Ajuste Fiscal — 2ª Fase — pode ficar ainda mais difícil
Medidas em gestação no governo para conter gastos e aumentar receita devem encontrar resistência redobrada no Congresso
As votações no Congresso da primeira fase do ajuste fiscal pretendido
pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não foram fáceis. Mas, daqui
para a frente, as medidas em gestação para promover mais uma rodada de
aperto fiscal, voltado para 2016, vão enfrentar um clima ainda pior. Os
senadores consideraram a aprovação do projeto de “reoneração” da folha
de pagamentos como o “fim do ajuste fiscal”, apontando durante a votação
que agora é o momento de discutir medidas para promover o crescimento
econômico.
Para os parlamentares, medidas como a reforma do PIS/Cofins, que está
prestes a ser encaminhada por Levy ao Congresso, não poderão conter
aumento embutido de alíquota. Nas palavras de um senador da base aliada,
que votou contrariado a favor da reoneração da folha de pagamentos, “o
que tinha de passar, passou”. Com a reoneração, as empresas que pagavam
contribuição para a Previdência de 1% sobre a sua receita passam a pagar
2,5%. As que pagavam 2%, passam a pagar 4,5%.
Outro parlamentar afirmou, porém, que o quadro pode mudar depois de
assentadas as denúncias do Procurador-geral da República envolvendo
deputados e senadores. “Um novo quadro político vai se abrir e, talvez, o
governo ganhe uma margem maior de manobra do que tem a partir de agora,
que é zero”, disse ele. “Vamos compor com as medidas em gestação para
2016.”
Os senadores avaliam que o importante é dividir o discurso e a agenda do
ajuste fiscal com medidas que visem à retomada do crescimento e o
restabelecimento da confiança dos investidores. Anfitrião de um jantar
com lideranças peemedebistas e petistas, logo após a aprovação da
reoneração da folha de pagamento das empresas, o presidente do Senado,
Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que é preciso dar um tempo para ver se o
governo reage e toma a iniciativa para a melhora do ambiente econômico.
Ajuda. Renan destacou que o Congresso não pode
deixar de ajudar o País - não necessariamente o governo -, por meio da
Agenda Brasil, pacote anticrise lançado por ele. Mas a avaliação de
senadores dos dois partidos é que, por maior que seja a boa vontade do
Legislativo, o governo é que dispõe de instrumentos para conduzir esse
processo. “Nós estamos dando um oxigênio para ver se ela (Dilma) reage,
não sabemos o que fazer”, resumiu um dos presentes ao jantar.
O presidente do Senado, no entanto, já mandou um recado para os
principais ministros do governo da área de economia, Joaquim Levy,
Nelson Barbosa e Aloizio Mercadante, que não concorda com a lógica de
aumento de impostos sempre. A Junta Orçamentária, que reúne o trio, tem
discutido uma série de medidas de aumento da carga tributária.
“O Brasil já tem uma carga muito grande, taxas de juros altíssimas, não
dá para cada vez mais pensar em aumentar impostos, aumentar impostos,
aumentar impostos, a sociedade não aguenta mais essa carga”, afirmou
Renan.
Nesta semana, senadores e a área econômica vão discutir o projeto que
prevê a repatriação de recursos de brasileiros no exterior não
declarados ao Fisco. Essa é a principal aposta dos parlamentares no
momento para reforçar o superávit primário e ainda garantir uma injeção
de recursos para Estados e municípios, que têm discutido aumentar
impostos regionais.
Os parlamentares querem também maior participação nas discussões de
novas medidas econômicas, além de não serem surpreendidos por novas
propostas enviadas pelo Executivo ao Legislativo, reclamação comum na
votação da primeira etapa do ajuste fiscal.
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