviados dois aviões para a front logo no começo do ano, ambos configurados de acordo com os padrões da Usaf, para bombardeio de precisão e apoio à tropa no terreno.
A experiência de combate, adotada pela primeira vez pelo Pentágono em um processo desse tipo, faz parte da avaliação OA-X, do Pentágono, que considera a seleção de uma aeronave de custo relativamente baixo para atuar em ambientes de risco reduzido. O Super Tucano terá um concorrente o turboélice Textron AT-6 Wolverine. Vantagem para o A-29, adotado em 13 países, com 320 mil horas de voo — 40 mil horas de combate, em cenários intensos como os da Colômbia e do Afeganistão. O AT-6 nunca lutou. O teste envolverá 70 pessoas, quatro aviões, armamento e, de acordo com um relatório do Air Combat Command, talvez não saia por menos de US$ 100 milhões.
Na primeira fase, encerrada em setembro, havia dois outros modelos em análise, o jato Scorpion, descartado por não poder utilizar pistas não pavimentadas, e o AT-802L, variante armada de um avião agrícola que não tem assentos ejetáveis. Quando o estudo virar programa, a encomenda, em etapas, vai abranger um amplo pacote de apoio — simuladores, componentes, kits de adaptação para acessórios digitais e suporte técnico. O governo americano condiciona as suas compras militares à fabricação dos produtos no país. A Embraer Defesa e Segurança (EDS), associada ao grupo Sierra Nevada Company, mantém um parque industrial em Jacksonville, na Flórida.





Guilherme Boulos, líder dos sem teto, com potencial para suceder Lula na esquerda



Guilherme Boulos e Lula


Dirigentes do PT detectaram sinais de que Guilherme Boulos, o líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), está se preparando para ocupar o lugar do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando ele sair de cena. Boulos tem deixado claro que não pretende disputar a próxima eleição presidencial se Lula estiver no páreo, mas a avaliação na cúpula petista é que não existem hoje no partido sucessores que vistam tão bem como Boulos o figurino de líder de massas.
Nas discussões internas, dirigentes petistas dizem que tanto a senadora Gleisi Hoffmann (PR), presidente nacional do partido, como Lindbergh Farias (RJ), líder no Senado, poderiam pegar o bastão, mas lembram que eles não são unanimidade no PT e enfrentam problemas na Justiça.
O projeto Boulos é de longo prazo. Mesmo que Lula seja impedido pelos tribunais de disputar a eleição de 2018, petistas não veem o líder do MTST como opção imediata. Nesse cenário, acham que ele poderia entrar na corrida presidencial como candidato do PSOL, como já se cogita na sigla.




domingo, 29 de outubro de 2017

Nossa democracia e um possível desastre



O silêncio dava a impressão de que o brasileiro tolerava o sofrimento na expectativa de que 2018 traria algo novo. Engano! As pesquisas mais recentes indicam que a crise brasileira é uma crise de desilusão. Quando parece que uma novidade vem pela frente, pelo menos um equívoco diferente dos já cometidos, descobre-se que pode nascer das urnas um erro manjado. O eleitorado oscila entre um condenado por corrupção e um apologista da ditadura militar.
Confirmando uma tendência que já havia sido farejada, o Ibope informa: se a disputa presidencial ocorresse hoje, o condenado Lula disputaria o segundo turno com o ex-tenente do exército Bolsonaro. Sim, é verdade. As opções oferecidas não são animadoras. Mas, que diabos, a situação está insustentável. Por isso, o brasileiro precisa tomar as precauções mais triviais. Por exemplo: se for abordado por um pesquisador na rua, antes de dar qualquer resposta, o sujeito precisa certifique-se de que não esqueceu a consciência em casa.
Tem gente que só acredita na gravidade quando uma maçã — ou um descalabro — lhe cai na cabeça. Lula e Bolsonaro são sintomas de um país adoecido. Resultado da cruza da falta de ética com a inépcia, a roubalheira e o empregocídio engravidaram a democracia brasileira de um desastre. Por sorte, ainda há tempo para um aborto político.
Neste momento de pré-campanha eleitoral, período em que os loucos dispõem de licença para apresentar suas credenciais para dirigir o hospício, seria extraordinário se o eleitor utilizasse as pesquisas para informar que já não aceita qualquer maluquice. Na dúvida entre o inaceitável e o inadmissível, nunca deixe para amanhã o candidato que você pode deixar hoje. Faltam opções? Simples: dê uma de louco. Diga que prefere votar em ninguém. Quem sabe assim os partidos tomam juízo e apresentam alguém.



O ex-presidente Lula, fez 72 anos na última sexta-feira (27.out.2017), recebeu um bolo para comemorar o seu aniversário em evento do PT na cidade de Montes Claros, interior do estado de Minas Gerais. Lula faz campanha em caravana pelo estado de Minas. Faz comícios diários. Em um deles apresentou-se à plateia como um símbolo, seu papel predileto: “Estão tentando me destruir desde que nasci. Tentem destruir o Lula, vocês nunca vão conseguir, porque o Lula não é o Lula, é uma síntese daquilo que são milhões e milhões de mulheres e homens. Lula é uma ideia criada por vocês”.
O pajé do PT, de fato, pode se dar ao luxo de falar como símbolo. Deixou de ser qualquer um quando virou líder sindical em plena ditadura. Perdeu eleições como símbolo, chegou ao Planalto como símbolo, invocou a condição de símbolo para sobreviver ao mensalão e como símbolo imaginou-se invulnerável no petrolão. Agora, responde pelo que passou a simbolizar.
Suprema ironia: coube ao companheiro Antonio Palocci formular a pergunta que explica por que muitos brasileiros deixaram de respeitar os cabelos brancos do símbolo: “Até quando vamos fingir acreditar na autoproclamação do ‘homem mais honesto do país’ enquanto os presentes, os sítios, os apartamentos e até o prédio do Instituto Lula são atribuídos a dona Marisa?”, indagou Palloci na carta que enviou ao PT para se desfiliar da legenda.
Lula tornou-se um símbolo completo. E se desconstrói sem a ajuda de ninguém. O símbolo discursa como se fosse uma estátua de si mesmo.
Costuma-se dizer que Lula virou um político como todos os outros. Bobagem. Aconteceu algo pior. Lula tornou-se um símbolo completamente diferente de si mesmo.
Certas frases — “Não é aos 72 anos que vou roubar um centavo para envergonhar milhões e milhões de pessoas que a vida inteira confiaram em mim” — passam a impressão de que o autor será símbolo do cinismo até o fim. No aniversário do símbolo, um simples “parabéns” soa como ironia.










Renda média dos brasileiros ricos é maior que a dos franceses



O mais rico do Brasil, Jorge Paulo Lemann
tem uma fortuna avaliada pela “Forbes”
em US$ 21,27 bilhões (R$ 61,37 bilhões).
Um dos donos do fundo 3G Capital e da

cervejaria AB Inbev, ele também foi o
brasileiro que mais enriqueceu em 2014.
Ser rico no Brasil não é o mesmo que ser rico na França. É mais. Enquanto a renda média do 1% mais rico no Brasil ronda US$ 541 mil ao ano, na França, esse 1% ganha de US$ 450 mil a US$ 500 mil.
A conclusão, de estudo do World Wealth and Income Database, codirigido pelo economista Thomas Piketty, denota a assimetria brasileira.
Pela pesquisa, baseada em dados de 2015, o grupo do 1% mais rico equivale a 1,4 milhão de brasileiros.
Quando se depura a estatística para o 0,1% mais rico, um grupo de 140 mil indivíduos recebe ao menos US$ 799,2 mil todos os anos. Isso é só a faixa de corte. A média para tal grupo gira em torno de US$ 2,8 milhões ao ano.
Como base de comparação, Marc Morgan, autor do estudo, aponta que a renda média de toda a população fica em US$ 19,5 mil ao ano.
E quem são esses brasileiros mais ricos? Abaixo dos famosos bilionários da revista “Forbes”, a maior parte dos incógnitos são empresários, juízes, executivos e médicos.
São pessoas que vivem de outras rendas que não a do salário, afirma a economista Monica de Bolle, que ressalta a importância do estudo de Morgan porque complementa os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE) com informações da Receita.
“A Pnad mostra a renda dos assalariados, que podem ser pessoas de classe baixa e média ou até média alta, mas que têm o trabalho como principal fonte de renda. Ela exclui parte relevante das pessoas que vivem de outra renda, como ganhos de propriedades e dividendos, mas não de salários”, afirma ela.
Parte desse grupo pode ser encontrada na cúpula das companhias que têm ações em Bolsa. De acordo com dados da CVM relativos a 2016, foi de R$ 27 milhões a maior remuneração anual de um diretor, da BR Malls. Outro dos pagamentos mais altos foi de um membro da diretoria da farmacêutica Hypermarcas — R$ 22 milhões no ano.
Os números oscilam ano a ano porque nem tudo está atrelado ao pagamento na carteira de trabalho.
“Muitos executivos ganham mais de R$ 100 mil no contracheque mensal. Isso se soma à remuneração variável de curto prazo, que é o bônus. E ainda pode ter remuneração variável de longo prazo, atrelada ao ganho de ações da empresa”, diz Rodrigo Forte, da Exec, consultoria para contratação de executivos.
Magistrados também podem estar entre os muito ricos. Embora o teto constitucional seja R$ 33,76 mil, a remuneração dos juízes é turbinada com auxílio-moradia, serviços extraordinários e outras vantagens conhecidas como “penduricalhos”, praticados em todos os Estados.
Em julho, 84 magistrados do Tribunal de Justiça de Mato Grosso receberam mais de R$ 100 mil cada um. Um dos juízes chegou a receber R$ 503,9 mil no mês.

POUCAS CHANCES — A chance de estar no 1% mais rico cresce para quem tem treinamento em engenharia e atividades correlatas. Ela é quase 54 vezes maior que a de um trabalhador sem educação primária completa, segundo estudos de Marcelo Medeiros, do Ipea.
O trabalhador com diploma de professor tem chance quase tão baixa quanto quem tem só ensino secundário.
O gênero é outra característica da disparidade. Os estratos mais elevados dos salários concentram mais homens, segundo Juliana Galvão, pesquisadora da City University de Nova York.
“No 1% mais rico, 64% são homens brancos e 20% são mulheres brancas”, diz Galvão, cujos estudos se baseiam no Censo de 2010. Outros 12 % são homens pretos, pardos ou indígenas e 4% são mulheres negras.
Raça é um dos aspectos mais notórios no topo da pirâmide. A população negra em média tem menos escolaridade e está concentrada em regiões economicamente menos dinâmicas, segundo Emerson Rocha, professor da Universidade de Brasília. Mas isso não explica tudo.
Segundo seus estudos, determinados setores do mercado de trabalho são mais desiguais racialmente. A discriminação afeta especialmente ocupações como executivos de empresas do setor privado. Profissões liberais e carreiras no setor público são mais permeáveis.
“Critérios de recrutamento afetam o quanto a competição em determinado setor está aberta a processos de discriminação racial direta”, afirma Rocha.

TRIBUTOS — O economista Sérgio Gobetti, pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), explica que, embora não seja a causa primária da desigualdade, a tributação pode agravá-la. “No Brasil a nossa tributação da renda é muito pouco progressiva. Além disso, tem um outro lado, a tributação do consumo, que é muito pesada e neste caso é regressiva”, diz Gobetti.
A maneira como está formatado o sistema tributário brasileiro também perpetua a desigualdade, segundo Rodrigo Orair, economista do Ipea. Ela favorece a elisão, possibilitando que grandes rendas sejam tributadas com alíquotas menores.
“Se eu sou um assalariado, posso pagar alíquotas marginais de até 27,5% sobre meu salário, mas se sou uma pessoa jurídica prestadora de serviços enquadrados no regime do simples ou no lucro presumido e regimes especiais para pequenas e microempresas, eu posso pagar alíquotas de 9% a 15%. Não é crime, é um caminho para pagar alíquota menor sobre a renda”, diz Orair.
O economista cita uma lista de alternativas que poupam os mais ricos da tributação, como o benefício da isenção de impostos sobre lucros e dividendos, que são a principal fonte de renda dos estratos mais ricos, como altos executivos de empresas e escritórios de advocacia.
“Se eu recebo uma renda de aluguel e declaro como pessoa física, posso pagar até 27,5%. Se crio uma imobiliária para administrar e coloco no regime especial, vou pagar de 9% a 15%. Se eu recebo esse aluguel por um fundo imobiliário, ele pode até ser isento. A mesma fonte de renda pode ser tributada de 0 a 27,5% dependendo da maneira como eu organizo”, afirma Orair.
Para o economista, essas alternativas de planejamento tributário tendem a beneficiar os mais ricos, que podem contar com melhores tributaristas e contadores.
O imposto sobre herança é outra prática que protege as fortunas de quem está no topo. Enquanto no Brasil o tributo é de no máximo 8%, em países desenvolvidos ele ronda os 40%.




Para Gustavo Franco era para o PSDB
ter feito o que cobrou do PT



Gustavo Franco


O ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco, que deixou o PSDB há um mês, diz que ele e outros economistas ligados aos tucanos estavam desgostosos com a sigla havia um tempo. O partido tinha adotado um “discurso ambíguo" em relação à defesa da economia de mercado.
O cenário piorou neste ano, quando o PSDB não soube lidar com dilemas éticos. Preservou o senador Aécio Neves na presidência, enquanto é alvo de acusações.
Franco é estrategista-chefe e presidente do conselho de administração da gestora Rio Bravo Investimentos. Foi presidente do Banco Central (1997-1999), no governo FHC. Participou da formulação do Plano Real. Recentemente, se filiou ao Partido Novo. Formação — é bacharel (1979) e mestre (1982) em economia pela PUC do Rio e doutor pela Universidade Harvard (1986).
Gustavo Franco diz não pretende se candidatar na próxima eleição — “Tanto que fui para um cargo de direção e, pelas normas do partido, quem está nesses cargos está impedido de concorrer”.
Franco escreveu uma carta a para explicar a desfiliação — porque deixou o PSDB — segundo ele:
“As razões estavam todas ali, bem explicadas. No detalhe, há uma questão antiga de como o partido de denominação social-democrata se torna mais contemporâneo. Mais em sintonia com os temas de uma economia de mercado que o Brasil precisa se tornar. O PSDB sempre praticou isso quando foi governo federal, embora tivesse um certo incômodo com essa prática e um discurso um tanto ambíguo. É uma questão antiga.
Ficou mais desconfortável depois da Presidência do Fernando Henrique, quando sucessores dele no partido, os candidatos [José] Serra [senador], Geraldo [Alckmin, governador de São Paulo] e mesmo o Aécio, não tinham a mesma capacidade que Fernando Henrique de, vamos dizer, ter uma prática diferente da herança social-democrática da geração 1988, que marcava muito a origem do PSDB.
Isso criava desconforto para mim e muitos outros economistas do partido, mas era muito mais teórico do que real, sobretudo se o partido está fora do governo. Mas depois apareceu a questão específica do Aécio e sobre como o partido deveria se comportar diante de uma dúvida ética.
A questão do Aécio pesou, sim. Como gesto político, podia ter se afastado para montar a sua defesa. Mas ficar presidente do partido com todas essas dúvidas, para dizer o mínimo, é difícil. Aí houve uma questão imediata: era para fazer o que, no passado, cobramos do PT.
Mas eu sou apenas um professor universitário. Como filiado de muitos anos, mandei minha carta, com meus pensamentos. Não aconteceu nada. Procurei outro partido, onde estou muito confortável e muito feliz.”




Estado Islâmico ameaça matar o príncipe George e os jogadores de futebol Neymar e Messi



Príncipe George


O Estado Islâmico (ISIS ou Daesh) teria ameaçado matar o príncipe George em um ataque à sua escola, segundo informações publicadas em jornais estrangeiros como Mirror, Daily Mail, Metro e Correio da Manhã, entre outros, neste fim de semana.
As mensagens teriam sido enviadas por meio do aplicativo de Telegram, que mantém a localização do usuário em sigilo, com textos criptografados.
O primogênito de William e Kate Middleton, duque e duquesa de Cambridge, no Reino Unido, tem apenas 4 anos e é aluno da creche ou pré-escola Westacre Montessori School, em Londres.
De acordo com o que foi divulgado, um canal ligado ao grupo terrorista teria publicado uma foto do pequeno em que aparece próximo à instituição de ensino infantil e usado a seguinte legeda: “A escola começa cedo”.
Segundo o The Star, o post teria incluído ainda uma mensagem escrita em árabe que poderia ser traduzida como “quando a guerra vem com a melodia das balas, nós caímos na descrença, desejando retaliação”.



Lionel Messi e Neymar 


Os jogadores Neymar e Lionel Messi foram retratados em uma ameaça do Estado Islâmico à Copa do Mundo de 2018, na Rússia. O pôster mostra um terrorista que segura Neymar, de joelhos com as mãos atadas para trás e um semblante de desespero, enquanto Messi aparece executado com uma bandeira do Estado Islâmico fincada em seu corpo. O novo cartaz foi divulgado dias após os jihadistas da Wafa Media Foundation, que apoia o Estado Islâmico, divulgarem uma imagem mostrando Messi, com um dos olhos sangrando, vestindo uma roupa de presidiário com seu nome escrito.



Neymar e Messi em montagem feita pelo Estado Islâmico ameaçando os jogadores


Estado Islâmico ameaça Copa do Mundo com pôster de Messi chorando sangue


Antes do cartaz com Neymar e Messi e do outro em que o argentino figura sozinho, o organização divulgou outras imagens na campanha contra a Copa. Há duas semanas, um outro pôster mostrava o símbolo da Copa do Mundo ao lado de um homem com uma máscara, onde estava escrito: “Espere por nós.” Em uma outra ameaça, a Wafa divulgou um pôster que mostrava um jihadista observando o estádio Luzhniki, em Moscou, que receberá partidas da Copa, com a frase: “Inimigos de Alá na Rússia, juro que o fogo dos mujahedins queimará vocês. Aguardem.”




75% dos brasileiros não acreditam que PSDB
possa eleger presidente




O PSDB recebeu dados que colocam na ponta do lápis a erosão de sua base eleitoral. Uma pesquisa encomendada pela sigla mostra que 75% dos brasileiros não acreditam que o próximo presidente será um tucano. No Nordeste, o quadro é ainda pior: 84%.
Num recorte só com simpatizantes do partido, o estudo apontou os pilares para a descrença na legenda: a permanência de Aécio Neves (MG) no PSDB e as intermináveis brigas internas.
Os dados chegaram ao PSDB acompanhados de análise para restaurar a imagem da sigla. O diagnóstico parece estar sendo levado ao pé da letra pela legenda.
Atualmente, o partido é o que mais perde engajamento em plataformas como o Facebook e o Twitter. Só em outubro, caiu 44%.
Análise das interações nas redes sociais mostra que 98% das menções ao PSDB são negativas.
Ao explicitar a intenção de permanecer no comando do PSDB,  Tasso Jereissati (CE) confirmou projeções da ala que discorda de sua conduta à frente do partido. O grupo acha que o senador cearense é incapaz de unificar o partido e parece disposto a lançar ao mar metade da bancada na Câmara.
O outro candidato à direção do PSDB é Marconi Perillo, governador de Goiás. Ele entrou na disputa defendendo a indicação de Geraldo Alckmin para a eleição presidencial. O gesto foi considerado estratégico: assim fica difícil para o tucano paulista desmerecer suas pretensões.
Marconi manda no PSDB de Goiás há mais de uma década. O fator é lembrado como um ativo na disputa com Tasso. O governador tem base mais ampla do que o adversário cearense.




Conselho Nacional de Justiça decidiu processar magistrados que se manifestaram contra o impeachment de Dilma em 2016






O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu abrir procedimento administrativo contra quatro magistrados do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro que se manifestaram em 2016 contra o impeachment de Dilma.
Durante a sessão do CNJ que decidiu pela abertura do procedimento, na terça-feira, 24.out.2017, foram exibidos vídeos da manifestação, em que os juízes aparecem usando um microfone para ‘defender a democracia’ e criticar o que veem como ‘golpe’ contra Dilma.
“Não está sendo fácil pra Dilma governar. Eu não poderia deixar de dizer que estou aqui pra apoiar a Dilma como mulher”, disse uma juíza, na ocasião. Outra magistrada afirmou durante o protesto que ‘nós não queremos o golpe’ e ‘que vai ter luta’.
Para o corregedor nacional de Justiça, ministro João Otávio Noronha, ‘as imagens dizem tudo’. “Ser juiz não é ser um cidadão comum. O juiz tem normas de comportamento, como tem o engenheiro, o perito …”
A Constituição Federal veda aos juízes a participação em atividades político-partidárias. O Código de Ética da Magistratura, por sua vez, estabelece que o magistrado ‘deve comportar-se na vida privada de modo a dignificar a função, cônscio de que o exercício da atividade jurisdicional impõe restrições e exigências pessoais distintas das acometidas aos cidadãos em geral’.




quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Temer perde apoio, mas consegue barrar 2ª denúncia na Câmara




Com 12 votos a menos que na votação da primeira denúncia, o presidente Michel Temer conseguiu, por 251 votos a 233, barrar na quarta-feira (25.out.2017) o prosseguimento da segunda acusação formal contra ele apresentada pela Procuradoria-Geral da República.
A sessão na Câmara terminou por volta das 21h30 e evita que o Supremo Tribunal Federal analise a acusação contra Temer e dois de seus ministros, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral).
Apesar de os governistas terem levado oito horas para reunir o número mínimo de deputados para abrir a sessão, o resultado repete o desfecho da análise da primeira denúncia da Procuradoria-Geral da República, em agosto, que foi barrada por 263 votos a 227.
Os dois casos — acusação de corrupção passiva na primeira e obstrução da Justiça e organização criminosa, na segunda — ficam congelados e só voltam a tramitar após o fim do mandato de Temer, em janeiro de 2019.
O resultado final dessa quarta-feira (25.out.2017) encerra o conturbado momento político iniciado em maio de 2017 com a divulgação do áudio da conversa entre Temer e o empresário Joesley Batista.

O PSDB, principal aliado do PMDB no governo, rachou durante todo a crise. De um lado, o grupo de Aécio Neves (MG), favorável a Temer, e de onde saiu o relatório favorável a Temer. De outro, o de Geraldo Alckmin (SP) e Tasso Jereissati (CE), contra, além da maioria dos deputados mais jovens do partido.
Apesar de o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) ter declarado que seria "melhor para o país" a permanência de Michel Temer à frente da Presidência, a bancada tucana paulista repetiu o voto em massa contra o peemedebista na votação da segunda denúncia de corrupção da Procuradoria-Geral da República.
Na votação do primeiro relatório contra Temer, em agosto, foram 12 tucanos a favor de investigar Temer e 1 contra. Agora, o placar foi 10 a 1 — o único voto pró-Temer se repetiu: a deputada Bruna Furlan.
O governador Geraldo Alckmin nunca foi entusiasta do apoio do partido ao governo Temer, embora tenha oscilado em suas declarações. O fiador principal da aliança era Aécio Neves, senador e presidente licenciado do PSDB, que hoje briga para manter-se desta forma até pelo menos a convenção nacional do partido em dezembro.
Aécio caiu em desgraça com a delação da JBS, chegou a ser afastado do mandato, mas o recuperou numa intrincada operação que envolveu o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. Ele insiste em ficar, e a tendência do partido é tentar empurrar com a barriga, contando com a ausência do presidente interino, Tasso Jereissati (CE), da lista de candidatos a ficar na chefia durante a campanha de 2018.
O nome de consenso, que agrada a vários setores, é o do governador goiano, Marconi Perillo.

Nos discursos da sessão desta quarta, Temer foi acusado por vários deputados de comprar votos para permanecer no poder. “Não aceitamos que o presidente da República tenha que trocar votos por trabalho escravo no país”, afirmou Alessandro Molon (Rede-RJ). “São movidos por dinheiro. São confessadamente movidos por dinheiro”, disse Miro Teixeira (Rede-RJ). O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pediu para tirar essas últimas palavras dos autos.

Entre os defensores, discursou Wladimir Costa (SD-PA). “Para falar mal do presidente Temer tem que lavar a boca com soda cáustica. Os avanços estão aí”, discursou o deputado, que se notabilizou ao afirmar durante a análise da primeira denúncia ter feito uma tatuagem do peemedebista em seu corpo. Depois de questionamentos sobre a veracidade da homenagem vir à tona, ele admitiu que se tratava apenas de um desenho que sai com água e sabão.




Banco Central reduz taxa de juros pela nona vez seguida e Selic recua para 7,5% ao ano






Na nona redução seguida do juro básico, o Banco Central (BC) confirmou a expectativa do mercado e diminuiu, na quarta-feira (25.out.2017), a intensidade do corte da Selic, que caiu de 8,25% para 7,5% ao ano. A última vez em que a taxa esteve neste patamar foi em maio de 2013.
A decisão foi unânime. O corte, de 0,75 ponto percentual, veio em linha com a expectativa dos 37 economistas consultados pela agência internacional Bloomberg — nenhum via decisão diferente. Desde fevereiro, o Banco Central vinha aplicando reduções de 1 ponto percentual na Selic.
No comunicado divulgado junto com a decisão, o Banco Central informou que o exterior tem se mostrado favorável, sem que a recuperação da economia global diminua o apetite a risco em relação aos emergentes.
Segundo o Copom, o comportamento da inflação "permanece favorável". Porém, seu cenário para a evolução dos preços envolve riscos, como "possíveis efeitos secundários do choque favorável nos preços de alimentos e da inflação de bens industriais em níveis correntes baixos" e que a possível propagação, por inércia, do nível baixo de inflação.
Por outro lado, diz o Comitê, a frustração com a aprovação das reformas e ajustes necessários para a economia brasileira "pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária".
Os membros do Copom indicaram ainda que, na próxima reunião, em dezembro, se o cenário evoluir conforme esperado e em razão do estágio do ciclo de flexibilização, será adequada "uma redução moderada na magnitude de flexibilização monetária".
No entanto, destacou que o processo de corte "continuará dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos, de possíveis reavaliações da estimativa da extensão do ciclo e das projeções e expectativas de inflação".

RITMO MENOR — A intensidade menor do corte já havia sido sinalizada pelo BC no comunicado da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). Na ocasião, a autoridade monetária disse que, se o cenário evoluísse conforme esperava, poderia ser adequada "uma redução moderada na magnitude de flexibilização monetária".
A expectativa do mercado é que a Selic encerre o ano em 7%. Isso significa que os economistas calculam que o BC vai diminuir novamente a intensidade do corte da taxa básica, para uma redução de 0,50 ponto percentual na última reunião do Copom, que ocorrerá nos dias 5 e 6 de dezembro.
A tendência de queda deve levar os juros básicos ao menor nível em 60 anos. Para 2018, a projeção é que a Selic termine a 7%, em linha com o atual cenário de inflação sob controle na economia brasileira.
Em setembro, o IPCA, a inflação oficial do país, subiu 0,16%, após alta de 0,19% no mês anterior, informou o IBGE. No ano, o avanço é de 1,78% — menor resultado registrado pelo IBGE desde 1998 para o mês de setembro. Em 12 meses, a alta é de 2,54%.
Segundo o Boletim Focus, do Banco Central, o IPCA deve encerrar o ano a 3,06%, levemente acima do piso de 3% ao ano.
O Banco Central vem reduzindo a taxa básica desde outubro do ano passado. Economistas já esperam que essas quedas se reflitam em uma consolidação da recuperação da atividade econômica do país agora no terceiro trimestre.
Depois de subir 0,2% no segundo trimestre e 1% nos primeiros três meses do ano, a projeção para o terceiro trimestre é de avanço de 0,2%, segundo dados da Bloomberg.
Conforme o Focus, a economia deve crescer 0,73% neste ano e 2,5% em 2018.





PLENÁRIO - Análise da denúncia contra Temer e ministros 25/10/2017







Atualização (às 21 horas): Neste momento a Câmara do Deputados acaba de sepultar a segunda denúncia contra Temer.




Atualização (às 21:40): Neste momento a Câmara do Deputados acaba com a sessão de votação da segunda denúncia contra Temer.
Os Deputados rejeitaram as acusações de obstrução e participação em organização criminosa.





domingo, 22 de outubro de 2017

Candidatura do apresentador Luciano Grostein Huck entusiasma mercado e siglas



Luciano Grostein Huck


Uma eventual candidatura de Luciano Huck ao Planalto saiu do anedotário. Na última semana, o apresentador tornou-se assunto central em conversas de grandes investidores e analistas do mercado. Ele é visto como a alternativa mais palatável entre os outsiders (os estranhos). Representaria o pensamento liberal para a economia, sem conservadorismo nos costumes.
No mundo político, movimento semelhante. Pesquisas que chegaram a Luciano Huck e a partidos indicam forte potencial de voto no Nordeste. Huck também pede análises sobre nomes que estão cotados ao Planalto, como o governador e o prefeito de São Paulo — Geraldo Alckmin e João Doria — do PSDB.
O apresentador tem feito uma série de reuniões reservadas com alguns dos mais influentes empresários e economistas do país. Sempre ouve mais do que fala. Não evidencia intenção de ser candidato, mas diz que quer conhecer projetos para o país. Armínio Fraga faz às vezes de cicerone.
Luciano Huck costuma contar experiências em tom motivacional. Tem dito que a vida é dividida em fases e que chegou o momento de ele “retribuir” o que recebeu do país.
O apresentador conversou com publicitários. Ouviu que tem apelo entre os mais pobres e que não precisaria antecipar a campanha. Por ser extremamente conhecido, teria condições de se apresentar para o jogo às vésperas da partida.
O assédio do PIB a Huck virou motivo de gracejo entre analistas do mercado financeiro. Os empresários que estimulam sua candidatura têm sido chamados de “viúvas de Doria”.
“Quero e vou participar deste processo de renovação política no Brasil”, afirmou Luciano Grostein Huck em artigo publicado na quarta-feira (18.out.2017). Como os profissionais do ramo, ele evita revelar seus próximos passos. “Fora do dia a dia da política, minha contribuição pode ser mais efetiva”, desconversa.
O apresentador se movimenta sem muita discrição. Ele tem conversado com quatro partidos: DEM, PPS, Rede e Novo. Nas últimas semanas, recebeu ao menos dois ministros do governo federal. Um interlocutor diz que ele é cauteloso, mas demonstra “muita vontade” de se lançar. A ideia ganhou força com o desgaste de João Doria, que surfou a onda da antipolítica em 2016.
Há seis meses, o instituto de pesquisa Datafolha testou o nome de Huck num cenário com dez presidenciáveis e o apresentador ficou com apenas 3% das intenções de voto. Seus amigos apostam num crescimento rápido se ele assumir a candidatura até abril de 2018.
Os entusiastas da ideia dizem que o apresentador daria um rosto simpático ao discurso impopular das reformas. Seria uma boia para os náufragos do governo federal e do PSDB. Ao mesmo tempo, ele teria potencial para “entrar no Nordeste” e disputar votos nas bases do lulismo.
No entanto, a aventura seria mais arriscada para o próprio Huck que teria que abrir mão de contratos milionários e da paz das celebridades. Nos últimos dias, ele já passou a ser cobrado pela proximidade com figuras como Aécio Neves, Sérgio Cabral e Eike Batista. Explicar essas amizades numa campanha pode ser mais difícil do que consertar uma lata velha na TV.



Tempos e movimentos

O maior bem de uma sociedade livre e verdadeiramente democrática é o direito de cada um expressar sua opinião. Elas variam. Os fatos não.
Tenho pensado, lido, refletido e ouvido muita gente sobre os melhores caminhos para tirar o Brasil desta triste situação em que nos encontramos. Os caminhos divergem, mas nunca vi tanta gente genuinamente empenhada em contribuir e se envolver.
Como já me comprometi publicamente antes, quero e vou participar deste processo de renovação política no Brasil.
Reafirmo que continuo achando que, de onde estou, fora do dia a dia da política, minha contribuição pode ser mais efetiva e relevante.
Acredito que esta fratura exposta que comprometeu, expôs e derreteu a estrutura política nacional arrastou a todos nós — sem discriminar crenças, ideologias ou situação social — para uma crise econômica e caos social sem precedentes.
Mas também sinto que ela pode ser uma das maiores oportunidades para abrir um novo ciclo na história da República, ressignificar nossas instituições e, principalmente, reorientar os valores e princípios daqueles que querem servir.
Assim, para que no futuro não tenhamos mais os assustadores vácuos de liderança que hoje estamos vivenciando, este deserto de opções relevantes e a escassez de projetos e ideias oxigenadas e possíveis dentro das estruturas formais do poder, para fazer do Brasil um país mais justo, entendo que o melhor caminho será “ocupar”, por meio do voto, o Legislativo brasileiro com cérebros, sinapses, ideias e ideais de primeira qualidade.
O dia em que a Câmara dos Deputados e o Senado Federal forem compostos, em sua maioria, por pessoas íntegras, éticas, genuinamente bem-intencionadas e comprometidas com o bem comum, independentemente das suas ideologias, as soluções para as questões do país florescerão. O debate será de qualidade, as ideias idem.
Dali sairão líderes relevantes, presidentes da República, gabinetes e políticas públicas que sejam viáveis e transformadoras de verdade.
Essa “ocupação”, porém, não será do dia para a noite. Será um longo e árduo processo, que pode até ser retardado, refreado pelos atuais detentores do poder político — que hoje, salvo exceções, legislam em causa ou defesa própria.
Mas é um processo irreversível, simplesmente porque o eleitor há muito não se sente representado por grande parte da classe política que está aí. Como já disse, há exceções, claro, mas são a minoria absoluta.
Por isso, quero contribuir na construção dessa nova realidade representativa. Nós, sociedade civil, temos de ajudar a abrir espaços, levantar a bandeira da renovação, encorajar cidadãos bem-intencionados e bem preparados a se candidatar e mobilizar a sociedade para que trate o voto como a melhor arma de transformação. Não há outra.
Assim, quero e vou apoiar movimentos cívicos de curadoria e fomento. Movimentos que incentivem a participação política do cidadão comum, que contribuam para a elaboração de propostas que deem um novo rumo ao país.
Movimentos como o Agora, em que profissionais respeitados e competentes das mais variadas áreas de atuação, todos com vocação pública e experiência, estão se mobilizando para criar uma onda positiva de engajamento, escuta popular e lançamento de candidaturas alternativas ao que temos por aí.
Como membro, quero contribuir para o debate, aprender e trocar ideias com as boas cabeças que ali estarão orbitando.
Um movimento para impactar a agenda pública e a ação política a partir de cidadãos comuns.
Ou o Renova Brasil, um grupo diverso de empresários, intelectuais, empreendedores, gestores e profissionais liberais, que se articularam para criar um fundo cívico de fomento e apoio à formação de novos políticos, novas lideranças.
Um grande funil ético em que qualquer um que queira buscar recursos, aprendizado, formação técnica, apoio à concepção de políticas públicas — independentemente de ideologias, bandeiras, partidos — encontre apoio. Basta ser ético e comprometido com o bem comum.
Acredito nesses movimentos. E não só neles. A renovação política passa por eles, não importa se de esquerda, direita, centro. Tanto faz. Temos que melhorar o nível do debate, do compromisso da população com seu destino.
Ética e altruísmo não têm cor nas suas bandeiras.

Artigo publicado na quarta-feira (18.out.2017) por Luciano Grostein Huck