Indústria brasileira ainda engatinha no uso de robôs
A participação de robôs na indústria brasileira ainda é bastante reduzida se comparada à registrada em países desenvolvidos.
Dados da Federação Internacional de Robótica (IFR, na sigla em inglês)
mostram que há no país nove dispositivos instalados a cada 10 mil
trabalhadores. Na Coreia do Sul, líder do ranking, são 437.
"O Brasil precisa otimizar a produção. E a automação é um caminho importante", diz Fernando Osório, da USP de São Carlos.
A defasagem é ainda maior quando se leva em consideração apenas robôs
colaborativos, que no Brasil são raros devido à falta de produção
nacional. E, com a valorização do dólar, ficou mais caro importá-los.
O Yumi, da ABB, terá preço de partida de US$ 50 mil (R$ 174 mil). O robô
da Kuka deverá custar entre € 60 mil e € 90 mil (de R$ 237 mil a R$ 356
mil).
Já a Pollux Automation cobra entre R$ 300 mil e R$ 400 mil pelo robô
instalado e já treinado para funções específicas — é possível, também,
alugar o equipamento da empresa, por R$ 10 mil mensais.
CUSTO-BENEFÍCIO
As empresas defendem, no entanto, que o custo-benefício dos dispositivos colaborativos faz com que o investimento valha a pena.
"Um robô gera um ganho de produtividade de 30%", diz Rizzo Hahn, da Pollux Automation.
"Além disso, a redução de custo pode chegar a R$ 100 mil para cada colaborativo em operação."
Mas, para Helder Santos, gerente de manufatura da Whirlpool em Joinville
(SC), a dificuldade de encontrar bons preços ainda trava a expansão do
uso da tecnologia.
"Quando somo todas as vantagens, o investimento valeu a pena. Mas,
porque não temos fornecedores tão competitivos, não estaria na minha
lista de dez melhores aplicações."
ROBÔS COLABORATIVOS — Robôs que trabalham lado a lado com operários
Na cena que eternizou o filme "Tempos Modernos" (1936), o personagem
interpretado por Charles Chaplin aperta parafusos repetidamente em uma
linha de produção até ser vencido pela velocidade da máquina e ser
engolido por ela.
Agora, uma nova geração de robôs que começa a chegar ao Brasil promete
acabar com todos os problemas de Carlitos: eles apertam parafusos e,
diferentemente de outros equipamentos, são seguros para trabalhar ao
lado de seres humanos.
Surgidos nos últimos anos, os chamados "robôs colaborativos" não foram criados só para apertar parafusos.
Podem ser instalados em linhas de montagem de equipamentos de pequeno
porte, como eletrônicos e componentes automotivos, ou auxiliar no
controle da qualidade de produtos manufaturados.
"Eles conseguem detectar quando tocam em algo, não há o risco de
machucarem o trabalhador. Daí vem o lado colaborativo", afirma Fernando
Osório, professor do ICMC (Instituto de Ciências Matemáticas e de
Computação) da USP de São Carlos.
"Posso ter o robô ao meu lado, não mais isolado, protegido por cercas."
Rizzo Hahn, presidente da Pollux Automation, empresa de Joinville (SC)
responsável por trazer os primeiros colaborativos ao país, diz que eles
ainda têm como vantagem a facilidade de instalação.
Pequenos e seguros, podem ser implementados em linhas de montagem já construídas, sem necessidade de grandes modificações.
A companhia, que hoje importa robôs da dinamarquesa Universal Robots,
investiu R$ 10 milhões para fechar 2015 com cerca de cem equipamentos
instalados em fábricas brasileiras. Para o próximo ano, a intenção é
aplicar R$ 40 milhões.
NOVIDADES
Fabricantes estrangeiras de robôs que operam no país também começam a
mostrar seus dispositivos colaborativos ao mercado brasileiro.
Na semana passada, a suíça ABB apresentou sua versão, o robô Yumi, em
evento em São Paulo. O país será o primeiro da América Latina a receber o
dispositivo.
De acordo com Rodrigo Bueno, gerente-geral de Negócios de Robótica da
ABB, a expectativa é fechar com até quatro clientes neste ano.
"Vamos começar com algumas empresas com quem já temos conversado e, então, criar cases para mostrar a outras", afirma.
Em setembro, será a vez de a Kuka, da Alemanha, exibir seu LBR iiwa.
As primeiras instalações dos robôs, em duas versões, com carga máxima de
7 ou 14 quilos, devem acontecer apenas em 2016, de acordo com Edouard
Mekhalian, diretor da companhia no Brasil.
Para Ulrich Spiesshofer, presidente-executivo da ABB, há diversas
aplicações possíveis para a nova tecnologia na indústria do país.
"É uma coisa realmente única. É seguro, não precisa de uma jaula, é fácil de instalar e adaptável", afirma.
YUMI — o novo robô colaborativo da ABB — a diferença dele para outros robôs industriais, é que são seguros para trabalhar ao lado dos operários. |
YUMI — o novo robô colaborativo da ABB — |
YUMI — o novo robô colaborativo da ABB — são seguros para trabalhar ao lado dos operários. |
EVOLUÇÃO
A busca por inovação levou a fabricante de eletrodomésticos Whirlpool a
instalar o primeiro robô colaborativo do país em sua linha de produção
em Joinville, em 2014.
"Os nossos produtos têm trazido mais tecnologia e temos levado também
mais tecnologia para o processo", diz Helder Santos, gerente de
manufatura da fábrica.
O dispositivo, da Pollux, é utilizado para fazer testes de qualidade das
geladeiras para cervejas da marca e "trabalha" em dois turnos, de
segunda a sábado.
No dia da visita da reportagem à fábrica, uma operadora trabalhava ao
lado do robô, posicionando os equipamentos que deveriam ser avaliados
por ele.
"É uma maneira de evitar a fadiga do operador e falhas no processo", afirma.
Ele ressalta que não houve demissões em razão da novidade: os trabalhadores foram redirecionados para outras áreas da produção.
Como toda tecnologia, no entanto, os robôs colaborativos já suscitam
debates sobre o fechamento de postos de trabalho que podem gerar.
"É óbvio que, do ponto de vista do trabalhador, existe uma força contrária. Mas temos de colocar na balança", diz Osório.
Para Spiesshofer, da ABB, o propósito da solução é tornar o trabalho
mais seguro para os humanos. "O Yumi sempre opera com pessoas."
Robô colaborativo da Pollux Automation instalado na linha de produção da fábrica Whirlpool |
Robô colaborativo da Pollux Automation instalado na linha de produção da fábrica Whirlpool |
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