Desvios pagaram táxi aéreo, reformas e imóvel para Dirceu, diz delator
Responsável por aproximar a Engevix do PT, o lobista Milton Pascowitch
diz ter pago despesas pessoais do ex-ministro José Dirceu e de parentes
dele com dinheiro recolhido de contratos de fornecedores prestadores de
serviços da Petrobras. Um dos favores do lobista foi a compra de um
apartamento por R$ 500 mil para Camila Ramos de Oliveira e Silva, filha
do petista.
Os depoimentos e recibos de pagamentos feitos pelo lobista, que se
tornou delator da Operação Lava Jato no final de junho, são os
principais indícios de corrupção envolvendo o ex-número dois do governo
Lula, que foi preso na segunda-feira (03.ago.2015).
Entre as provas documentais contra o ex-ministro apresentadas pelo
delator estão comprovantes de pagamentos pela Jamp Engenheiros
Associados, empresa de Pascowitch, no valor de R$ 1 milhão, entre abril e
dezembro de 2011, à empresa JD Assessoria e Consultoria Ltda, que
pertence ao ex-ministro.
Segundo Pascowitch, não houve prestação de serviços pelo ex-ministro à Jamp.
Pascowitch também apresentou recibos de uma doação de R$ 1,3 milhão à
arquiteta Daniela Fachini que seria referente à reforma da casa
utilizada por Dirceu em Vinhedo (SP). O imóvel servia de residência ao
ex-ministro antes de ele iniciar o cumprimento da pena do julgamento do
mensalão na Papuda (DF).
A Jamp Engenheiros Associados, conforme o delator, também pagou pela
reforma de apartamento localizado na rua Estado de Israel, em São Paulo,
em nome do irmão de José Dirceu, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, que
também foi preso nesta segunda. Os pagamentos somaram cerca de R$ 1
milhão à construtura Halembeck Engenharia.
O ex-ministro José Dirceu sendo preso pela PF em Brasília, durante nova fase da Operação Lava Jato |
AVIÃO
Milton Pascowitch contou aos procuradores ter pago metade de uma
aeronave para ser usada por José Dirceu. O avião um Cessna, modelo
560XL, prefixo PT-XIB, pertencia a Julio Camargo, outro lobista que agia
na Petrobras e que hoje se tornou delator. Em julho de 2011, a Jamp
Engenheiros realizou pagamento de R$ 1,07 milhão para a Avanti, uma das
empresas de Camargo.
A origem do valor, segundo a Procuradoria, seria a propina devida ao
petista pelo contrato da Engevix na obra Cacimbas II e também dos
contratos de duas empresas terceirizadas da Petrobras - a Hope Recursos
Humanos e a Personal Service.
Um instrumento particular de compra mostra que a Jamp se tornou dona de
50% do avião, cujo valor que figura no documento é de R$ 2,44 milhões. A
convicção da Procuradoria de que Dirceu era "sócio de fato" do avião
foi reforçada pelo depoimento e também delator Alberto Youssef, que
afirmou que o ex-ministro usava a aeronave de Camargo.
O negócio, contudo, foi desfeito no mês seguinte porque, segundo
Pascowitch, Dirceu foi visto por jornalistas usando a aeronave. A
Piemonte Empreendimentos, uma das empresas de Camargo, depositou R$ 200
mil na conta da Jamp no que seria, segundo a Procuradoria, o pagamento
de parte da devolução do pagamento da aeronave.
TÁXI AÉREO
Parte dos pagamentos feitos pelo lobista incluiu também com a quitação
de faturas da Flex Táxi Aéreo Ltda., que locava jatos com os quais o
ex-ministro cruzou o país durante a campanha para se defender perante a
militância petista à época em que era réu na ação penal 470, o
julgamento do mensalão.
De acordo com Pascowitch, o contrato firmado entre Jamp Engenheiros
Associados e a JD Consultoria visava "cobrir o caixa" da firma do
ex-ministro. Em geral, eram feitos pagamentos mensais entre R$ 80 mil e
90 mil que estavam lastreadas pelo contrato de prestação de serviços.
O delator afirma ter recebido telefonemas do Luiz Eduardo Oliveira e
Silva e de Roberto Marques – assessor do ex-ministro, também preso –,
dizendo que não tinham como fechar o mês ou cobrir a folha de pagamentos
da JD e então pediam adiantamentos dos pagamentos.
Conforme o lobista, certa vez houve pedido de R$ 400 mil para pagamento de um escritório de advocacia que atendia Dirceu.
Os recursos pagos por meio da Jamp tinham origem na Engevix e se
referiam a uma comissão pela participação da empreiteira na obra do
projeto de Cacimbas 2, da Petrobras.
TERCEIRIZADAS
Uma das novidades trazidas nesta nova fase da Lava Jato, a partir dos
depoimentos de Pascowitch, é a evidência de que o esquema de corrupção
se estendeu por empresas que prestam serviços à Petrobras e ao governo,
fora da área de engenharia.
Ele citou contratos da estatal com a Hope Recursos Humanos (que
terceiriza contratações), a Personal Service (serviços de limpeza) e a
Consist (serviços de informática) com fontes de pagamentos de propina à
empresa.
A Hope fornece mão de obra técnica terceirizada à Petrobras e teria pago
propinas ao então diretor de Serviços Renato Duque. De acordo com a
investigação do Ministério Público Federal, a propina da empresa começou
a ser intermediada pelo lobista Julio Camargo, que depois foi
substituído por Pascowitch.
Teriam sido pagos cerca de 3% do faturamento líquido (sem impostos e
encargos) da Hope no contrato com a Petrobras. O butim da propina somava
de R$ 500 mil mensais – dos quais R$ 180 mil eram entregues ao lobista
Fernando Moura, também preso nesta segunda e apontado como o responsável
pela indicação de Duque para a diretoria da Petrobras.
O restante seria dividido entre o próprio Duque (40%), Dirceu (30%) e
Pascowitch (30%). Os pagamentos foram feitos entre 2004, quando Dirceu
ainda era ministro-chefe da Casa Civil, e se estenderam até o final de
2013.
Já com a Personal Service, segundo Pascowitch, os valores de corrupção
eram negociados a cada contrato. Segundo ele, em troca dos pagamentos, o
lobista era o responsável por levar as demandas das Hope e da Personal a
Renato Duque para que o então diretor operasse para excluir outras
concorrentes destas empresas em licitações.
Pascowitch diz que os valores repassados pela Hope e pela Personal não
estavam atrelados a nenhum contrato de consultoria, e eram entregues em
espécie.
Também estão sendo investigadas nesta fase da Lava Jato as empresas
Consist (sistemas e softwares) e a Multitek, uma das fornecedoras para a
obra do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro).
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