O modo petista de fazer política
A prisão de José Dirceu representou um grande baque para o Partido dos
Trabalhadores. Primeiro, porque dirige os holofotes da Lava Jato para o
primeiro mandato do ex-presidente Lula, onde foram montados os esquemas
do mensalão e do petrolão. Revelações incômodas sobre a gênese da
corrupção podem ferir gravemente uma candidatura de Lula à Presidência
no futuro. Segundo porque, em meio às provas abundantes contra Dirceu,
há sinais de enriquecimento pessoal. Isso torna difícil defender Dirceu
junto à militância. Quando foi preso no mensalão, Dirceu deixou-se
fotografar erguendo o punho cerrado — no gesto que os Panteras Negras,
militantes do movimento negro nos anos 1960, tornaram célebre —. Naquela
ocasião, nas redes sociais, militantes petistas apresentaram Dirceu
como vítima de um “julgamento político”. Desta vez, o partido abandonou
Dirceu.
Existem muitas conexões entre a prisão de Dirceu e a crise do governo
Dilma. A mais importante — e talvez menos aparente — é que uma coisa é
consequência da outra. Muitas das agruras do governo Dilma foram
plantadas durante o governo Lula, especialmente na época em que José
Dirceu era o todo-poderoso ministro da Casa Civil. Se o governo sofre
hoje com as investigações da Lava Jato, isso se deve a uma decisão
tomada no início da era Lula: a base de apoio seria negociada caso a caso, com uso de dinheiro como
argumento, de acordo com as “demandas” de cada partido ou parlamentar. O
cinismo em relação à democracia levou aos esquemas de compra de apoio,
mensalão e petrolão.
Corrupção na base política, má gestão econômica e a arrogância que
divide o país. Três erros do modo petista de governar que, hoje, têm
influência decisiva na crise. Neste momento em que urge criar um pacto
nacional, é hora de reconhecer tais erros — e aprender com eles.
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