Piora no cenário econômico traz novos riscos para Dilma
Em uma semana em que a presidente Dilma ganhou um "pouco de fôlego" no
campo institucional, a piora do cenário econômico e os riscos de ela
agravar a crise política viraram a maior preocupação das conversas
reservadas no Palácio do Planalto.
Um assessor presidencial disse que o governo precisa "reverter
urgentemente" as expectativas negativas da economia para "evitar o
pior": o aprofundamento da recessão no país.
Em sua avaliação, o governo conseguiu melhorar o quadro de instabilidade
institucional, mas precisa evitar que uma deterioração econômica gere a
imagem de que o Planalto perdeu a capacidade de comandar o país.
Segundo ele, se isto ocorrer, a oposição vai explorar este cenário
politicamente para desgastar Dilma e tentar forçar a abertura de um
processo de impeachment.
Outro assessor reconhece que o sentimento, ultimamente, é o de que "todo
dia é de notícia ruim" para o governo na área econômica.
Enquanto a semana começou com a avaliação de que os protestos do domingo
(16.ago.2015) não foram "gigantescas", dando tempo ao governo para
negociar a Agenda Brasil articulada com o PMDB do Senado, na economia
analistas passaram a prever dois anos seguidos de recessão.
Oficialmente, o governo diz acreditar que o país não seguirá em retração
em 2016, mas reservadamente admite que a "atual desaceleração é muito
forte" e há o risco de ela se manter no próximo ano.
Depois das previsões do mercado de retração superior a 2% neste ano e de
0,15% em 2016, novos dados negativos foram divulgados. O desemprego
medido pelo IBGE nas principais regiões metropolitanas passou de 6,9%
para 7,5% em julho. E o corte de vagas com carteira assinada no mesmo
mês foi o pior desde 1992, com eliminação de 158 mil postos em todo
país.
Um aliado da presidente diz que estes números ainda vão ter reflexos
mais negativos na economia quando o seguro-desemprego dos novos
desempregados acabar.
Em busca de uma reação da atividade econômica para "quebrar o ambiente
de pessimismo", assessores de Dilma defendem que o melhor caminho é
aprovar pontos da Agenda Brasil para melhorar o ambiente de negócios.
FALTA DE CONFIANÇA
Um assessor lembra que o Planalto tomou uma série de medidas para
combater a inflação, corrigir preços públicos e buscar o equilíbrio
fiscal, mas que, sem a volta da confiança, o crescimento da economia não
virá.
Outra ala do governo, porém, preocupada em diminuir os danos na economia
nesta fase de transição, voltou a defender uma atuação do Estado para
tentar tirar a economia do atoleiro.
Daí veio a decisão de usar o Banco do Brasil e a Caixa para socorrer
setores em dificuldades com crédito mais barato. Para este grupo, o
Banco Central poderia dar sua contribuição começando a reduzir a taxa de
juros no final deste ano. Integrantes desta ala, porém, não acreditam
neste movimento do BC.
A equipe de Alexandre Tombini segue sinalizando que a taxa Selic, hoje
em 14,25% ao ano, ficará neste patamar por "tempo suficientemente
prolongado" até garantir que a inflação irá convergir para o centro da
meta, de 4,5%, no final de 2016.
A avaliação é que isto pode ocorrer apenas no final do primeiro
trimestre do próximo ano, quando o BC começaria a analisar a
possibilidade de reduzir os juros.
No governo, alguns avaliam que a elevação do desemprego e a forte
retração da economia podem fazer a inflação cair mais rapidamente e
mudar os planos do BC.
Na política, a semana que começou mais tranquila terminou com dois
reveses: a decisão do vice, Michel Temer, sair da articulação política e
o pedido de uma investigação contra a campanha de Dilma feito pelo
ministro Gilmar Mendes, do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e do STF
(Supremo Tribunal Federal).
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