ROBERTO "BOB" MARQUES — BRAÇO-DIREITO DE JOSÉ DIRCEU
A AGENDA DE BOB MARQUES
PF apreende caderneta de bolso (agenda) de Roberto Marques, o Bob, ex-assessor de José Dirceu
Alvo da Pixuleco por suspeita de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobrás, Bob ficou preso 10 dias
Alvo da Pixuleco por suspeita de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobrás, Bob ficou preso 10 dias
A Polícia Federal encontrou na casa de Roberto Marques, o Bob,
braço-direito do ex-ministro José Dirceu, uma agenda com suas anotações
pessoais, incluindo os nomes “Palocci”, “Duque”, “Lula” e “Dilma” –
grafados sob a sigla “JC”. Bob foi preso no dia 3 de agosto. No último
dia 12, a Justiça Federal soltou o ex-assessor de Dirceu.
A agenda de bolso de Bob foi apreendida no dia 3, em São Paulo, na
deflagração da Pixuleco, a 17ª fase da Lava Jato. Intriga os
investigadores anotações lançadas por Bob como ‘busca e apreensão’ entre
os nomes do ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque e do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ou, ainda, ‘se não for para
ganhar dinheiro, fecha agora’.
Bob não faz nenhuma anotação complementar aos nomes escritos em sua
agenda. Ao lado dos nomes do ex-ministro Antonio Palocci
(Fazenda/Governo Dilma), de Renato Duque, Lula e da presidente Dilma não
há observação que explique o motivo da menção a eles.
A PF juntou a caderneta preta do ex-assessor aos autos do inquérito que
mira o ex-ministro sob suspeita de propinas de empreiteiras. Os federais
ainda não fizeram relatório de análise do documento.
No inquérito também são investigados, além de Bob e Dirceu, o irmão do
ex-ministro Luiz Eduardo Oliveira e Silva, seu ex-sócio Julio Cesar dos
Santos e o lobista Fernando de Moura, ligado ao PT.
Bob era funcionário efetivo da Assembleia Legislativa de São Paulo desde
1986. A partir de 2003, ele assumiu cargo na 1ª Secretaria da Casa. Ao
mandar soltar o ex-assessor de Dirceu, o juiz Sérgio Moro impôs a ele
restrições, entre as quais, afastamento imediato do Palácio 9 de Julho,
sede do Legislativo paulista.
COM A PALAVRA — OS ADVOGADOS DE BOB MARQUESEm atenção às indagações, esclarece-se: As anotações são meros rabiscos decorrentes de digressões livres feitas por Roberto Marques em conversa informal com amigos e familiares. Roberto tem por hábito rabiscar papéis enquanto fala e, na oportunidade, estava apenas conversando descompromissadamente sobre fatos veiculados à exaustão no noticiário jornalístico.
Roberto não conhece Dilma. Logo, restam prejudicadas as demais perguntas.
Conheceu Palocci quando este foi deputado estadual em São Paulo. Roberto é funcionário da ALESP desde 1986, mas dele nunca se tornou amigo, tampouco trabalharam juntos.
Quanto a Lula, conheceu-o há muitos anos, pois auxiliou campanhas eleitorais pretéritas de José Dirceu. Nunca possuiu laços de amizade ou de trabalho com o ex-presidente.
Encontrou Renato Duque uma vez em evento público, mas como ele jamais possuiu relação profissional ou de intimidade/proximidade. Permanece-se à disposição para qualquer esclarecimento adicional.
Cordialmente,
Maurício Vasques, Rogério Seguins, Lucas Andreucci e Caio Patricio
BOB MARQUES — TRABALHA DE GRAÇA
Braço-direito de Dirceu diz que trabalha de graça aos finais de semana
Em depoimento à PF em que confessou ter recebido ajuda financeira de ex-ministro, Roberto Marques, o Bob, detalhou sua relação de amizade
Em depoimento à PF em que confessou ter recebido ajuda financeira de ex-ministro, Roberto Marques, o Bob, detalhou sua relação de amizade
O braço-direito de José Dirceu — presos pela Operação Lava Jato, desde o
dia 3 de agosto — Roberto Marques, conhecido como Bob, disse à Polícia
Federal que trabalhou como assessor do ex-ministro de graça durante os
finais de semana, no período em que ele ocupou cargo no governo Luiz
Inácio Lula da Silva, entre 2003 e 2005.
“Em 2003, Dirceu se tornou ministro da Casa Civil e me convidou para que
o assessorasse em São Paulo nas sextas-feiras e sábados, quando fosse
necessário”, afirmou Bob, ouvido no dia 6 de agosto pelo delegado Márcio
Adriano Anselmo, da equipe da Lava Jato.
Bob contou que não tinha vínculo com o Planalto. “Mas sim diretamente
com Dirceu, e que não recebia nada pelo trabalho de assessoramento.”
Preso no dia 3 de agosto junto com Dirceu e seu irmão Luiz Eduardo
Oliveira e Silva e o lobista Fernando de Moura — que seria um dos
operadores de propina do ex-ministro da Petrobrás —, o braço direito
disse que foi chamado “para o trabalho porque tinha grande proximidade”.
“Antes disso prestou assessoramentos esporádicos a Dirceu durante
campanhas eleitorais e em outras ocasiões, mas nunca teve um vínculo
formal com Dirceu, nunca teria sido lotado em nenhum gabinete ocupado
por Dirceu.”
José Dirceu e Roberto 'Bob' Marques |
VALORES MENSAIS — No mesmo depoimento, Bob afirmou
que “por cerca de cinco meses”, em 2011, recebeu R$ 30 mil mensais em
dinheiro vivo do ex-ministro-chefe da Casa Civil. Alegou que naquele ano
“pediu ajuda financeira” a Dirceu, então réu do Mensalão, porque seus
pais estavam com “problemas de saúde” e ele em dificuldades financeiras.
Preso na Operação Pixuleco, 17º capítulo da Lava Jato, cujo alvo maior é
o ex-ministro do governo Lula, Bob chegou a ter sua prisão temporária
renovada no dia 7 pelo o juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações
da Operação Lava Jato, e depois foi liberado no dia 12. Dirceu foi preso
preventivamente, quando a custódia é por tempo indeterminado.
Bob disse que retirava os R$ 30 mil mensais na JD Assessoria e
Consultoria, criada pelo ex-ministro depois que ele foi cassado e perdeu
a cadeira na Casa Civil do governo Lula, no rastro do Mensalão.
Bob é funcionário efetivo da Assembleia Legislativa de São Paulo, lotado
no gabinete da 1ª Secretaria, ocupada pelo deputado Enio Tatto (PT) —
cuja empresa de contabilidade, em sociedade com a mulher, recebeu
pagamentos da JD Assessoria que somaram R$ 1,1 milhão, entre 2009 e
2014.
O braço direito afirmou que há 29 anos, desde que trabalhou com Dirceu
na bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo, acabou se
tornando bastante próximo do ex-ministro.
Em relato da PF, Bob admitiu. “Por cerca de cinco meses, o declarante
retirou R$ 30 mil mensais no escritório da JD Consultoria na (Avenida)
República do Líbano (zona Sul de São Paulo), conforme disponibilizado
por Dirceu e por seu irmão Luiz Eduardo”, transcreveu a PF. “Que não se
recorda se era apenas Luiz Eduardo quem lhe alcançava o dinheiro, mas
que sempre que ia ao escritório perguntava se havia ‘algo’ para o
declarante e, então, recebia o dinheiro.”
Bob disse que o dinheiro ‘era acondicionado em um envelope’. “A
totalidade do dinheiro foi utilizada para custear os cuidados com seus
pais, e que acredita possuir documentação comprobatória dos gastos”,
declarou.
DELAÇÃO PREMIADA — MILTON PASCOWITCH
Delator relata reunião com Dirceu, Vaccari, Duque e Bob, em 2013
Milton Pascowitch disse à Lava Jato que em encontro em sua residência, no Rio, ex-ministro preso tratou sobre nova licitação da Petrobrás envolvendo empresas que pagavam propina
Milton Pascowitch disse à Lava Jato que em encontro em sua residência, no Rio, ex-ministro preso tratou sobre nova licitação da Petrobrás envolvendo empresas que pagavam propina
O operador de propinas Milton Pascowitch afirmou em sua delação premiada
que José Dirceu — preso desde 3 de agosto, pela Operação Pixuleco –
participou de uma reunião em sua casa, no Rio, em que participaram ele, o
ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, o ex-diretor de Serviços da
Petrobrás Renato Duque e Roberto Marques, o Bob, que era braço-direto do
ex-ministro.
“Se discutia a necessidade de que alguém intercedesse junto ao diretor
(da Petrobrás) José Eduardo Dutra para que fossem licitados novos
contratos de terceirização de mão de obra”, afirmou Pascowitch, em
depoimento prestado ao Ministério Público Federal.
O encontro teria ocorrido em 2013, quando Dirceu estava às vésperas de
ser preso no Mensalão, condenado a 7 anos e 11 meses de cadeia por
corrupção ativa.
Duque, havia deixado a Petrobrás e atuava como consultor em sua empresa
D3TM Consultoria — usada para receber propina, segundo a Lava Jato — mas
ainda exerceria influência na estatal.
Trecho do depoimento de Milton Pascowitch |
Os contratos discutidos no encontro eram da Hope Serviços e da Personal
Service, que pagavam propina para o esquema de Dirceu, segundo apontam
os procuradores da Lava Jato.
A Hope tem contrato bilionário de terceirização de mão de obra técnica e
a Personal serviços de recepção e limpeza. Segundo Pascowitch, no
início da gestão da diretoria de Duque, por volta de 2003, 2004, o grupo
político de Dirceu, representado pelo lobista Fernando de Moura se
aproximou da Hope. “Estabelecendo um ‘relacionamento comercial’”, que
teria perdurado até o Mensalão.
“Na ocasião do Mensalão, a área política se afastou dessas demandas,
tendo sido estabelecido um ‘interlocutor’, entre as áreas, que no caso
foi a pessoa de Julio Camargo”, registra o delator. ”Antes do Mensalão
esse recebimento era feito diretamente dos interessados da área
política.”
DIVISÃO — “Hope pagava 1,5% do valor bruto
constante de planilha com o valor faturado dos contratos, o que
significava 3% líquido. A Personal pagava valores fixos mensais,
apurados de acordo com cada contrato”, informa o MPF no pedido de prisão
de Dirceu e dos outros alvos da Pixuleco.
“Esses recursos somavam uma média de R$ 500 mil mensais, alcançando R$
700 mil a R$ 800 mil.” Pascowitch apontou a divisão dos valores. “A
Fernando Moura (representante de Dirceu na Petrobrás) cabiam R$ 180
mil/mês. Duque, informou Milton, recebia uma ‘cota’ de 40% dos valores
ilícitos que restavam depois de deduzida a parcela mensal de R$ 180 mil,
o que equivalia a cerca de R$ 280 mil mensais; Dirceu, 30%”, informou o
delator, que disse ficar com outros “30%”.
Pascowitch acrescentou ainda que após certo momento, “por autorização de
Dirceu, Luiz Eduardo (seu irmão) e Roberto Marques passaram a receber
R$ 30 mil cada”. ”Quando havia sobras por parte de Dirceu (quando este
não precisava de recursos), elas ficavam com Vacarri.”
Representante dos pagamentos das duas empresas a partir de 2008 ou 2009,
após o lobista Moura se desentender com Julio Camargo, Pascowitch
afirma saber que a Hope teria pago os valores até final de 2013 e que a
Personal continuou até ser deflagrada a Lava Jato, em março de 2014.
“O prazo de contratos haviam sido encerrados, havendo necessidade de
nova licitação”, explicou o delator, que confirmou ter entregue R$ 10
milhões em propina na sede do PT.
Segundo Pascowitch, “Duque atuava diretamente no direcionamento dos
convites em novos procedimentos licitatórios”. O delator afirmou que a
Hope e a Personal ganharam os novos contratos, mas não soube dizer se os
pagamentos voltaram a ocorrer.
Trecho do depoimento de Milton Pascowitch |
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