quinta-feira, 21 de março de 2013


Os problemas na formação 
do docente


A falta de adaptação do professor às novas tecnologias e ao aluno influenciado por elas.
Professor não pode concorrer com a internet.
Para especialistas, o apresentador de informações vai desaparecer, mas o educador que vai além delas é cada vez mais necessário
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Imagine, em um mundo sem internet, o dia em que professores são avisados que dali para frente uma ferramenta de pesquisa permitirá aos seus alunos ler, assistir, ouvir e discutir sobre qualquer assunto. Qual seria a reação dos educadores? Para especialistas, há muito motivo para comemorar: a chance de obter êxito no aprendizado aumenta. Na vida real, a recepção não foi bem assim.
Incluída ou não na aula, presente ou não na escola, a internet faz parte da rotina dos alunos. Em 2008, quando apenas 23% dos lares estavam conectados segundo o Ibope, o instituto já apontava que 60% dos estudantes tinham acesso à rede de algum modo. Em pesquisa realizada nas escolas estaduais do Rio de Janeiro em 2011, 92% disseram estar online ao menos uma vez ao dia.
“O professor pode escolher como tratar a internet, mas não pode ignorá-la”, diz o pesquisador emérito de Ciências da Educação da Universidade de Paris 8, Bernard Charlot. Ele vê duas possibilidades para o educador: fazer o que a máquina não sabe ou ser substituído.
“Ninguém pode concorrer com o Google em termos de informação. O professor que ia à frente da sala apresentar um catálogo vai desaparecer em 20 anos e ser substituído por um monitor”, afirma sem titubear, emendando um alento: “Por outro lado, o professor que ensina a pesquisar, organizar, validar, resolver problemas, questionar e entender o sentido do mundo é cada vez mais necessário.”
O pesquisador defende que o aparente problema de falta de entrosamento com a tecnologia na verdade é a lente de aumento que a internet colocou sobre a falta de formação para a docência. “Não é que o professor não sabe ensinar a pesquisar na internet, é que ele não sabe ensinar a pesquisar. Muitas vezes é mais simples ainda: o professor não sabe como ensinar.”
Para ele, a culpa não é do profissional, mas do sistema engessado que além de não formá-lo não o deixa fazer diferente. “Não faz sentido começar um trabalho na internet e, depois de 50 minutos, dizer: a gente continua semana que vem. Assim como cada professor cuidar de uma disciplina, como se os assuntos não fossem relacionados, ou tratar de temas sem mostrar na prática para que servem na sociedade tornam a escola sem sentido.”
A doutora em linguística e especialista no impacto da tecnologia na aprendizagem Betina von Staa também culpa principalmente o sistema de ensino pela falta de aceitação da tecnologia. “Muitos professores não aceitam trabalhos digitados apenas para evitar cópias. A preocupação é maior com o controle de notas do que com as possibilidades de aprendizado”, lamenta.
Na opinião dela, o aluno precisa de orientação para procurar informações confiáveis e questionar dados encontrados na internet. “Todas as pesquisas apontam que a tecnologia traz benefícios, porém desde que venha com formação dos professores para dar apoio.”
Mesmo nos casos em que as escolas não têm equipamento, o conhecimento do professor para incentivar o uso de tecnologias e a abertura para deixar os alunos irem além dos livros faz a diferença.


Era digital: Como utilizar pedagogicamente a tecnologia?       
Veja como a escola lida com os nativos digitais, a nova geração que já nasceu conectada à internet e domina com facilidade a linguagem e as ferramentas do computador.



Por lei, um terço da carga horária do educador deveria ser para atualização, mas na prática tempo não existe ou é mal usado.

Uma das principais dificuldades que o educador enfrenta para realizar um bom trabalho: a formação interna na escola, que deveria ser rotineira, ora não existe, ora se deturpa. O professor tem pouca chance de aprender a ensinar.
Em tese, a carreira dos mestres é estruturada para que ele se recicle e estude como ajudar seus alunos durante todo o tempo em que estiver na ativa. A necessidade de aprender constantemente é tão clara – ao menos na teoria – que existe legislação para garanti-la.
Por lei, um terço da carga horária remunerada do professor deve ser destinado a atividades extra-classe. Cabe neste tempo a correção de provas e trabalhos e o planejamento pedagógico, mas a recomendação do Conselho Nacional de Educação é de que os profissionais se reúnam para discutir dificuldades e soluções pedagógicas.
A maioria das redes públicas sequer cumpre a lei. Em vez de reservar 33% do tempo para que os docentes se preparem e dêem boas aulas nos outros 66%, prefeituras e Estados esperam que os profissionais já cheguem preparados. “As pessoas acham que o professor é um ser que nasce pronto. Longe disso, todos os dias há um duro trabalho de buscar novas formas de ensinar a partir do diagnóstico dos alunos, que também é trabalhoso”, diz Norman Atkins, presidente da Escola de Educação Relay, nos Estados Unidos, e um dos principais críticos ao ensino apenas teórico que os professores recebem.
Mesmo no tempo destinado à formação, poucas escolas se dedicam a encarar as dificuldades pedagógicas que os professores estão enfrentando. Por mais que estas reuniões sejam marcadas, o conteúdo é sempre de informes sobre datas, procedimentos e burocracias.
O tempo previsto fora de sala nas redes públicas - que não chega a um terço das aulas, mas existe – sempre tem um roteiro definido por governo ou direção.


Exemplos de práticas didáticas não ensinadas aos professores

Os exemplos práticos de técnicas pedagógicas dados pelos especialistas que criticam o abandono da formação do professor.

1) Porta aberta para visitas
A abertura das salas de aula para pais, vizinhos e profissionais convidados, seja para assistir a aula ou participar é a maneira mais simples e eficiente de trazer a vida real para a escola . Não é para fazer isso em uma festa, mas em aulas normais, tornar isso comum. Alguém sentado no fundo da sala inspira mais respeito ao ambiente de aprendizado, parece que os estudantes pensam ‘vieram ouvir porque isso é importante’. Se alguém vai falar ao lado do professor a mensagem é ‘estão tão interessados em que eu aprenda que trouxeram reforço’.

2) Checar os objetivos
O que os estudantes devem aprender ao final desta aula? E para a vida? Como uma coisa levará a outra? A maioria dos professores segue um roteiro sem ter em mente o exato objetivo de cada atividade no plano de aprendizado. O planejamento, que costuma ser entregue logo no começo do ano, só deveria ser feito a partir de uma reflexão sobre os objetivos a atingir com aquela turma e até com cada aluno. Ainda assim, ele precisa ser maleável, pois o resultado de uma aula é que vai levar ao realinhamento da próxima para chegar ao ponto desejado.

3) Assistir colegas exemplares
Durante 10 anos, o educador norte-americano Doug Lemov observou e filmou professores com bons resultados em diferentes contextos. O material inspirou o livro “Teach Like a Champion”, traduzido no Brasil como “Aula Nota 10”. A intenção da observação não é copiar este professor, mas analisar a técnica dos bons educadores e verificar o que é aproveitável.

4) Circular pela sala
Entre as técnicas que estão no vídeo e que foram tabuladas como ponto em comum dos professores de sucesso está a circulação dos educadores. Eles não ocupam só a frente da sala, mas passeiam para ganhar mais atenção da turma e ter certeza de quem realmente está participando. Com isso, aproximam-se dos alunos e inspiram neles a sensação de que estão sendo cuidados.

5) Equilíbrio na participação dos alunos
De acordo com estudos, os professores que falam 99% do tempo não têm bons resultados de aprendizado. Da mesma forma, em uma sala em que só os alunos falam, por estarem trabalhando com pouca supervisão ou porque o professor não consegue a atenção, não há boa aprendizagem. As pesquisas apontam que o melhor ponto é 43% para o professor e o restante para os alunos falarem ou pensarem nos exercícios.

6) Tempo para as respostas
Uma das principais práticas que diferenciam os professores filmados é a forma de elaborar questões. De acordo com o estudo, os melhores professores fazem as questões mais rigorosas e desafiadoras para manter os alunos constantemente pensando. Em outro vídeo, Lemov explica como o simples controle do tempo para resposta pode gerar aprendizado. “É um paradoxo, quanto mais tempo o professor perde esperando que os alunos estejam prontos, mais tempo de aprendizado ele ganha”.

7) Incentivar a pesquisa e evitar cópias
Trabalhos feitos com ajuda do computador podem conter pesquisas mais elaboradas e aumentar o envolvimento dos estudantes com os temas. Para evitar as temidas cópias, indica-se a atuação em duas frentes. A primeira é simples: colocar trechos suspeitos nos buscadores da internet e verificar se não são encontradas publicações iguais. É importante que o professor saiba checar isso e encontrar as fraudes. Neste caso, deve-se lidar com o problema como se fazia com a cola. A segunda ação do docente deve ser incentivar vídeos, peças interativas e formas de expor que privilegiam a criatividade e dificultam o uso de material alheio. Os estudantes querem trabalhar isso, o professor que dá esta abertura ganha pontos.


Ensino atual não atende exigências da era tecnológica


Jim Lengel
O atual modelo de educação não atende às exigências do mundo do trabalho na era tecnológica, disse o professor Jim Lengel da Universidade de Nova York, ao participar de evento sobre gestão educacional na capital paulista. "A educação não mudou para atender as necessidades do mundo a sua volta. O ambiente do trabalho de hoje demanda que se trabalhe em pequenos grupos para solucionar problemas, precisa de ferramentas digitais e que as pessoas estejam preparadas para desempenhar multitarefas sem a supervisão de outros. A maior parte das nossas escolas não estão fazendo isso", ressaltou.
Lengel é formulador do conceito Educação 3.0, que relaciona as mudanças históricas ocorridas no modelo educacional para que ele tivesse correspondência com as demandas profissionais.
"Há 150 anos, as pessoas trabalhavam na terra, com as mãos, com ferramentas e em grupos pequenos. O trabalho não mudou muito de geração a geração. As pessoas ensinavam uns aos outros conforme trabalhavam", disse ao explicar o Ambiente de Trabalho 1.0.
O professor destaca que as escolas daquela época ensinavam em pequenos grupos, com ferramentas manuais, com uma clara visão do mundo externo e com faixas etárias diversas em uma mesma sala. "Educação e local de trabalho combinavam perfeitamente. A escola produzia os cidadãos necessários ao mundo naquele momento", explicou.
No início do século 20, de acordo com Lengel, o trabalho mudou e, com ele, a educação. "As pessoas migraram para as cidades, utilizavam ferramentas mecânicas, trabalhavam solitariamente, em salas enormes e lotadas. Todos faziam a mesma coisa, na mesma hora, o dia inteiro. Não podiam conversar e eram fiscalizados", disse. Na avaliação do professor, as escolas mudaram para atender às necessidades dessa nova economia industrial. "Grandes grupos, com a mesma idade, alunos fechados na sala, trabalhando todos da mesma forma, utilizando ferramentas mecânicas como papel e lápis", completou.
Embora o mundo do trabalho tenha mudado com o uso das novas tecnologias, Lengel ressalta que o modelo educacional adotado ainda corresponde ao do início do processo de industrialização. "Enquanto o Ambiente de Trabalho 3.0 exige pessoas que saibam lidar com multitarefas, com o uso de ferramentas digitais, que estejam conectadas com o mundo exterior, o ambiente educacional continua com um modelo que corresponde ao Ambiente 2.0", explicou.
O professor destaca que as soluções exigidas aos profissionais da atualidade têm diferentes fontes. "Ele precisa lidar com problemas que ninguém tinha lidado antes. E para isso, tem que coordenar diferentes disciplinas, como física, matemática, literatura. Esse é o ambiente de trabalho nos dias de hoje. Essas informações vêm de muitas fontes e, na maioria das vezes, são buscadas na rede [internet]. Essa é a sociedade que construímos nos últimos 50 anos", apontou.
Lengel destaca que avaliação dos alunos nesse modelo não suporta a utilização de métodos tradicionais, como provas "com lápis e papel". "Para avaliar esse tipo de aprendizado, é preciso testá-los no mundo real, de forma a perceber se o aluno tem habilidades e competências para ser um bom profissional e cidadão. Essa é a melhor forma de fazer a avaliação", propõe.
A pedagoga Isolda Ducat, assessora pedagógica do Colégio Imperatriz Dona Leopoldina, em Guarapuava (PR), destaca, entre as dificuldades para adotar metodologias adequadas à era tecnológica, o fato de que os professores foram formados no modelo 2.0. "A própria formação dos professores foi mais fragmentada, às vezes, até um pouco descontextualizada. Isso dificulta a adesão deles a esse processo. O professor está também ensaiando essa nova proposta", disse.
Para Lengel, é fundamental que os educadores conheçam e usem as ferramentas tecnológicas incorporadas pelos alunos. "O professor não pode se sentir ameaçado pelo tablet. Até mesmo o Facebook pode ser usado como um meio de aprendizagem. Ele precisa incorporar esses conhecimentos", recomendou. Segundo ele, o uso da internet em sala de aula faz com que o estudante reúna dados complementares e mantenha contato com pessoas interessadas no mesmo assunto.
Vera Lúcia Stivaletti, pró-reitora da Universidade Metodista de São Paulo, acredita que a mudança de postura dos educadores e alunos é o principal entrave para mudanças no modelo educacional. "Os princípios da integração, da interdisciplinaridade, da flexibilização são princípios que devem estar bem presentes, mas que não são fáceis de serem trabalhados", declarou.

Devon Carrow não falta a nenhuma dia de aula, mesmo sem sair de sua casa, nos Estados Unidos.
O garoto de 7 anos, que sofre uma alergia rara que o impede de frequentar espaços abertos,
usa um robô wireless com uma tela para acompanhar, remotamente, o ambiente escolar,
o que inclui fazer as lições da professora, brincar com os colegas e até comer lanche no recreio.


Entrevista com Jim Lengel


Para Jim Lengel, da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, o professor é o centro da gestão. Ele tem que trazer o conhecimento, mas também ajudar a desenvolver o senso crítico e a organização de ideias do aluno.
“O professor precisa entender quais são as habilidades e os conhecimentos que o cidadão de hoje precisa aprender. Ele deve garantir material bom e sólido para executar trabalhos educacionais. Não podemos deixar os alunos aprenderem sozinhos e ‘alimentarem-se’ de conteúdo fast-food”, declara.
O professor Lengel, que também é consultor para organizações sobre a aplicação de novas tecnologias ao ensino e aprendizagem, afirma que a escola deve utilizar ferramentas que o mercado de trabalho já use. Para ele, a rotina do estudante deve ser muito parecida com a que se exige de um profissional. Estar conectado, recebendo e emitindo informação, antenado ao uso e recursos tecnológicos, além de saber lidar com a multidisciplinaridade de tarefas.

“A disponibilidade de informação e comunicação enriquece o relacionamento entre aluno e professor, mas somente se ambos aproveitarem as vantagens e aprenderem a utilizar os recursos tecnológicos para fins acadêmicos sérios”. A declaração é de Jim Lengel, consultor e professor da Universidade de Nova York especialista em Educação 3.0.

Confira a entrevista concedida:

Como o senhor define a Educação 3.0? Qual a diferença dela para a educação tradicional?
Jim LengelA Educação 3.0 tem como princípio preparar os alunos para o mundo de hoje e de amanhã, para que estejam prontos para atuar em universidades e empresas que exigem pessoas inteligentes e curiosas, capazes de descobrir as coisas por si mesmas e aptas a tirar o máximo partido das tecnologias de informação e comunicação. A Educação 2.0 – que a maioria das escolas de todo o mundo está praticando atualmente – foi projetada para preparar os alunos para um local de trabalho industrial e uma mentalidade que não existe mais. As principais diferenças são visíveis na sala de aula e nas mentes dos alunos. Na Educação 2.0, os alunos sentam em grandes grupos e todos fazem a mesma coisa, ao mesmo tempo. Na Educação 3.0, os alunos trabalham em muitos grupos diferentes, cada um fazendo uma coisa distinta, contribuindo para o sucesso do trabalho do grupo. A Educação 2.0 mede o sucesso pelo “domínio de um conjunto restrito de rotinas e tarefas cognitivas que foram importantes para o trabalho industrial, nas  fábricas. A Educação 3.0 mede o sucesso dos alunos pela curiosidade, coragem, personalidade e capacidade de colaborar em pequenos grupos para resolver problemas complexos.

Qual o papel do professor, na Educação 3.0?
Jim Lengel - O professor não é mais simplesmente um transmissor de conhecimento e guardião da ordem como na Educação 2.0. Na Educação 3.0, os professores desenham e gerenciam um complexo conjunto de projetos, estudantes e atividades que mudam frequentemente. Trabalha em estreita colaboração com outros professores e profissionais da universidade e do mercado de trabalho para garantir que o projeto dos alunos seja apontado para direção certa.

Somente o acesso às tecnologias mais modernas possibilita colocar em prática a Educação 3.0? Ou é preciso ainda uma transformação na postura de quem ensina e de quem aprende?
Jim Lengel - Desde que a tecnologia da informação em rede mudou o local de trabalho e a universidade e tornou-se um componente essencial para o mundo moderno, devemos preparar os alunos para esta nova realidade. Isso significa uma mudança na maneira de ensinar, nos materiais que utilizamos e nas formas que aprendemos. Livros de papel, folhas de papel e lápis e as outras tecnologias da Educação 1.0 e 2.0 devem dar lugar às tecnologias muito mais eficientes e interessantes que o mundo já está usando em outras áreas.

Quais habilidades são mais desenvolvidas na Educação 3.0?
Jim Lengel - A Educação 3.0 desenvolve as competências necessárias para o mundo moderno de pesquisa e trabalho: curiosidade, pensamento rápido, busca de ideias, trabalhar em um grupo colaborativo, integrar ideias de várias disciplinas, e uma compreensão das ideias principais que explicam a condição humana e o progresso.

Como a Educação 3.0 pode impactar a educação no Brasil?
Jim Lengel - Muitas escolas no Brasil já praticam os princípios da Educação 3.0, buscando um alinhamento com as necessidades dos locais de trabalho e preparando os alunos para o futuro do Brasil. Mas muitas escolas seguem um modelo europeu ou americano industrial de escolaridade, que pode ter sido útil há 50 anos, mas é, hoje, irrelevante para os tipos de cidadãos que o Brasil precisa formar para avançar. Cada escola no Brasil precisa repensar e redefinir o tipo de cidadão que quer produzir – e então redesenhar a escola para desenvolver esses tipos de pessoas.

O Brasil está preparado para esta revolução educacional?
Jim Lengel - O Brasil já está evoluindo do ponto de vista educacional. O país está fazendo grandes investimentos na educação, desenvolvendo novas capacidades, especialmente no Ensino Médio e universitário, para preparar seus cidadãos para uma economia moderna e uma democracia participativa. Grupos educativos estão projetando novas escolas em torno dos princípios da Educação 3.0, bem como programas de formação de professores estão preparando educadores com habilidades importantes no ensino e aprendizado digital.

Como as novas tecnologias estão transformando as relações entre professores e alunos?
Jim Lengel - As novas tecnologias digitais trouxeram aos professores novos canais para interagir e ensinar seus alunos por meio de diversas ferramentas, como as apresentações multimídia, os podcasts, a troca de mensagens online, os fóruns virtuais e a publicação e o compartilhamento de arquivos em multimídia. As tecnologias dão aos estudantes acesso não apenas às ideias e informações produzidas por seus professores, mas à bibliotecas on-line repletas de material acadêmico, alguns dos quais seus professores nunca tiveram acesso. A rede também oferece mais canais para que possam estabelecer debates com seus professores e colegas. A disponibilidade de informação e comunicação enriquece o relacionamento entre aluno e professor, mas somente se ambos aproveitarem as vantagens e aprenderem a utilizar os recursos tecnológicos para fins acadêmicos sérios.

Qual será o impacto dessas novas tecnologias nas escolas, nas salas de aula?
Jim Lengel - Se for empregada para tirar sua melhor vantagem, a tecnologia digital deixa a sala de aula mais viva, instigante, rica e profunda. O professor apresenta uma ideia ilustrada por imagens, som, voz e música; os alunos acompanham a aula em seus dispositivos móveis, com links para conteúdos referenciados, estimulando que façam perguntas mais profundas e discutam temas complexos com seus pares. E, após a aula, a aprendizagem continua: os estudantes pesquisam e criam suas próprias soluções e apresentações, muitas vezes junto com um grupo de estudo virtual. E muito do que é apresentado hoje na sala de aula, como a dissertação e exposição dos conteúdos pelo professor, será acessado em casa ou no ônibus pelos estudantes, reservando-se o tempo de aula para lidar com os pontos difíceis.

Como o senhor imagina que uma sala de aula será daqui a 5 ou 10 anos?
Jim Lengel - As escolas que funcionam na Educação 3.0 inventaram espaços de aprendizagem muito diferentes das salas de aula típicas de hoje. Em vez de 30 cadeiras, um quadro negro e a mesa do professor, estas escolas realizam suas atividades escolares em uma variedade de configurações: uma sala de aula grande com recursos de multimídia, uma sala de reunião pequena com uma dúzia de pessoas ao redor de uma mesa, uma sala com mesas redondas onde 4 ou 5 estudantes trabalham em um problema em conjunto, uma biblioteca com poucos livros, mas muitas cadeiras confortáveis e bibliotecários preparados para ajudar nas novas formas de pesquisa online. Não apenas o espaço físico, mas haverá mudanças no cronograma também, com horários alternativos e mais independentes.

Que dicas o senhor daria para os professores?
Jim Lengel - Em primeiro lugar, aprendam a utilizar as novas tecnologias. Todos os dias, para tudo que puderem, assim como seus alunos fazem. Em segundo lugar, empreguem a tecnologia no ensino onde seja apropriado e incentivem seus alunos a usar a tecnologia para seus trabalhos escolares. Em terceiro lugar, modifiquem suas metodologias de ensino tirando proveito do que as tecnologias oferecem para facilitar a aprendizagem. Os principais desafios para avançar na Educação 3.0 são a tradição e a falta de visão. Você precisa impor uma visão convincente do que uma escola deve ser, a fim de superar a influência do “jeito que costumava ser.” Na escola 3.0, o aluno raramente entrega seus trabalhos em papel. Em vez disso, mantém um portfólio online, uma coleção de trabalhos que fornecem evidências de aprendizagem para os professores e pode ser usado posteriormente para a admissão para a faculdade ou entrevista de emprego. Na educação 3.0, o aluno é o foco dos esforços educativos e eles sabem que serão recompensados pela descoberta de novos padrões e relacionamentos.

sexta-feira, 15 de março de 2013


Professores não são preparados para ensinar
Na faculdade, futuro professor gasta maior parte do tempo com "fundamentos teóricos".

Um professor com poucas oportunidades de aprender a dar aula é como um médico que não sabe tratar do paciente ou um advogado que não conhece os caminhos para defender o réu. Mas o que parece tão contraditório é uma realidade no caso dos educadores. O problema é comprovado por pesquisas, práticas e maus resultados.
Em todas as etapas de formação, os docentes enfrentam restrições ao aprendizado do próprio ofício. A universidade reserva a menor parcela do curso a lições de como ensinar, a bibliografia sobre o assunto é desproporcional à demanda e o tempo de aprendizado dentro da escola – apesar de previsto em lei – é desviado para assuntos burocráticos.
Para piorar, o modelo pelo qual os próprios professores aprenderam e que muitos replicam há décadas empaca diante de uma geração moldada pela facilidade e rapidez de resposta da internet.
“A sociedade não precisa mais de alguém que traga a informação. Isso o computador pode fazer. No entanto, a sociedade precisa cada vez mais de um mestre que ensine a pensar, a resolver problemas, a produzir conhecimento. Só que dificilmente o educador sabe como fazer isso” (Bernard Charlot, professor emérito em Educação na Universidade de Paris 8).
Os problemas de formação são potencializados pela tecnologia a que os alunos têm acesso, mas continuam sendo os mesmos. “A questão não é se o professor sabe promover o aprendizado naquele ambiente, mas se ele tem repertório para ensinar em vez de reproduzir informação” (Bernard Charlot).
Pesquisas mostram que o problema começa enquanto o futuro mestre ainda é o aluno. A Fundação Carlos Chagas analisou detalhadamente os currículos de 94 faculdades de Letras, Matemática e Ciências Biológicas em todas as regiões do País por dois anos e concluiu que o “como ensinar” está longe de ser o foco dos cursos.

O currículo dos cursos de professor

Veja como é dividido o tempo das licenciaturas nas faculdades (em porcentagem)


Em Letras, apenas 5,7% das aulas focavam em “didáticas, métodos e práticas de ensino”, em Matemática, 8% e, em Biológicas, 10%. Todo o restante do curso forma especialistas em cada área, explica o sistema educacional, expõe fundamentos teóricos ou mesmo apresenta “outros saberes”. A introdução de temas tecnológicos apareceu em apenas 0,2% dos currículos.
Os dados da pesquisa, publicada em 2008, até agora não geraram mudanças sistemáticas. Dentro de limites genéricos como “fundamentos teóricos” e “conhecimentos específicos”, as universidades têm autonomia sobre os conteúdos dos cursos e, como simples orientador, os governos que tomam iniciativas têm resultado tímido na mudança dos currículos de faculdades para professores.
A dificuldade na formação é a base da crise educacional que o País enfrenta. O profissional é, ao mesmo tempo, vítima e reprodutor do problema.
O Ministério da Educação encontrou um problema ainda anterior aos currículos das faculdades: a falta de livros sobre didática. Um edital para compra de material aberto de 2008 a 2011 resultou em apenas 100 obras aprovadas, segundo o então ministro da Educação, Fernando Haddad. “Mundo afora, você vai ver que chega a centenas de milhares de títulos. No Brasil, se uma pessoa iluminada quiser fazer mudanças num curso de licenciatura, vai ter de forjar o próprio material”, comentou às vésperas de deixar o cargo.
Na época, ele dizia que a colaboração do governo federal seria montar uma prova para professor que seria baseada em didática e acabaria incentivando a mudança nos cursos. "Hoje, 70% dos concursos públicos para admitir educadores são feito de questões jurídicas. Está mais para teste da OAB do que docência", comentava. Até o momento, no entanto, não há anúncio oficial da avaliação anunciada há três anos.

quarta-feira, 13 de março de 2013


Habemus Papam

Novo Papa é da Argentina: Jorge Mario Bergoglio 
se chamará: Francisco

É o primeiro Papa latino-americano; ele tem 76 anos e foi escolhido na 5ª votação do conclave.

Jorge Mario Bergoglio se chamará Francisco

Nesta quinta-feira (13), segundo dia de conclave, a fumaça branca da Capela Sistina anunciou ao mundo um novo papa. Logo em seguida, às 15h10 (horário de Brasília, 19h10 em Roma), os sinos da igreja badalaram, confirmando a escolha.
O novo papa passou à chamada sala das lágrimas para se vestir com batina branca e sapatos vermelhos. O nome dele é Jorge Mario Bergoglio e se chamará Francisco.


Um cardeal apareceu na sacada da Basílica de São Pedro para anunciar, em latim: "Annuntio vobis gaudium magnum: habemus papam" ("Eu vos anuncio uma grande alegria: temos papa"). O cardeal então falou o nome de batismo do pontífice, sendo o prenome traduzido para sua versão em latim, e então o nome que o eleito adotará em seu pontificado. 

A eleição do sucessor de Bento XVI durou dois dias, mesmo tempo que os cardeais levaram para eleger o alemão Joseph Aloisius Ratzinger. O tempo foi inferior ao levado para escolher o polonês Karol Josef Wojtyla em 1978. À época, os clérigos precisaram de três dias e oito votações para designar Wojtyla para o trono de Pedro.

Ao todo, 115 cardeais participaram da escolha do novo papa. A votação ocorreu de forma secreta, em papel, com os cardeais disfarçando a letra. As cédulas foram checadas por três escrutinadores e revisadas pela mesma quantidade de cardeais. Ao final, as cédulas depositadas em urnas de bronze foram retiradas e levadas para o forno - no qual foram queimadas. 

Clorato de potássio, lactose e colofónia são os componentes acrescentados à queima das cédulas para originar a fumaça branca que anuncia ao mundo que a Igreja tem novo papa. Foram instalados na Capela Sistina a estufa tradicional, usada desde o conclave de março de 1939, no qual Pio XII foi eleito, e onde são queimadas as cédulas das votações, e uma estufa auxiliar, que permite, graças a um mecanismo eletrônico, aumentar a visibilidade das fumaças.




Eleição de Bergoglio como Papa é recebida com festa na Argentina

A eleição do argentino Jorge Mario Bergoglio como novo Papa foi recebida com aplausos de centenas de fiéis que estavam em missa, na Catedral de Buenos Aires.
Depois da surpresa inicial, cerca de 200 fiéis saudaram o novo Papa Francisco, enquanto várias pessoas e equipes de TV se aproximavam da catedral, que fica na histórica Praça de Maio.
Nas ruas, moradores fizeram um buzinaço em comemoração ao anúncio.

Fiéis comemoram a escolha do papa argentino Francisco 
na Catedral de Buenos Aires.

segunda-feira, 11 de março de 2013


Preparativos para o Conclave
Em meio aos preparativos paro o conclave, cardeais rezaram missas em diversas igrejas. Em Roma, as cerimônias dos cardeais considerados favoritos foram o grande evento de domingo.



A última reunião pré-conclave
O porta-voz do Vaticano contou que eram muitas as inscrições para tomar a palavra, mas não revelou as qualidades que teriam sido discutidas sobre o futuro pontífice. Os cardeais teriam falado também da necessidade de reformas na Cúria Romana.



Vaticano vive expectativa na véspera do conclave que elegerá o novo papa
Os rituais da Igreja são muito antigos e bem preparados. Há cerca de cinco mil jornalistas do mundo inteiro no Vaticano.


segunda-feira, 4 de março de 2013


O passivo do piso do magistério gaúcho já é de R$10,2 bilhões


No dia 27 de fevereiro de 2013, o Supremo Tribunal Federal decidiu que o piso como vencimento inicial é devido a partir da sessão do Supremo em que foi declarado constitucional, em 27 de abril de 2011. Assim:

1º) o piso foi remuneração mínima de 1º de janeiro de 2009 a 26 de abril de 2011 – em 2009, assim definido pela própria Lei 11.738 de 16.07.2008, e em 2010 e início de 2011, em conseqüência da liminar do STF na ADI 4167 que suspendera a vigência do piso como vencimento básico da carreira.

2º) o piso é vencimento básico da carreira desde 27 de abril de 2011. Em consequência, no governo Yeda Crusius não se formou dívida pelo não pagamento do piso como vencimento básico da carreira. Essa dívida começou já no governo do petista Tarso Genro que, embora tenha assinado a lei e dito na campanha de 2010 que pagaria o piso, não cumpre a lei e a promessa de campanha.

3º) segundo o economista Darcy Francisco Carvalho dos Santos, ao não ter que pagar o piso como vencimento básico de jan/2010 a abril/2011, o governo do Estado Gaúcho livra-se de R$ 3,3 bilhões de passivos. Entretanto, de abril/2011 a dezembro/2014, será acumulada uma diferença de aproximadamente R$ 10,2 bilhões entre o que governo do Rio Grande do Sul paga ao magistério e o que deveria desembolsar se cumprisse todos os requisitos da norma nacional.


Luta pelo piso nacional do magistério


Na hora de valorizar os profissionais, há um descaso muito grande. O reajuste salarial do piso nacional dos professores demonstra a falta de vontade política em colocar a questão da educação como uma política essencial para o desenvolvimento do país.
Em 1827 um decreto do Imperador decretava o piso salarial para os professores, que não foi pago porque as províncias diziam que não havia recursos para isso. Em 1994, assinou-se um pacto com o Ministério da Educação para que, em julho de 1995, se pagasse o piso nacional aos professores. Esse pacto foi assinado e, depois, rasgado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Em 2008, conquistou-se a lei do piso nacional. E agora o debate é para o cumprimento dessa lei.
A avaliação é negativa não só pelo reajuste menor dos últimos três anos, mas pelo critério do Ministério da Educação - MEC, que descumpre a lei federal do piso nacional. De acordo com o artigo quinto da legislação, o piso nacional dos professores deveria ser R$ 2.321,00.
O percentual a ser utilizado para reajustar o piso é o mesmo percentual que iria reajustar o custo anual do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica – Fundeb de um ano para o outro. Uma portaria do Ministério de Educação reajustou o custo do Fundeb de 2012 para 2013 em 23%. Se fosse aplicada a lei da forma como ela foi elaborada, esse valor de 23% deveria ter sido aplicado ao valor do piso do magistério. No entanto, o critério utilizado pelo Ministério da Educação considerou o custo-aluno do ano anterior.

Falta transparência na atualização dos recursos públicos
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB, em seu artigo 69, determina que os recursos destinados à educação sejam geridos pelo gestor da pasta de Educação. Mas nem os governos estaduais nem os municipais cumprem essa determinação da lei. Se o dinheiro destinado à educação fosse vinculado à Secretaria de Educação, saberíamos do montante destinado à educação e a partir disso poderíamos acompanhar, fiscalizar e ter um controle maior destes recursos.

Crítica a postura do governo do Rio Grande do Sul
17 estados não cumprem a lei. Desses estados que não cumprem o piso nacional, ainda têm aqueles, como o Rio Grande do Sul e Minas Gerais, que utilizam as gratificações para compor o valor do piso salarial, o que é incorreto.
Tarso Genro foi Ministro da Educação, participou da elaboração inicial desse projeto, assinou essa lei e, infelizmente, na hora de ocupar o poder e executá-la, comete equívocos. No discurso é fácil citar a educação como prioridade, mas quando chega-se ao poder, não aplica-se o discurso à prática.