Burocracia eleva custo da energia em R$ 7,4 bilhões, aponta estudo
Barreiras burocráticas e regulatórias vão impor neste ano um custo de R$
7,4 bilhões às empresas do setor elétrico, o que pode representar até
10% do PIB do setor.
A estimativa do impacto, que contribui para pressionar as tarifas, foi
levantada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) em estudo
inédito.
A maior parte das perdas se dá em decorrência da dificuldade dos
empreendedores em cumprir os prazos fixados para a conclusão das obras
das usinas de geração de energia, considerados irrealistas pelo setor.
Com os atrasos, as geradoras são obrigadas a comprar energia no mercado
de curto prazo, mais caro, para cumprir os contratos de fornecimento até
que as usinas novas entrem em operação. Também ficam sujeitas à
cobrança de multas.
Somente esses fatores vão gerar neste ano um custo de R$ 5,4 bilhões,
projeta o levantamento, que foi feito com base em entrevistas com
investidores e especialistas e em estudos setoriais.
A expectativa é que esse custo caia no próximo ano, como consequência do
cronograma dos empreendimentos previstos, mas volte a subir em 2017.
Como principal obstáculo ao cumprimento dos prazos, o estudo aponta o
complexo processo de obtenção de licenças ambientais e do aval
arqueológico.
O setor reclama que a responsabilidade pelas concessão dessas
autorizações está pulverizada por uma série de órgãos públicos, federais
e estaduais, com exigências que frequentemente se chocam ou sofrem
alterações de um empreendimento para outro.
Outra dificuldade, segundo a CNI, é que, pelas regras vigentes, os
servidores públicos envolvidos no licenciamento podem ser pessoalmente
responsabilizados, em eventuais questionamentos na Justiça. Na opinião
dos investidores, isso estimula decisões excessivamente cautelosas e
rígidas.
O fato de as licenças poderem sofrer questionamentos mesmo depois de
expedidas também é uma queixa recorrente, pois alimenta a
imprevisibilidade dos prazos e, consequentemente, do risco do
investimento.
"Todos perdem", afirma Rodrigo Garcia, especialista em Políticas e
Indústria da CNI, destacando que o risco pressiona os preços dos leilões
e inibe investimentos.
Para atender à multiplicidade de exigências de licenciamento, e também
lidar com o complexo regime tributário do setor, sobre o qual incidem
vários encargos, as empresas terão um custo de R$ 1,3 bilhão neste ano,
de acordo com levantamento.
SUGESTÕES
A CNI levantou uma série de sugestões para lidar com as barreiras, que
envolvem de mudanças de prazos a centralização de decisões. Para Garcia,
o ponto principal são a clareza das regras e a troca de informações com
o setor.
"É preciso ser reforçado o diálogo franco entre os investidores e os órgãos de planejamento central", afirmou.
O Ministério de Minas e Energia afirmou, por meio de sua assessoria, que
está aberto ao diálogo e que tem promovido reuniões periódicas com os
agentes do setor de energia para debater os principais temas.
No levantamento, a CNI computou ainda como barreira burocrática o fato
de não ter sido criada uma regulação específica para o processo de
manutenção de turbinas pelas novas usinas de fio d'água, que operam sem
grandes reservatórios, como Belo Monte (PA).
As regras em vigor põem em risco o cumprimento da meta de
disponibilidade de geração de eletricidade no país, o que gera multas e
também obriga as usinas a comprar energia no mercado de curto prazo. Os
prejuízos nesse caso são estimados em R$ 700 milhões.
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