País vê governo Dilma como 'ilegítimo' e renúncia seria 'gesto de grandeza', diz FHC
Fernando Henrique Cardoso ex-presidente |
Após as manifestações contra o governo tomarem conta de ruas em todos os
Estados do país, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) deu
na segunda-feira (17.ago.2015) seu mais duro recado ao governo Dilma
Rousseff e seu partido, o PT.
Para FHC, o "mais significativo das demonstrações, como a de ontem"
[domingo, 16.ago.2015] é a persistência do sentimento popular de que o
governo, "embora legal, é ilegítimo".
O tucano vai além e diz que Dilma precisa ter "um gesto de grandeza" e
cita a renúncia como um dos caminho disponíveis à petista.
"Se a própria presidente não for capaz do gesto de grandeza (renúncia ou
a voz franca de que errou, e sabe apontar os caminhos da recuperação
nacional), assistiremos à desarticulação crescente do governo", prevê o
tucano.
FHC diz que falta ao atual governo a "base moral, que foi corroída pelas falcatruas do lulopetismo".
"Com a metáfora do boneco vestido de presidiário, a presidente, mesmo
que pessoalmente possa se salvaguardar, sofre contaminação dos malfeitos
de seu patrono e vai perdendo condições de governar."
O ex-presidente falou sobre o assunto em texto publicado em sua página
em uma rede social na segunda-feira (17.ago.2015). Ao final, diz que sem
um mea-culpa ou a renúncia, a situação se agravará "a golpes de Lava
Jato", e arremata: "Até que algum líder com força moral diga, como o fez
Ulysses Guimarães a Collor: você pensa que é presidente, mas já não é
mais."
Fernando Henrique também condenou os "conchavos de cúpula", que, a esta
altura, só contribuem para aumentar "a reação popular negativa e não
devolvem legitimidade ao governo, a aceitação de seu direito de
conduzir".
A frase foi vista como uma referência ao aceno que o presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fez em direção ao Planalto na semana
passada, ao sugerir a adoção de uma agenda de reformas econômicas para
evitar o aprofundamento da crise.
O Palácio do Planalto foi surpreendido com a mudança de tom de Fernando
Henrique, que até agora adotava um discurso conciliador ao tratar do
governo. Nos bastidores, a avaliação foi que a oposição quer se associar
ao espírito das ruas e se afastar do movimento de aproximação com o
governo liderado por Renan, que tem entre seus aliados o senador José
Serra (PSDB-SP).
ANÁLISE POLÍTICA
Pouco depois de divulgar sua mensagem nas redes sociais, FHC reuniu em
seu apartamento, em São Paulo, os dois líderes que despontam como opções
do PSDB para a próxima eleição presidencial, o senador mineiro Aécio
Neves e o governador paulista, Geraldo Alckmin, e sugeriu que os políticos alinhem seus discursos.
De acordo com relatos feitos, Fernando Henrique fez uma análise do
cenário político e disse que o partido deveria falar a mesma língua ao
discutir as alternativas para o país sair da crise.
Há duas semanas, aliados de Aécio defenderam a renúncia de Dilma e do
vice-presidente Michel Temer, e a convocação de novas eleições. Alckmin
têm se manifestado com cautela sobre a possibilidade de afastamento de
Dilma agora, quando ele não teria condições de deixar o governo do
Estado para disputar a indicação do PSDB e se candidatar à Presidência.
Logo após o encontro de FHC com Aécio e Alckmin, o senador Aloysio Nunes
(SP), que foi vice da chapa de Aécio na eleição presidencial de 2014,
subiu à tribuna do Senado e disse que, se um pedido de impeachment fosse
submetido hoje ao plenário da Câmara, o PSDB votaria pelo afastamento
de Dilma.
Tucanos interpretaram a fala de Aloysio, que continua muito próximo a
Aécio, como um recuo do discurso adotado anteriormente pelos aliados de
Aécio que defenderam a realização de nova eleição.
A ÍNTEGRA DA NOTA DE FHC
O mais significativo das demonstrações, como as de ontem, é a persistência do sentimento popular de que o governo, embora legal, é ilegítimo. Falta-lhe a base moral, que foi corroída pelas falcatruas do lulopetismo. Com a metáfora do boneco vestido de presidiário, a Presidente, mesmo que pessoalmente possa se salvaguardar, sofre contaminação dos malfeitos de seu patrono e vai perdendo condições de governar. A esta altura, os conchavos de cúpula só aumentam a reação popular negativa e não devolvem legitimidade ao governo, isto é, a aceitação de seu direito de mandar, de conduzir. Se a própria Presidente não for capaz do gesto de grandeza (renúncia ou a voz franca de que errou, e sabe apontar os caminhos da recuperação nacional), assistiremos à desarticulação crescente do governo e do Congresso, a golpes de Lavajato. Até que algum líder com forca moral diga, como o fez Ulysses Guimarães ao Collor: você pensa que é presidente, mas já não é mais.
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