Dilma pede que Senado seja 'poder moderador'
A presidente Dilma Rousseff reuniu na segunda-feira (10.ago.2015), em
jantar no Palácio da Alvorada, 21 de seus ministros de Estado e 43
senadores de sua base aliada para pedir que o Senado atue como "poder
moderador" diante das chamadas "pautas-bomba", consideradas por ela
medidas "não apenas contra o governo, mas contra o Brasil".
Dilma aposta no Senado como "Casa revisora" dos projetos aprovados pela
Câmara que aumentam os gastos da União e prejudicam o ajuste fiscal do
governo.
Segundo a presidente, o Senado precisa funcionar como um "espaço de
equilíbrio", "para se refletir melhor". "Se isso continuar [a aprovação
das pautas-bomba], vai comprometer a economia além desse governo", disse
Dilma.
A presidente reconheceu mais uma vez o momento difícil pelo qual passa o
país, mas disse acreditar que logo o governo vai superar essa fase.
Ao lado dos ministros da equipe econômica, Joaquim Levy (Fazenda) e
Nelson Barbosa (Planejamento), Dilma pediu que os senadores impeçam a
aprovação final dessas pautas e votem a desoneração da folha de
pagamento, última medida do ajuste que ainda precisa ser apreciada pelo
Congresso.
Horas antes do jantar, o presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), comprometeu-se a votar a desoneração depois que a Casa
apresentou como fatura ao governo um pacote para desburocratizar a
economia.
A chamada "agenda Brasil" foi entregue aos ministros de Dilma com
dezenas de itens, entre eles a regulamentação da terceirização; a
reforma da lei de licitações e uma lei de responsabilidade fiscal
específica para as empresas estatais. Há, ainda, o compromisso de o
Palácio do Planalto assinar um termo de ajustamento de conduta (TAC, no
jargão da administração pública) comprometendo-se a não praticar mais
pedaladas fiscais daqui por diante.
Os ministros Levy, Barbosa, Eduardo Braga (Minas e Energia) e Edinho
Silva (Comunicação Social) receberam das mãos de Renan a agenda, apesar
de terem ali diversas propostas polêmicas aos olhos de Dilma e do PT,
como a possibilidade de cobrança do SUS (Sistema Único de Saúde) por
faixa de renda e a adoção de uma idade mínima na aposentadoria.
Durante o jantar, Dilma foi questionada sobre a pauta de Renan, mas
afirmou ter recebido apenas "um rascunho inicial" das propostas e,
segundo relatos de participantes da reunião, não se estendeu nos
comentários.
O presidente do Senado foi convidado para o jantar com Dilma, mas disse a
aliados que não seria de bom tom comparecer a um encontro em que a
presidente pediria apoio à base e poderia falar da agenda apresentada
por ele.
Nos bastidores, senadores ressaltaram a ausência de Delcídio Amaral
(PT-MS), líder do governo no Senado, que alegou "problemas pessoais"
para não participar do encontro.
Os parlamentares elogiaram o cordeiro servido como prato principal, mas
reclamaram que não teve sobremesa. "Nem para adoçar o momento. Também
entramos na dieta", brincou um dos presentes em referência ao rigoroso
regime de Dilma.
DESCONTENTAMENTO
Apesar das tratativas, senadores não estavam muito dispostos a enfrentar
o ônus de desafogar o governo ao barrar as pautas vindas da Câmara.
Parlamentares, inclusive do PT, o partido de Dilma, falavam em cobrar
uma reforma ministerial baseada no entendimento com a base na Câmara,
hoje o principal foco de rebelião contra o governo no Legislativo.
Isso porque, argumentavam petistas, o Senado não pode ficar com o ônus
de barrar todas as pautas-bomba que forem enviadas pelos deputados. A
responsabilidade precisa ser dividida e, para isso, os ministros devem
representar e influenciar a base parlamentar.
Os senadores do PMDB, por sua vez, não queriam discutir reforma
ministerial com a presidente. O partido tem medo de perder pastas que o
governo coloca na linha de frente para os cortes, como Aviação Civil,
Turismo e Secretaria de Portos, hoje nas mãos do PMDB.
AGENDA BRASIL — PONTOS DA PROPOSTA
Melhoria do ambiente de negócios e infraestrutura
- Segurança jurídica dos contratos: blindar as legislações de contratos contra surpresas e mudanças repentinas. Essa blindagem colabora para proteger a legislação das PPP, por exemplo, item relevante nestes tempos em que o país necessita de mais investimentos privados;
- Aperfeiçoar marco regulatório das concessões, para ampliar investimentos em infraestrutura e favorecer os investimentos do Programa de Investimentos em Logística do Governo (PIL);
- Implantar a "Avaliação de Impacto Regulatório", para que o Senado possa aferir as reais consequências das normas produzidas pelas agências reguladoras sobre o segmento de infraestrutura e logística;
- Regulamentar o ambiente institucional dos trabalhadores terceirizados, melhorando a segurança jurídica face ao passivo trabalhista potencial existente e à necessidade de regras claras para o setor;
- Revisão e implementação de marco jurídico do setor de mineração, como forma de atrair investimentos produtivos;
- Revisão da legislação de licenciamento de investimentos na zona costeira, áreas naturais protegidas e cidades históricas, como forma de incentivar novos investimentos produtivos;
- Revisão dos marcos jurídicos que regulam áreas indígenas, como forma de compatibilizá-las com as atividades produtivas;
- Estímulo ao desenvolvimento turístico, aproveitando o câmbio favorável, e à realização de megaeventos. Incluir a eliminação de vistos turísticos para mercados estratégicos, aliado à simplificação de licenciamento para construção de equipamentos e infraestrutura turística em cidades históricas, orla marítima e unidades de conservação;
- PEC das Obras Estruturantes – estabelecer processo de fast-track para o licenciamento ambiental para obras estruturantes do PAC e dos programas de concessão, com prazos máximos para emissão de licenças. Simplificar procedimentos de licenciamento ambiental, com a consolidação ou codificação da legislação do setor, que é complexa e muito esparsa;
Equilíbrio Fiscal
- Reformar a Lei de Licitações - Projeto da Senadora Kátia Abreu - PLS 559/13;
- Implantar a Instituição Fiscal Independente;
- Venda de ativos patrimoniais (terrenos de Marinha, edificações militares obsoletas e outros ativos imobiliários da União)
- Aprovar a Lei de Responsabilidade das Estatais, com vistas à maior transparência e profissionalização dessas empresas;
- Aprovação em segundo turno da PEC 84/2015, que impede o Governo Federal de criar programas que gerem despesas para Estados e Municípios e DF, sem a indicação das respectivas fontes de financiamento;
- Regulamentar o Conselho de Gestão Fiscal, previsto na LRF;
- Reforma do PIS/COFINS, de forma gradual com foco na "calibragem" das alíquotas, reduzindo a cumulatividade do tributo e a complexidade na forma de recolhimento;
- Reforma do ICMS (convergência de alíquotas) e outras medidas a serem sugeridas pela Comissão Mista do Pacto Federativo;
- Medidas para repatriação de ativos financeiros do exterior, com a criação de sistema de proteção aos aderentes ao modelo;
- Revisar resolução do Senado que regula o imposto sobre heranças, sobretudo quanto ao teto da alíquota, levando-se em conta as experiências internacionais (convergir com média mundial - 25%);
- Favorecer maior desvinculação da receita orçamentária, dando maior flexibilidade ao gasto público. Estabelecer um TAC Fiscal para "zerar o jogo" e permitir melhor gestão fiscal futura;
- Ampliar idade mínima para aposentadoria, mediante estudos atuariais e levando-se em conta a realidade das contas da Previdência Social;
- Proposta para reajuste planejado dos servidores dos 3 Poderes, de maneira a se ter uma previsibilidade de médio e longo prazo dessas despesas;
- Priorizar solução para o restos e contas a pagar;
Proteção Social
- Condicionar as alterações na legislação de desoneração da folha e o acesso a crédito subvencionado a metas de geração e preservação de empregos;
- Aperfeiçoar o marco jurídico e o modelo de financiamento da saúde. Avaliar a proibição de liminares judiciais que determinam o tratamento com procedimentos experimentais onerosos ou não homologados pelo SUS;
- Avaliar possibilidade de cobrança diferenciada de procedimentos do SUS por faixa de renda. Considerar as faixas de renda do IRPF;
- Compatibilizar os marcos jurídicos da educação às necessidades do desenvolvimento econômico e da redução das desigualdades;
- Compatibilizar a política de renúncia de receitas, no orçamento público, à obtenção de resultados positivos no enfrentamento das desigualdades regionais e na geração de emprego e renda (trata-se de determinação constitucional)
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