Arrecadação cai e Estados recorrem a malabarismos
Governadores parcelam salários de servidores públicos e recebem pagamento de dívidas de ICMS em produtos, em vez de dinheiro
A retração da economia provoca estragos generalizados nas contas dos
governos estaduais. Pelo menos 19 Estados fecharam os 12 meses
encerrados em junho de 2015 com queda real de receita, em comparação ao
mesmo período de 2014. Para complicar a equação, 13 governadores
ampliaram os gastos com pagamento de servidores na primeira metade deste
ano.
Apenas quatro governos conseguiram elevar ou manter a arrecadação,
segundo levantamento do Estadão Dados. Em outros quatro casos não há
dados suficientes para fazer os cálculos.
A crise tem levado alguns governantes a fazer "malabarismos" para cortar
gastos, buscar novas fontes de receitas ou fazer manobras contábeis
para melhorar os resultados fiscais.
Uma das situações mais dramáticas é a do Rio Grande do Sul, cujo
governador, José Ivo Sartori (PMDB), não conseguiu quitar a folha de
pagamento de pessoal de julho. O peemedebista até sondou o Supremo
Tribunal Federal sobre a possibilidade de escapar de punições caso
decrete um calote na dívida do Estado com o governo federal.
Os servidores gaúchos deveriam ter recebido o salário de julho no último
dia útil do mês, mas apenas uma parte foi depositada. Valores
superiores a R$ 2.150 foram parcelados.
Escalonamento. O parcelamento emergencial também
foi adotado pelo governador Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, em abril.
Parte do salário de julho só foi paga em agosto. O escalonamento foi uma
das causas de uma greve de professores que afetou o funcionamento de
escolas por quase 50 dias.
No Distrito Federal, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) parcelou a
folha de pagamentos de fevereiro - a medida atingiu salários acima de R$
9 mil. A Secretaria da Fazenda estima que, além das receitas previstas
no orçamento, precisará de mais R$ 1,4 bilhão para cobrir o rombo da
folha deste ano.
Em Pernambuco, o governador Paulo Câmara (PSB) não teve de parcelar
salários, mas mexeu no calendário de pagamentos para obter uma folga
contábil. Os salários de julho, que deveriam ter sido depositados a
partir do dia 22 daquele mês, só começaram a ser pagos em 5 de agosto.
Em busca de novos recursos, alguns Estados apostam em operações de
securitização de dívidas das quais são credores - é como se "vendessem"
ao mercado financeiro as receitas futuras que obteriam com créditos
tributários. Operações desse tipo estão sendo analisadas pelas
secretarias de Fazenda do Rio de Janeiro e do Distrito Federal.
Em São Paulo, o governo conseguiu arrecadar R$ 740 milhões, em julho,
com a venda de papéis lastreados na arrecadação futura de dívidas de
Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Foi a
terceira operação deste tipo realizada desde 2012 - o total arrecadado
chega a R$ 2,14 bilhões. Esses recursos, porém, não podem ser usados
para quitar despesas de custeio, apenas investimentos.
Escambo. No Rio, o governador Luiz Fernando Pezão
(PMDB) aprovou na Assembleia Legislativa a "lei do escambo", que
autoriza o Estado a receber o pagamento de dívidas de ICMS em produtos,
em vez de dinheiro. Pezão disse que negocia com a Petrobrás a entrega de
combustíveis para quitar parte dos débitos da estatal com o Estado. Da
mesma forma, anunciou que procurará o setor de supermercados para obter
alimentos que possam ser usados na merenda escolar.
O Paraná viveu uma onda de protestos de servidores no início do ano, por
causa da iniciativa do governador Beto Richa (PSDB) de transferir ao
caixa do governo o saldo superavitário de um fundo de previdência dos
funcionários públicos, estimado em R$ 8,5 bilhões.
Agora, o secretário da Fazenda, Mauro Ricardo Costa, busca caminhos
menos heterodoxos para elevar a arrecadação: ele acaba de instituir o
Nota Paraná, programa que estimula os consumidores a pedir nota fiscal
em estabelecimentos de comércio, em troca do reembolso de parte do ICMS
pago e da chance de concorrer a prêmios em dinheiro em sorteios mensais.
Trata-se do mesmo projeto que Costa já implantou na Prefeitura de São
Paulo e no governo paulista, quando foi secretário. No Paraná, o
objetivo declarado é elevar a arrecadação em 15%, com a queda da
sonegação.
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