Deputados do PP colocaram propina em embalagem de garrafa de cachaça
Relatório da Polícia Federal encaminhado
ao Supremo Tribunal Federal afirma que José Otávio Germano (PP-RS) e
Luiz Fernando Ramos Farias (PP-MG) pagaram R$ 200.000 como “agrado” numa
embalagem de “garrafas de cachaça” para Paulo Roberto Costa, ex-diretor
da Petrobras, favorecer a empresa Fidens Engenharia
O primeiro relatório de conclusão da série de investigações de políticos
envolvidos na Operação Lava Jato, conduzidas pela força-tarefa da
Polícia Federal em Brasília, foi finalizado e protocolado no Supremo
Tribunal Federal (STF) na última quarta-feira (19.ago.2015). Trata-se de
um relatório que compromete o Partido Progressista (PP). Segundo a PF,
os deputados José Otávio Germano (PP-RS) e Luiz Fernando Ramos Farias
(PP-MG) agiram em favor da contratação empresa Fidens Engenharia para
atuar em obras do Comperj, no Rio de Janeiro, e da Refinaria Premium I,
no Maranhão, da Petrobras. Para viabilizar a contratação da companhia
pela estatal, os parlamentares deram um “agrado” de R$ 200.000 em
espécie no hotel Fasano, no Rio de Janeiro, para Paulo Roberto Costa,
então diretor de abastecimento da Petrobras e delator do escândalo do
Petrolão.
Parlamentares do PP fotografados na sede da empresa Fidens, que foi beneficiada em licitações fraudulentas na Petrobras |
De acordo com relatório da PF, Paulo Roberto Costa e Rodrigo Alvarenga
Franco, presidente da Fidens Engenharia, tiveram reuniões nos dias 25
novembro e 9 de dezembro de 2008. Um dia após o último encontro entre os
executivos, os deputados José Otávio Germano e Luiz Fernando Ramos
Farias compareceram ao prédio da Petrobras para uma reunião na sala VIP
por volta das 11h30, segundo registros internos da estatal.
“Diferentemente das demais oportunidades em que estiveram juntos com
Paulo Roberto Costa, ambos se apresentaram no interesse de uma empresa
particular: a FIENS, levando a crer se tratar da FIDENS por duas razões.
A 1ª — pela semelhança na grafia; a 2ª — não existe empresa com nome
FIENS”, diz a PF. Os parlamentares disseram que trataram de outro
assunto com Paulo Roberto Costa. O ex-diretor de abastecimento da
Petrobras afirmou que a reunião com os deputados do PP ocorreu apenas
para tratar do ingresso da Fidens nas licitações da Petrobras, “não
tendo com eles discutido outros assuntos”. Foram encontrados ainda
outros registros de entradas dos suspeitos, que não constam no banco de
dados da estatal, indicando “possível preocupação em omitir o encontro”,
segundo informação policial. No dia 1 de setembro de 2010, por exemplo,
José Otávio Germano (PP-RS) e Luiz Fernando Ramos Farias (PP-MG)
ingressaram às 13h45 na garagem do prédio da Petrobras com um automóvel
Vectra Preto e se reuniram com Paulo Roberto Costa na sala 6.
O lobby deu resultado. Após a data do primeiro encontro entre Paulo
Roberto Costa e a Fidens, a companhia teve o seu certificado de validade
para se candidatar às licitações da Petrobras renovado, mesmo antes do
prazo de vencimento. De acordo com o laudo pericial de n. º 1.187/2015,
“foi apenas por volta do final do ano de 2009 que a empresa FIDENS
logrou êxito em participar de licitações de obras de grande porte junto à
PETROBRÁS, o que não ocorria até então, tendo se sagrado vencedora em
algumas delas”. A primeira grande obra que a pequena companhia
conquistou foi a terraplanagem da Refinaria Premium I, em Bacabeira, no
Maranhão, num consórcio formado junto com as empresas Galvão Engenharia e
Serven-Civilsan, alvos da Lava Jato. A partir daí, a Fidens ganhou mais
duas obras ainda em 2010 e outras duas em 2011, segundo o relatório da
PF.
O pagamento do “agrado” de R$ 200.000 pela contratação da Fidens foi
feito numa embalagem utilizada para acondicionar “garrafas de cachaça”
num quarto do hotel Fasano, em Ipanema, no Rio de Janeiro, onde estavam
hospedados os dois deputados do PP, segundo Paulo Roberto Costa. A
Polícia Federal teve acesso a um registro de reserva realizado no dia 30
de agosto de 2010 em nome dos dois parlamentares – e uma diária de um
quarto duplo em nome de José Otávio Germano, entre o dia 1º e 2 de
setembro de 2010. Essa estadia foi confirmada, inclusive, pelo próprio
parlamentar, em seu depoimento. Diante da inexistência de vídeos da
época da hospedagem dos deputados, a PF mapeou os extratos de chamadas
telefônicas realizadas entre os dois parlamentares e o executivo Rodrigo
Alvarenga Franco. Foram encontradas 27 ligações entre José Otávio
Germano (PP-RS) e Luiz Fernando Ramos Farias (PP-MG), além de 44
contatos entre Luiz Fernando e Rodrigo Alvarenga. Foi constatada também a
entrada de Luiz Fernando Ramos no escritório do doleiro Alberto
Youssef, em São Paulo, no dia 20 de setembro de 2011. Segundo Youssef,
em depoimento à PF, a Fidens foi contratada para a obra de terraplanagem
da refinaria Premium I devido a “uma ingerência pessoal do Deputado
Federal LUÍS FERNANDO do Partido Progressista junto a PAULO ROBERTO
COSTA, sendo que a comissão seria paga diretamente ao mesmo pela
FIDENS”.
O relatório da PF entregue ao STF conclui que “o nexo causal restou
claro entre a conduta de ajuste/patrocínio de interesses particulares e o
favorecimento indevido da empresa Fidens junto à Petrobras”. A
força-tarefa da PF em Brasília também afirma que Paulo Roberto Costa
atuou em favor da companhia em obras do Comperj e da Refinaria Premium
I, “tendo recebido, em razão de suas funções, vantagem financeira
indevida (art. 317 do CPB), paga por RODRIGO ALVARENGA FRANCO,
presidente da FIDENS (art. 317 c/c art. 30, ambos do CPB), por
intermédio de JOSÉ OTÁVIO GERMANO e LUIZ FERNANDO RAMOS FARIAS (art. 317
c/c art. 29, ambos do CPB)”.
Relatório final da Polícia Federal indica que os deputados José Otávio
Germano (PP-RS) e Luiz Fernando Faria (PP-MG) intermediaram o pagamento de propina para Paulo Roberto Costa |
Esse é o primeiro relatório da leva de inquéritos tocados pela PF em
Brasília. Nas próximas semanas, outras investigações, que estão
avançadas, deverão ser concluídas — e encaminhadas ao STF.
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