terça-feira, 18 de agosto de 2015


País vê governo Dilma como 'ilegítimo' e renúncia seria 'gesto de grandeza', diz FHC

 Fernando Henrique Cardoso
ex-presidente
Após as manifestações contra o governo tomarem conta de ruas em todos os Estados do país, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) deu na segunda-feira (17.ago.2015) seu mais duro recado ao governo Dilma Rousseff e seu partido, o PT.
Para FHC, o "mais significativo das demonstrações, como a de ontem" [domingo, 16.ago.2015] é a persistência do sentimento popular de que o governo, "embora legal, é ilegítimo".
O tucano vai além e diz que Dilma precisa ter "um gesto de grandeza" e cita a renúncia como um dos caminho disponíveis à petista.
"Se a própria presidente não for capaz do gesto de grandeza (renúncia ou a voz franca de que errou, e sabe apontar os caminhos da recuperação nacional), assistiremos à desarticulação crescente do governo", prevê o tucano.
FHC diz que falta ao atual governo a "base moral, que foi corroída pelas falcatruas do lulopetismo".
"Com a metáfora do boneco vestido de presidiário, a presidente, mesmo que pessoalmente possa se salvaguardar, sofre contaminação dos malfeitos de seu patrono e vai perdendo condições de governar."
O ex-presidente falou sobre o assunto em texto publicado em sua página em uma rede social na segunda-feira (17.ago.2015). Ao final, diz que sem um mea-culpa ou a renúncia, a situação se agravará "a golpes de Lava Jato", e arremata: "Até que algum líder com força moral diga, como o fez Ulysses Guimarães a Collor: você pensa que é presidente, mas já não é mais."
Fernando Henrique também condenou os "conchavos de cúpula", que, a esta altura, só contribuem para aumentar "a reação popular negativa e não devolvem legitimidade ao governo, a aceitação de seu direito de conduzir".
A frase foi vista como uma referência ao aceno que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fez em direção ao Planalto na semana passada, ao sugerir a adoção de uma agenda de reformas econômicas para evitar o aprofundamento da crise.
O Palácio do Planalto foi surpreendido com a mudança de tom de Fernando Henrique, que até agora adotava um discurso conciliador ao tratar do governo. Nos bastidores, a avaliação foi que a oposição quer se associar ao espírito das ruas e se afastar do movimento de aproximação com o governo liderado por Renan, que tem entre seus aliados o senador José Serra (PSDB-SP).

ANÁLISE POLÍTICA
Pouco depois de divulgar sua mensagem nas redes sociais, FHC reuniu em seu apartamento, em São Paulo, os dois líderes que despontam como opções do PSDB para a próxima eleição presidencial, o senador mineiro Aécio Neves e o governador paulista, Geraldo Alckmin, e sugeriu que os políticos alinhem seus discursos.
De acordo com relatos feitos, Fernando Henrique fez uma análise do cenário político e disse que o partido deveria falar a mesma língua ao discutir as alternativas para o país sair da crise.
Há duas semanas, aliados de Aécio defenderam a renúncia de Dilma e do vice-presidente Michel Temer, e a convocação de novas eleições. Alckmin têm se manifestado com cautela sobre a possibilidade de afastamento de Dilma agora, quando ele não teria condições de deixar o governo do Estado para disputar a indicação do PSDB e se candidatar à Presidência.
Logo após o encontro de FHC com Aécio e Alckmin, o senador Aloysio Nunes (SP), que foi vice da chapa de Aécio na eleição presidencial de 2014, subiu à tribuna do Senado e disse que, se um pedido de impeachment fosse submetido hoje ao plenário da Câmara, o PSDB votaria pelo afastamento de Dilma.
Tucanos interpretaram a fala de Aloysio, que continua muito próximo a Aécio, como um recuo do discurso adotado anteriormente pelos aliados de Aécio que defenderam a realização de nova eleição.

A ÍNTEGRA DA NOTA DE FHC
O mais significativo das demonstrações, como as de ontem, é a persistência do sentimento popular de que o governo, embora legal, é ilegítimo. Falta-lhe a base moral, que foi corroída pelas falcatruas do lulopetismo. Com a metáfora do boneco vestido de presidiário, a Presidente, mesmo que pessoalmente possa se salvaguardar, sofre contaminação dos malfeitos de seu patrono e vai perdendo condições de governar. A esta altura, os conchavos de cúpula só aumentam a reação popular negativa e não devolvem legitimidade ao governo, isto é, a aceitação de seu direito de mandar, de conduzir. Se a própria Presidente não for capaz do gesto de grandeza (renúncia ou a voz franca de que errou, e sabe apontar os caminhos da recuperação nacional), assistiremos à desarticulação crescente do governo e do Congresso, a golpes de Lavajato. Até que algum líder com forca moral diga, como o fez Ulysses Guimarães ao Collor: você pensa que é presidente, mas já não é mais.


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