Ministério Público pede para arquivar investigação sobre aeroporto em terreno da família de Aécio
É a segunda vez em menos de dois anos
que os promotores pedem para o caso envolvendo familiares do presidente
do PSDB ser arquivado
O Ministério Público de Minas Gerais pediu pela segunda vez em menos de
dois anos o arquivamento das investigações sobre o aeroporto construído
pelo Estado em Cláudio, no centro-oeste mineiro, durante o governo de
Aécio Neves (PSDB). O terreno utilizado na obra pertencia a um tio-avô
do tucano, hoje senador. O projeto, orçado em R$ 13,9 milhões, foi
concluído em 2010.
Aeroporto de Cláudio, no interior de Minas Gerais |
O pedido mais recente de arquivamento foi enviado ao Conselho do
Ministério Público pelos promotores Maria Elmira Evangelina do Amaral
Dick, Fernanda Caram Monteiro, Tatiana Pereira e José Carlos Fernandes
Junior, responsáveis pelas investigações. O conselho é formado pelo
procurador-geral do Estado, o corregedor-geral e nove procuradores de
justiça eleitos. Não há data para a decisão.
No início do ano passado, a promotora Maria Elmira já havia solicitado
ao conselho o arquivamento das investigações, iniciadas em 23 de março
de 2009 a partir de denúncia anônima.
Para justificar a solicitação, a promotora utilizou argumentação
encaminhada pelo próprio Governo do Estado, que entre 2002 e 2014 foi
comando pelo PSDB. Nos dados enviados ao Ministério Público, a
Secretaria de Transportes e Obras Públicas afirma que o aeroporto foi
construído dentro de programa do governo estadual para "adequação,
ampliação, melhoria e revitalização da malha aeroportuária do Estado",
conforme consta no pedido de arquivamento.
Cláudio fica a 55 quilômetros de Divinópolis, que possui aeroporto com
capacidade para pouso de aviões de grande porte. Para efeito de
comparação, o principal aeroporto de Minas Gerais, Confins, está a 42
quilômetros da capital.
Porém, em julho do ano passado, antes mesmo de o conselho analisar o
pedido de arquivamento, os jornais publicaram reportagens sobre a obra
de Aécio em Claudio. Na época, o senador era o candidato do PSDB a
Presidência da República. Com base no material publicado pela imprensa,
os deputados estaduais Rogério Correia (PT), Pompílio Canavez, e Sávio
Souza Cruz (PMDB), hoje secretário de Meio Ambiente do governo mineiro,
pediram abertura de investigação ao MP.
Com o novo pedido de averiguações, Maria Elmira Dick e os três
promotores, que então passaram a ajudá-la nas apurações, solicitaram ao
conselho que enviasse o inquérito de volta, para que outros
procedimentos fossem adotados. No novo pedido de investigações foi
acrescentado ainda solicitação de averiguações em relação à construção
de um outro aeroporto, em Montezuma, na Região Norte de Minas, onde
familiares de Aécio também mantém propriedade.
As investigações do MP então passaram a se concentrar no custo de ambas
as obras. Foram pedidas à Secretaria de Transportes e Obras explicações
pelo fato de o aeroporto de Cláudio ter ficado mais caro que o de
Montezuma. Nas explicações, a secretaria informou que o projeto no Norte
era apenas de recuperação de uma pista já existente. O Estado enviou
ainda ao Ministério Público "planilha detalhada com todos os gastos
referentes às duas obras". Com base nessas informações, os promotores
produziram, então a solicitação final de arquivamento enviada ao
Conselho.
Em nota, o deputado Rogério Correia afirmou ter tomado conhecimento da
decisão dos promotores com "estranheza e perplexidade". Conforme o
parlamentar, as obras em Cláudio e Montezuma "além de não se
justificarem por demandas econômicas regionais, ainda trazem a condição
de interesse familiar direto do governador (sic). Evidentemente que a
deliberação pelo arquivamento de nossa petição sobre o caso não encerra a
questão. A apuração do escândalo dos aeroportos de Cláudio e Montezuma
prosseguirá", afirma o texto.
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