Procuradoria-Geral da República denuncia Fernando Collor de Mello por corrupção e lavagem de dinheiro
Investigações indicam que o parlamentar
recebeu R$ 26 milhões em propina, entre os anos de 2010 e 2014 —
denúncia inclui mais quatro e fica sob sigilo.
Fernando Collor de Mello |
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ofereceu na
quinta-feira, 20.ago.2015, denúncia ao Supremo Tribunal Federal contra o
senador e ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL) e mais quatro pessoas –
incluindo um ex-ministro – por participação no esquema de corrupção na
Petrobrás. A denúncia de Collor permanece em segredo de Justiça, pois
tem trechos sigilosos de documentos e delações premiadas.
As investigações indicam que Collor recebeu R$ 26 milhões em propina
entre 2010 e 2014 por um contrato de troca de bandeira de postos de
combustível assinado pela BR Distribuidora, subsidiária da Petrobrás, e
por outros contratos da estatal com a UTC Engenharia, outro alvo da Lava
Jato.
Além do senador, Janot denunciou o empresário Pedro Paulo Leoni Ramos,
que foi ministro de Collor, e três envolvidos com os atos do
parlamentar. Leoni foi alvo da Operação Politeia em julho – fase de
buscas envolvendo políticos investigados na Lava Jato. Procuradores
suspeitam que o ex-ministro seria cliente do doleiro Alberto Youssef,
tendo feito repasses realizados a Collor por meio de sua empresa, a GPI.
A denúncia contra Collor detalha o esquema de lavagem de dinheiro usado
pelo senador, com a compra de carros de luxo, além de delações que
apontam entrega de dinheiro em mãos ao político. Subordinado de Youssef,
Rafael Angulo relatou ter dado pessoalmente R$ 60 mil a Collor em um
apartamento do parlamentar. A Polícia Federal também obteve a
confirmação de oito comprovantes de depósito em nome do senador,
mencionados em delação por Youssef. O doleiro disse ter feito “vários
depósitos” a Collor, no valor de R$ 50 mil.
Empresas. A Procuradoria constatou que a lavagem
realizada por Collor envolveu pessoas físicas e empresas como a TV
Gazeta de Alagoas, da qual é sócio, a Água Branca Participações e a
Gazeta de Alagoas. Os investigadores apontam que a Água Branca seria uma
firma de fachada, pois não tem empregados, sede, nem participação em
outras empresas.
Parte dos veículos de luxo apreendidos na casa do senador, como um
Lamborghini de mais de R$ 3 milhões e uma Ferrari 458 Itália, está em
nome da Água Branca Participações. Já um Porsche Cayenne está em nome da
GM Comércio de Combustíveis.
Os procuradores apontam que os veículos foram usados para lavagem de
dinheiro. A compra do Lamborghini foi feita com entrega de um veículo no
valor de R$ 400 mil, mais financiamento de R$ 1,6 milhão, além de
pagamento em dinheiro de R$ 1,2 milhão. Janot revela que o financiamento
do superesportivo está inadimplente, provavelmente em razão do “fim do
fluxo de propina” pela deflagração da Lava Jato.
Empréstimos “fictícios” para a Água Branca Participações também são
considerados na investigação de Collor como formas de lavagem de
dinheiro. Entre 2011 e 2013, os investigadores detectaram empréstimos de
R$ 2,1 milhões, R$ 4,2 milhões e R$ 3,3 milhões, segundo dossiê da
Receita Federal. Nesses anos, a movimentação financeira registrada pela
empresa foi irrisória: zero em 2011 e 2012 e R$ 463 mil em 2013.
A DEFESA
O senador e ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL) afirmou que a
denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra ele,
por envolvimento no esquema de corrupção da Petrobrás, foi construída
sob "sucessivos lances espetaculosos".
"Como um teatro, o PGR encarregou-se de selecionar a ordem dos atos para
a plateia, sem nenhuma vista pela principal vítima dessa trama, que
também não teve direito a falar nos autos", disse Collor, em mensagem
por meio de duas redes sociais.
O ex-presidente disse ter solicitado por duas vezes dar depoimento no
inquérito a que responde desde o início do ano. Segundo ele, os
depoimentos foram marcados, mas "estranhamente" desmarcados às vésperas
das datas estabelecidas.
"Se tivesse havido respeito ao direito de o senador se pronunciar e ter
vista dos autos, tudo poderia ter sido esclarecido. Fizeram opção pelo
festim midiático, em detrimento do direito e das garantias individuais",
criticou.
O ex-presidente, o principal crítico público da recondução de Janot, que
será sabatinado pelo Senado na próxima semana, não apareceu no plenário
ou em comissões do Senado durante todo o dia 20.ago.2015. Fez uma
passagem relâmpago no plenário por volta das 18 horas para registrar a
presença do dia diante de um plenário praticamente vazio. Ficou 30
segundos no local e depois deixou o ambiente.
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