Com dívida de R$ 55 bilhões, Rio Grande do Sul está prestes a falir
Há 40 anos estado gasta mais do que arrecada; especialistas preveem insolvência até o fim do ano
PORTO ALEGRE - Com as contas em desequilíbrio, gastando mais do que
arrecada há décadas e atolado em dívidas, o Rio Grande do Sul enfrenta
um fantasma comum a muitas empresas em tempos de crise: a falência. O
estado luta apenas para manter o salário dos servidores em dia e evitar,
assim, um colapso nos serviços públicos.
O termo “falência”, estranho ao mundo da política, não é apenas
retórica. Um dos maiores especialistas em finanças públicas do estado
adverte que o risco é real e pode ser concretizado até o fim do ano se o
governo optar por não pagar a dívida pública com a União como forma de
aliviar o caixa e garantir a manutenção dos serviços.
— O estado ainda não faliu apenas porque há resquícios financeiros que
deram uma sobrevida ao governo atual. Mas não vejo muita chance de
escapar da degola. No atual cenário, só se a receita crescesse bastante,
o que não parece nem um pouco provável — avalia o economista e
professor aposentado da UFRGS Darcy Carvalho dos Santos.
A dívida consolidada se aproxima dos R$ 55 bilhões, mais de duas vezes a
projeção de receita corrente líquida de 2015. Nos últimos 44 anos, em
37 exercícios fiscais o Rio Grande do Sul gastou mais do que arrecadou.
As receitas, paralelamente ao mau comportamento das despesas, crescem
cada vez menos. No primeiro semestre do ano, chegaram a registrar queda
de 2,5% em relação a 2014.
A virtual insolvência do estado provoca implicações políticas. Os
vencimentos de julho de mais de 160 mil funcionários, da ativa e
aposentados, foram limitados a R$ 2.150 e só serão quitados daqui a duas
semanas, se houver dinheiro. A perspectiva para agosto é ainda mais
sombria: pagamento em dia somente até o limite de R$ 1 mil.
Professores, policiais civis e militares, servidores de educação e de
saúde, técnicos e profissionais de nível superior reagiram com uma
operação-padrão e ameaçam greve geral a partir do fim da próxima semana.
A Segurança Pública é a área mais afetada pela crise, com 85% dos
funcionários com salários atrasados. O atraso foi parar no STF, que
ameaça o estado com uma intervenção caso descumpra uma eventual ordem
para pagar em dia.
GASTOS COM FOLHA
Semana passada, o estado ultrapassou o limite prudencial de gastos com
folha de servidores recomendado pela Lei de Responsabilidade Fiscal, ao
comprometer 47,3% da receita corrente líquida com salários. Esse gasto
não deve ultrapassar 46,5%. O limite legal, a partir do qual pode haver
sanções, é de 49%.
O presidente do Centro de Auditores Públicos Externos do TCE gaúcho,
Josué Martins, estima que esse limite deve ser alcançado e ultrapassado
já em novembro, quando deverá ser paga mais uma parcela do aumento
concedido em 2013 a categorias da Segurança Pública. Os reajustes foram
concedidos na gestão de Tarso Genro (PT) de forma escalonada até 2018.
Martins defende que o estado lidere uma frente com outros estados para
buscar soluções em nível federal.
— A crise não é responsabilidade dos servidores. É preciso refazer o
contrato da dívida estadual, que está federalizada, e exercitar uma
cobrança efetiva sobre a dívida ativa, que passa de R$ 6 bilhões. É um
montante que supera os R$ 5,4 bilhões do déficit presumido para este
ano. Também é preciso revisar as desonerações fiscais do estado, que
ultrapassam R$ 13 bilhões — avalia Martins.
Mas, apesar da dívida de R$ 54,8 bilhões e da pressão da folha salarial,
o grande problema do Rio Grande do Sul é o gasto com a Previdência, de
longe o maior índice do país. O estado gasta 31% da receita líquida com
aposentados. Para cada 100 servidores na ativa, o Rio Grande do Sul
contabiliza 120 aposentados. Já computado o déficit do sistema, coberto
pelo Tesouro estadual, o dispêndio líquido este ano deverá passar dos R$
9,5 bilhões.
O governo enviou um pacote de medidas à Assembleia em que prevê a
criação de um sistema complementar de aposentadoria para o servidor que
quiser receber acima do teto constitucional da Previdência.
Segundo o chefe da Casa Civil do governo gaúcho, Márcio Biolchi, trata-se de um “legado”.
— O projeto que trata desse tema é o mais importante. Mas cabe destacar
que só afeta servidores que venham a ser contratados no futuro. A
Previdência chegou a um estado de insustentabilidade — diz Biolchi.
PS.: Segundo informações, o
governo de José Ivo Sartori poderá antecipar para segunda-feira
(10.ago.2015) a 2ª parcela dos salários de quem ainda não recebeu no
Executivo. A data prevista era quinta-feira (13.ago.2015). Contudo, a 3ª
parcela será mantida para o dia 25.ago.2015.
Caso o governo Sartori antecipe a 2ª parcela para segunda-feira (10.ago.2015), 71% do funcionalismo terá recebido seu pagamento. Entretanto, a perspectiva para o pagamento da próxima folha (setembro) é ainda mais sombria: pagamento em dia somente até o limite de R$ 1 mil.
Caso o governo Sartori antecipe a 2ª parcela para segunda-feira (10.ago.2015), 71% do funcionalismo terá recebido seu pagamento. Entretanto, a perspectiva para o pagamento da próxima folha (setembro) é ainda mais sombria: pagamento em dia somente até o limite de R$ 1 mil.
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