terça-feira, 4 de agosto de 2015


Servidores gaúchos voltam a trabalhar, mas ameaçam fazer greve geral

Policiais militares e civis, professores e demais servidores estaduais decidiram voltar ao trabalho na terça-feira (04.ago.2015), após terem paralisado suas atividades por 24 horas na segunda-feira (03.ago.2015).
Apesar da trégua, os funcionários ameaçam uma greve geral a partir de 18 de agosto em protesto à decisão do governo de José Ivo Sartori (PMDB) de parcelar os salários dos servidores.
Na sexta-feira (31.jul.2015), o governo anunciou que, devido à crise econômica, iria pagar salários integrais só aos servidores que ganham até R$ 2.150.
Os demais funcionários públicos, cerca de 48% do total, receberão em mais duas parcelas, em 13 e 25 de agosto.



O secretário Márcio Biolchi, da Casa Civil, recebeu representantes de diversas entidades no final da manhã de segunda-feira (03.ago.2015). Biolchi pediu "compreensão" aos servidores, mas disse que não é possível o pagamento integral dos salários.
A maioria dos policiais militares não saiu dos quartéis na segunda. Sem policiamento, os ônibus deixaram de circular pela manhã.
O sindicato dos bancários obteve uma liminar para impedir a abertura das agências, alegando falta de segurança. Apesar disso, a maioria funcionou normalmente.
O comando da Brigada Militar colocou nas ruas soldados sem formação. "Os alunos foram usados para dar impressão de normalidade", disse Leonel Lucas, da Associação dos Servidores de Nível Médio da Brigada Militar.
O presidente da Abamf diz que alunos foram deslocados para as ruas "para dar impressão de normalidade". Ainda segundo Lucas, além de não terem a formação completa, os alunos da Brigada Militar estão vestindo coletes com a data de validade vencida. "Estão colocando a vida deles em risco."
A associação chegou a pedir a prisão do governador por descumprimento de ordem judicial que proibia o parcelamento dos salários. Segundo o TJ, o pedido ainda não foi julgado.
Durante o dia, surgiram boatos de arrastão e tiroteio. No começo da noite, algumas lojas fecharam mais cedo. A Secretaria da Segurança informou que, apesar dos protestos, o número de ocorrências foi normal.
A Secretaria de Segurança Pública informou que o número de ocorrências não aumentou por causa da paralisação dos policiais.
Em nota, o comando da Brigada Militar disse que em praticamente todas unidades há "manifestações pacíficas".
A reportagem circulou por diversas ruas do centro de Porto Alegre durante a manhã e tarde e não viu nenhum policial, exceto em frente ao Palácio Piratini durante protesto dos servidores estaduais.
A reportagem também visitou uma delegacia, praticamente vazia exceto pelos poucos funcionários. Sem querer se identificar temendo retaliação, eles contam que a parcela do salário depositada já foi usada para pagar financiamentos de imóveis e contas como água, luz, telefone.
"A sensação de insegurança é crescente há bastante tempo", diz Rogério Bilhalva, segundo vice-presidente do Sinpol (Sindicato dos Servidores da Polícia Civil), que representa 5.700 funcionários, metade do déficit necessário.
"Negociação não tem nesse governo", diz Henrique Bueno Machado, presidente do Sindiperícias (Sindicato dos Servidores do Instituto Geral de Perícias) sobre o parcelamento dos salários.

Grupo se reúne em frente ao 9º Batalhão da Brigada Militar (BPM), principal quartel
da região central de Porto Alegre, para manifestar descontentamento com o parcelamento
do salário dos militares.

NOVA GREVE
Os servidores da Polícia Civil optaram por paralisar parcialmente as atividades até o dia 18. O sindicato do setor divulgou nota em que orienta os funcionários a fazer operação padrão.
Isso significa, por exemplo, só registrar boletim de ocorrência com a presença de um delegado. Os policiais continuarão atendendo casos de homicídio, violência contra a mulher e ocorrências envolvendo crianças.
"Tinha muita gente que não acreditava até hoje, ou até sexta-feira [quando foi divulgado o parcelamento], que essa seria a necessidade que tínhamos [parcelar salários]", disse o governador na noite segunda-feira (03.ago.2015), em seu primeiro pronunciamento sobre a medida.
A declaração foi dada após reunião de três horas com representantes do Tribunal de Justiça, Ministério Público, Tribunal de Contas do Estado e Assembleia.
Os órgãos formaram um grupo para debater a crise.
O governo enviará um pacote de aumento de impostos e privatizações para aprovação dos deputados. Sindicatos criticam a medida e alegam que a crise financeira é uma estratégia para realizar as privatizações.

Servidores durante protesto em Porto Alegre.

DÍVIDA
O Rio Grande do Sul é proporcionalmente o Estado mais endividado do país e convive há anos com sucessivos deficit no Orçamento.
Desde que assumiu, em janeiro, Sartori atrasa repasses à saúde e a fornecedores para priorizar o pagamento do funcionalismo.
Para a folha de julho faltaram, segundo o governo, R$ 360 milhões — R$ 47 bilhões é o total da dívida com os funcionários — R$ 5,4 bilhões foi o déficit deixado por Tarso Genro (PT), da gestão anterior.


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