Com crise, número de acordos de redução de salário e jornada dobra em julho, diz estudo da Fipe
Em julho foram 27 negociações, frente aos 14 registrados em junho. Em negociações com sindicatos, reajustes perdem da inflação
O agravamento da crise econômica vem levando mais trabalhadores a
aceitarem reduzir seus salários e jornadas para manter seus empregos. É o
que mostra o boletim Salariômetro da Fundação Instituto de Pesquisas
Econômicas (Fipe). Em julho, 27 empresas realizaram acordos nesse
sentido, quase o dobro do mês anterior, quando foram registrados 14
acordos. No total do ano, já são 65 acordos prevendo corte de salário —
ou seja, 63% concentrados entre junho e julho.
— Esses acordos são prática recorrente em momentos de crise. A
alternativa que as empresas oferecem é a demissão, então eles preferem
perder o anel do que o dedo — afirma Hélio Zylberstajn, coordenador da
pesquisa.
Segundo ele, essas negociações não se enquadram no Plano de Proteção ao
Emprego (PPE), criado pelo governo em julho e que permite a redução da
jornada de trabalho, com corte dos salários em até 30%. Mas, para o
trabalhador, esse corte será, efetivamente, de 15% do salário, já que o
governo se compromete a usar recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador
(FAT) para bancar metade da parcela do salário que for cortada. O prazo
de adesão ao PPE começou em 22 de julho e a expectativa do governo é que
50 mil trabalhadores sejam incluídos.
De acordo com o estudo da Fipe, em negociações centralizadas, ou seja,
por meio de sindicatos, os trabalhadores conseguiram aumentos salariais
médios de 4,4% — situação melhor que a dos trabalhadores que tiveram
redução de jornada e salário, mas, mesmo assim, perdendo da inflação: o
INPC acumula 9,3% nos últimos 12 meses, o que resulta em queda real de
4,9%.
— O trabalhador recebe um valor abaixo da desvalorização do salário
dele. Ele não consegue repor o poder de compra de um ano atrás. Isso se
deve à recessão. As pessoas não compram, as empresas vendem menos e
tendem a demitir. Com isso, o desemprego cresce e o poder de barganha
diminui — analisa Zylberstajn.
Com base em valores obtidos com o Ministério do Trabalho, o relatório
mostra ainda que o piso salarial médio negociado no mês passado foi de
R$ 1.033, 31% a mais que o salário mínimo de R$ 788, quase R$ 250 acima.
O valor avançou frente a junho deste ano, quando o piso foi negociado
em R$ 998.
De acordo com os dados da folha de pagamento do setor celetista (que
segue as regras da CLT), a massa salarial apresentou queda pelo terceiro
mês consecutivo, somando R$ 93,55 bilhões em valor dessazonalizado. Em
12 meses encerrados em maio, a folha salarial registrou redução de 1,9%
em maio e o relatório indica que a tendência de queda real continuou em
julho.
— A inflação está muito alta. Hoje a empresa não consegue dar um aumento
de salário de 9%, então, ela procura dar menos do que a inflação, o que
reflete nesses números. — diz Zylberstajn.
CEARÁ TEM MAIOR AUMENTO REAL DE SALÁRIOS
Os setores de administração pública e limpeza urbana, asseio e
conservação apresentaram os maiores aumentos reais na comparação de 12
meses, com 2,88% e 2,27% respectivamente, seguidos dos salários dos
trabalhadores de estacionamentos e garagens (1,97%), bancos e serviços
financeiros (1,77%) e condomínios e edifícios (1,64%).
Em contrapartida, o salário de funcionários de empresas jornalísticas
apresentou o menor aumento real positivo, com 0,09%. Já a remuneração de
trabalhadores da indústria cinematográfica e do setor de artefatos de
borracha sofreu queda real de 0,01% e 0,02%. A maior delas foi
registrada no setor de agronegócio de cana, com 0,36%.
Na comparação regional, o Ceará registrou maior aumento real dos
salários nos últimos 12 meses, com taxa de 1,25%. Em seguida, o
relatório lista o aumento real nos estados de Alagoas e São Paulo, a
1,22% e 1,15%, na mesma ordem. Paraná e Sergipe apresentaram índice de
1,13% igualmente. Amapá e Acre registraram queda real de 0,20% e 0,18%,
respectivamente.
O maior piso salarial negociado nos últimos 12 meses foi para
funcionários de bancos e do setor financeiro, a R$ 1.295, seguido da
indústria cinematográfica (R$ 1.190) e do setor de energia elétrica (R$
1.160). As categorias estacionamento/garagens e vestuário registraram os
menores pisos, com R$ 863 e R$ 875, respectivamente.
Entre as unidades federativas, São Paulo e Paraná apresentaram o maior
piso de R$ 1.077, seguidos de Santa Catarina, Distrito Federal e Goiás,
com R$ 1.051, R$ 1.026 e R$ 1.021. Os menores foram registrados no Rio
Grande do Norte (R$ 870), Bahia (R$ 872), Acre (R$ 881), Amapá (R$ 890) e
Amazonas (R$ 901).
O relatório também projeta a taxa de inflação até janeiro de 2017, tanto
o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) quanto o Índice de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), com base nos valores já registrados e
nas previsões de analistas do mercado financeiro na pesquisa semanal
Focus, do Banco Central. Os dois índices devem se situar na faixa de 9% a
10% até janeiro de 2016, quando começam a decrescer até atingirem a
faixa de 5% a 6% a partir de julho de 2016.
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