Planalto vê imagem de Dilma ‘colada’ na corrupção
Avaliação é que atos reforçaram
vinculação da presidente ao desgaste enfrentado pelo PT e que o PSDB
conseguiu ‘partidarizar’ movimentos
As manifestações contra o governo, nos 26 Estados e no Distrito Federal,
acenderam o sinal amarelo no Palácio do Planalto. A avaliação foi a de
que desta vez a imagem da presidente Dilma Rousseff ficou colada ao
desgaste enfrentado pelo PT no escândalo de corrupção da Petrobrás. O
governo acredita ainda que o PSDB conseguiu “partidarizar” os movimentos
na tentativa de fazer avançar a tese do impeachment.
Em reunião com ministros que compõem a coordenação política do governo, à
noite, Dilma disse considerar que a população, embora insatisfeita, não
apoia iniciativas “golpistas”. O ministro da Justiça, José Eduardo
Cardozo, que passou o dia monitorando os atos em seu gabinete, informou
que as manifestações foram pacíficas, em todo o País.
Para evitar “panelaços” e esvaziar a repercussão dos protestos,
ministros foram orientados a não dar entrevistas após a reunião com
Dilma, no Palácio do Alvorada, que durou duas horas. Coube ao titular de
Comunicação Social, Edinho Silva, emitir um curto comentário.
“O governo viu as manifestações dentro da normalidade democrática”,
disse Silva. “O governo mantém sua agenda de trabalho para em breve o
País voltar a crescer, gerando emprego e distribuindo renda”, emendou,
em post no Twitter.
A ordem do Planalto é destacar a legitimidade dos protestos e dizer que o
governo tem “humildade” para admitir os erros. No diagnóstico de
ministros a crise política arrefeceu, mas está longe de acabar e o
governo precisa tomar cuidado para não demonstrar soberba neste momento
em que os problemas na política prejudicam ainda mais a economia.
Bonecos. Chamaram a atenção de ministros, nas
manifestações, os bonecos de Dilma vestida de “irmã metralha” e do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com roupa de presidiário e a
inscrição 13-171.
Manifestantes trazem bonecos de Dilma e Lula ao protesto de domingo (16.ago.2015) |
A percepção do núcleo político do governo foi a de que Dilma não
conseguiu, até agora, transmitir a ideia de que a Operação Lava Jato, da
Polícia Federal – responsável por desvendar um esquema de corrupção na
Petrobrás – vai passar o País a limpo. Ao contrário: os protestos
mostraram que a operação da Polícia Federal nocauteou o governo, Lula e o
PT.
Fôlego. No entanto, na reunião de domingo
(16.ago.2015), ministros disseram que Dilma acertou, nos últimos dias,
ao sair do Planalto para defender sua gestão e apontar para os riscos de
uma ruptura nas regras do jogo. Com a popularidade em queda livre,
Dilma só ganhou fôlego nos últimos dias após fazer acordo com o
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que divulgou a “Agenda
País” e desviou o foco da crise e do ajuste fiscal – isolando o
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Além disso, a presidente esteve no Maranhão e na Bahia, na semana
passada, para inaugurar obras. Não foi só: tomou café da manhã com
empresários, jantou com senadores aliados e integrantes do Judiciário e
se reuniu com representantes de movimentos sociais dois dias seguidos.
A estratégia vai continuar, nos próximos dias. Em conversas reservadas,
ministros dizem que Dilma errou no passado ao não dialogar com os vários
segmentos da sociedade e também com aliados do PMDB. “Mas agora a ficha
caiu”, constatou um de seus auxiliares.
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