Estudos apontam caminho para vacina universal contra gripe
Em artigos publicados na Science e na
Nature, cientistas revelam nova estratégia que poderá eliminar vacinação
anual e abranger todos os subtipos de gripe; experimento foi eficaz em
animais
Há anos a ciência busca uma vacina universal para o vírus influenza, que
seria capaz de proteger contra uma ampla gama de variedades de gripe.
Agora, dois grupos diferentes de cientistas descobriram uma maneira de
tornar os anticorpos mais eficazes para múltiplos subtipos do vírus.
O novo método forneceu proteção completa em camundongos e, segundo os
autores, pode ser o caminho para a vacina universal contra a gripe. As
duas pesquisas tiveram seus resultados publicados, simultaneamente, nas
revistas Science e Nature.
Uma das principais características do vírus influenza, segundo os
cientistas, é que ele se modifica constantemente e, por isso, as vacinas
existentes precisam ser atualizadas anualmente. Uma vacina universal,
segundo eles, poderia no futuro eliminar a necessidade de várias rodadas
anuais de vacinação.
"Esse estudo mostra que estamos nos movendo na direção certa para uma
vacina universal contra a gripe", disse um dos autores do estudo da
Science, Ian Wilson, professor do Instituto de Pesquisas Scripps, dos
Estados Unidos.
Segundo Wilson, anualmente a gripe comum causa mais de 200 mil
hospitalizações e 36 mil mortes só nos Estados Unidos. Embora a
vacinação anual proteja contra algumas cepas do vírus, ela não faz
efeito para vários subtipos do vírus que aparecem subitamente - como
aconteceu em 2009 com o subtipo H1N1, conhecido como "gripe suína", que
matou entre 150 mil e 575 mil pessoas no mundo.
As vacinas existentes atualmente têm como alvo a molécula chamada
hemaglutinina (HA), uma proteína que tem como principal função ligar o
vírus ao receptor da célula hospedeira - e que está presente em todos os
subtipos de influenza. O problema é que a "cabeça" dessa molécula se
modifica rapidamente e, por isso, as vacinas precisam ser reformuladas
continuamente.
Nos dois estudos publicados, os cientistas tentaram outra estratégia:
criar vacinas que atuem no "caule" da molécula HA, em vez de atuar na
sua "cabeça". Eles descobriram que, embora a "cabeça" da molécula se
modifique muito, o "tronco" permanece muito parecido, com poucas
mutações, nas diversas cepas de vírus.
Segundo Wilson, uma vacina capaz de fazer o corpo reconhecer a parte da
molécula HA que não sofre mutações seria fatal para o vírus, já que a
proteína é fundamental no processo de infectar as células e está
presente em todos os subtipos.
Os pesquisadores então isolaram essa parte da proteína HA e desenharam
uma vacina que força o corpo a produzir anticorpos específicos contra
ela. "Se o corpo humano puder produzir uma resposta imune contra o
tronco da molécula HA, fica difícil para o vírus escapar", disse Wilson.
No experimento da Science, liderado por Antonietta Impagliazzo, do
Instiuto Crucell de Vacinas, em Leiden, na Holanda, a vacina
experimental desenhada foi capaz de dar proteção total a camundongos
contra os vírus H5N1, da gripe aviária, e H1N1, da gripe suína. A vacina
foi menos eficaz em macacos, mas os animais tiveram sintomas menos
severos de gripe depois da imunização.
O grupo que publicou na Nature, liderado por Barney Graham, do Instituto
Nacional de Saúde dos Estados Unidos, em Maryland, desenhou uma vacina
experimental que também deu proteção completa a camundongos e proteção
parcial a furões. Os animais haviam recebido injeções do vírus H5N1 em
doses que foram fatais para outros animais não vacinados.
Segundo Wilson, no entanto, os experimentos foram apenas uma "prova de
princípio". "Esses testes mostraram que anticorpos induzidos contra um
subtipo específico de influenza poderia proteger contra subtipos
diferentes", afirmou.
O próximo passo, segundo o cientista, é descobrir se a estratégia pode
dar certo para o desenvolvimento de uma vacina que possa ser aplicada em
humanos. "Ainda há muito trabalho a ser feito, mas o objetivo final,
com certeza, seria criar uma vacina cujo efeito durasse a vida toda",
declarou Wilson.
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