Dilma frustra base aliada e só acena com promessa de mais diálogo
Reunião de cúpula terminou sem avanço sobre medidas concretas, como a reforma ministerial
Edinho Silva, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom), concedeu entrevista coletiva após o encontro de cúpula |
Imersa em uma crise política e econômica e, apesar do aumento da pressão
dos aliados por medidas concretas de reestruturação do governo, a
presidente Dilma Rousseff sinalizou apenas com a necessidade de aumento
do diálogo. Após três horas de reunião no Palácio da Alvorada, com o
vice-presidente Michel Temer e 13 ministros, Dilma decidiu fazer
reuniões individuais com os partidos aliados, assumindo a linha de
frente da articulação política junto ao vice. Segundo relatos de
ministros, a presidente se mostrou otimista que conseguirá vencer a
crise política e cumprirá seus quatro anos de mandato.
A redução do número de ministérios foi um dos pontos da reunião. No
entanto, não houve avanço. Ao menos dois cenários vêm sendo discutidos
internamente: um mais brando, que diminui dos atuais 39 para 29 pastas e
outro mais drástico, cortando para 24 ministérios. Como a reunião
acabou ampliada, reunindo ministros de vários partidos, o assunto ficou
suspenso. Um auxiliar presidencial afirmou que num grupo mais restrito
dentro do governo, a reformulação vem sendo discutida.
Enquanto mudanças concretas não são anunciadas, Dilma disse aos
ministros que cobrará que eles garantam o voto de seus deputados e
senadores no Congresso. Segundo relatos de integrantes do governo, ela
reclamou da falta de fidelidade das bancadas.
O foco do governo, agora, é estabilizar a relação com a base aliada, em frangalhos.
— A presidente vai liderar um amplo diálogo com as bancadas, com os
partidos, com os empresários, com os movimentos sociais. Vai percorrer o
país e não há chance de renunciar — disse o líder do governo na Câmara,
José Guimarães (PT-CE), ao deixar a reunião.
O ministro Edinho Silva (Comunicação Social) afirmou que o Executivo
reconhece as dificuldades políticas e econômicas, mas que serão
superadas em um curto espaço de tempo.
— Não estamos negando as dificuldades. Estamos reconhecendo, mas temos
certeza que serão superadas com diálogo. Política é a arte de dialogar—
disse ao sair da reunião.
Edinho afastou qualquer possibilidade de Dilma deixar a presidência antes de 2018.
— A presidente foi eleita para cumprir quatro anos de mandato, e o
Brasil é exemplo de democracia para o mundo. Não podemos brincar com a
democracia, não podemos brincar com as instituições. A presidente vai
cumprir seu mandato e está otimista com a capacidade da economia
responder esse momento de dificuldade num curto espaço de tempo —
afirmou.
Na reunião, o mais exaltado era o ministro Miguel Rossetto, da
Secretaria Geral da Presidência. Repetindo uma cobrança insistente dos
petistas e do ex-presidente Lula, Rossetto disse que a retomada do
diálogo com os movimentos sociais é o ponto central para resolver a
crise de baixa popularidade da presidente Dilma e reaproximar o partido
das bases. Na quarta-feira (12.ago.2015) Dilma participará da Marcha das
Margaridas, com cerca de 50 mil mulheres sem terra na Esplanada.
Dilma também terá reuniões com lideranças das centrais sindicais essa semana.
Todos os participantes da reunião se esforçaram para desfazer o clima de
mal-estar entre Dilma e Temer, depois que o vice declarou que era
necessária uma pessoa para unificar o país.
— Todos reconhecem o papel de destaque que o vice tem, um papel
fundamental para a governabilidade. Há um sentimento majoritário que em
momento algum vamos permitir intrigas ou utilização política por alguns
setores minoritários da própria base que possam provocar ruídos ou
dificultar a governabilidade.
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