Servidores estaduais aprovam greve de três dias no Rio Grande do Sul
Os trabalhadores protestam contra o
parcelamento dos salários e os projetos de ajuste fiscal encaminhados
pelo governo gaúcho à Assembleia Legislativa para combater a crise
financeira do Estado
Porto Alegre — Em uma assembleia unificada na tarde de terça-feira
(18.ago.2015), servidores aprovaram uma greve de três dias, a começar na
quarta-feira (19.ago.2015), que terá adesão generalizada entre as
diferentes categorias do funcionalismo estadual no Rio Grande do Sul. Os
trabalhadores protestam contra o parcelamento dos salários e os
projetos de ajuste fiscal encaminhados pelo governo gaúcho à Assembleia
Legislativa para combater a crise financeira do Estado.
A paralisação vai afetar áreas como educação, saúde e segurança pública,
nas quais os serviços serão reduzidos. Após os três dias, os servidores
estaduais manterão o estado de greve. O funcionalismo definiu que, se
no 31 de agosto o Executivo não pagar os vencimentos de forma integral, a
paralisação será retomada automaticamente até o dia 3 de setembro,
quando haverá outro chamamento público unificado em Porto Alegre para
deliberar sobre a continuidade do movimento por mais tempo.
Em novo protesto contra o governo de José Ivo Sartori, servidores públicos do Rio Grande do Sul decidem entrar em greve. |
A assembleia da tarde de terça-feira (18.ago.2015), no Largo Glênio
Peres, no centro da capital gaúcha, foi um ato simbólico que serviu
principalmente para demonstrar a insatisfação do funcionalismo com a
administração estadual, uma vez que as categorias já haviam decidido
internamente pela greve. A mobilização é considerada histórica, já que
nunca antes no Rio Grande do Sul tantas categorias haviam se unido em
uma assembleia deste tipo.
Mais de 40 entidades representativas dos servidores estavam presentes.
Conforme a Brigada Militar, o ato reuniu 30 mil pessoas."Aqui não vai
ser como no Paraná, aqui a polícia vai estar junto dos professores",
disse um dos líderes em cima de um dos carros de som que estavam no
local, em referência aos confrontos ocorridos em Curitiba no mês de
abril.
A reunião teve uma enxurrada de xingamentos ao governador José Ivo
Sartori (PMDB), tanto nos cartazes carregados pelos manifestantes como
nos discursos das lideranças sindicais. "Oh Sartori, preste atenção, no
meu direito tu não mete a mão", dizia um cartaz. O presidente do
Sindicato dos Escrivães e Inspetores de Polícia do Rio Grande do Sul
(UGEIRM), Isaac Ortiz, afirmou que, se o governo não pagar os salários
de agosto, haverá mais pressão. "Pé na porta dele (do governador)",
falou.
Já o presidente do Sindicato dos Servidores Penitenciários (Amapergs),
Flávio Berneira Junior, disse que, se Sartori não tem competência,
deveria "retirar o chapéu" e voltar para Caxias do Sul — cidade que
governou por oito anos. Após a assembleia, os servidores seguiram em
passeata até a Praça Marechal Deodoro, onde fica o Palácio Piratini e a
Assembleia Legislativa.
O objetivo era entregar um documento ao presidente do Legislativo, Edson
Brum (PMDB), com as reivindicações das categorias. As principais
críticas dizem respeito a projetos apresentados recentemente pelo
Executivo, que incluem mudanças no sistema previdenciário dos futuros
servidores, alterações no tempo de aposentadoria dos policiais militares
e extinção de fundações públicas. Eles também protestam contra o
aumento da carga tributária, que deve constar em novo pacote que será
anunciado por Sartori esta semana.
Na chegada à AL, houve um princípio de tumulto quando agentes do Pelotão
de Operações Especiais do 9º Batalhão da Polícia Militar bloqueou a
entrada dos manifestantes. Na sequencia, após uma breve negociação, eles
conseguiram chegar ao plenário onde havia sessão ordinária, com a
presença dos deputados. Os servidores protestaram nas galerias pedindo a
não aprovação dos projetos de austeridade fiscal.
Consequências da greve
A expectativa é que as escolas estaduais fechem as portas até
sexta-feira (21.ago.2015). Os policiais civis só vão atender casos de
crimes considerados graves, como homicídios, latrocínios e aqueles
envolvendo crianças. A Brigada Militar, por sua vez, vai executar uma
"operação padrão", que consiste em sair para a rua apenas com viaturas
em perfeitas condições e armamentos que não estejam vencidos. Na
prática, isso significa a redução de policiamento. A paralisação deve
abranger quase a totalidade dos cerca de 150 mil servidores estaduais da
ativa.
No mês de julho, o Executivo parcelou o salário dos servidores com uma
linha de corte de R$ 2,150 mil. Quitou os vencimentos 12 dias depois e,
para isso, atrasou outras obrigações, como a parcela da dívida com a
União. Por causa da inadimplência com o governo federal, as contas do
Estado estão bloqueadas desde a terça-feira, 11.ago.2015, até atingirem o
montante devido à União, de R$ 265 milhões. Com o agravamento da crise,
é dado como certo um novo parcelamento dos vencimentos em agosto, e
possivelmente com uma linha de corte menor, já que não no dia 31 haverá
pouquíssimo dinheiro em caixa. A situação, se confirmada, resultará no
prosseguimento da greve.
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