Falta de transparência da economia chinesa cria princípio de pânico no mercado
O princípio de pânico que tomou os mercados tem como uma de suas principais causas a falta de transparência da economia da China
O princípio de pânico que tomou os mercados na segunda-feira
(24.ago.2015) tem como uma de suas principais causas a falta de
transparência da economia da China. Ninguém sabe o tamanho da encrenca
enfrentada pelo setor produtivo nem a verdadeira situação dos bancos.
São tremores de forte intensidade que atingem a segunda maior locomotiva
do mundo. Trata-se de grande importadora de alimentos, de energia e de
matérias-primas (commodities). No entanto, ostenta uma administração
hermética, embora aberta aos capitais, cujos administradores de tempos
em tempos, como agora, sentem que operam na escuridão.
Há duas semanas, o Banco do Povo da China deu início a um processo que
desvalorizou a moeda nacional, o yuan, em cerca de 2,9%. A decisão foi
percebida como sinal de fragilidade. Imediatamente levantou questões
sobre se o ajuste cambial seria suficiente para puxar pelas exportações
e, em seguida, pela alta das importações de commodities.
A Bolsa de Xangai já caiu 12,39% apenas neste mês, também por falta de
clareza. No sábado (22.ago.2015), o Conselho Estatal da China pela
primeira vez autorizou os fundos de pensão administrados por governos
locais a adquirir ações para suas carteiras e, assim, criar mais demanda
para ativos em rejeição. Apesar desse empurrão, as ações mergulharam
8,5% na segunda-feira (24.ago.2015), aparentemente porque os
investidores viram nessa decisão reconhecimento implícito de que a
economia chinesa está muito desarrumada.
Os mercados suspeitam de que haja uma bolha em processo de perfuração,
que não alcança só o mercado de ações, mas, também, o mercado
imobiliário e os bancos, que podem estar excessivamente carregados com
títulos ruins.
Mas não dá para ignorar a importância de três fatores positivos. O
primeiro é o ritmo da produção e da criação de renda. Por mais que venha
sendo atingido pela tempestade, o PIB da China segue crescendo acima de
qualquer outra economia do mundo, a um ritmo que pode não ser mais de
7,0% ao ano, mas está entre 6,0% e 6,5%. O segundo é a montanha de
reservas de US$ 3,7 trilhões, que deveria passar mais segurança às novas
manadas de sinocéticos. E o terceiro, o de que, seja como for, a China
seguirá como grande importadora de commodities, especialmente de
alimentos.
As convulsões chinesas vêm sendo transmitidas em onda pelo resto do
mundo porque atingem os países emergentes, entre os quais o Brasil, seus
grandes fornecedores.
Se a derrubada dos preços das commodities se intensificar - e persistir
-, será inevitável o impacto deflacionário nas economias maduras. Um
processo acentuado de deflação produz estragos equivalentes ou até
maiores do que os da inflação, porque adia as compras dos consumidores,
que ficam à espera de queda de preços, reduz a arrecadação dos governos e
aumenta as dívidas, na medida em que estas não encolhem na proporção em
que encolhem preços e salários.
Nessas condições do mar, o capitão despeja as cargas para aliviar o
navio. Mas hoje, no Brasil, a crise política, tão grande ou até maior do
que a econômica, vem lançando dúvidas sobre quem de fato comanda o
navio.
Mais um adiamento? A deterioração da economia dos
países emergentes não interessa às economias maduras, porque lhes tira
mercado exportador. Nas outras crises, o Federal Reserve (Fed, o banco
central dos Estados Unidos) participou ativamente do ajuste por meio da
derrubada dos juros. Mas, desta vez, os juros estão prostrados e não há
como derrubá-los mais. Isso sugere que o Fed não tem outra opção senão
adiar para 2016 o início da tão esperada alta dos juros (valorização do
dólar).
Atualizando: Após 'segunda-feira negra', Bolsas na Ásia voltam a fechar em forte queda
Depois de levar pânico aos mercados mundiais na segunda-feira
(24.ago.2015), quando a Bolsa de Xangai caiu 8,49%, o mercado acionário
chinês voltou a sofrer fortes perdas nesta terça-feira (25.ago.2015). Na
ausência de novas medidas por parte do governo, o principal índice da
Bolsa de Xangai encerrou o dia em queda de 7,63%.
A queda na segunda-feira (24.ago.2015) foi a maior desde 2007. Desde seu pico, em 12 de junho, a queda acumulada é de 42%.
O índice Nikkei da Bolsa de Tóquio fechou a terça-feira (25.ago.2015) em
forte queda de 3,96%, aos 17.806,70 pontos. O segundo indicador, o
Topix, que reúne os valores da primeira seção, caiu 3,25%, para 1.432,65
pontos.
As demais Bolsas da Ásia mostraram volatilidade ao longo do dia, abrindo em baixa, mas recuperando e fechando com leves altas.
As principais Bolsas europeias, por sua vez, abriram o dia com leves
altas. Londres iniciou o pregão com ganho de 1,65%, Paris, 1,84%,
Frankfurt, 1,87%, Madri, 1,25%, e Milão, 1,97%.
Nenhum comentário:
Postar um comentário