Governo admite perda de controle
Embora o Palácio do Planalto mantenha um ar de distanciamento que
corresponde pouco com a realidade, três dos principais atores políticos
do governo Dilma Rousseff foram a campo na quarta-feira (05.ago.2015)
admitir com franqueza o óbvio: é grave a crise, e no momento,
incontrolável.
O mais eloquente foi o vice-presidente, Michel Temer (PMDB-SP), alçado
desde o começo do ano a coordenador político. Num tom raramente visto de
nervosismo, ele clamou por união nacional e admitiu a gravidade da
situação política e econômica.
O recado era direcionado principalmente, mas não apenas, ao Congresso em
rebelião. A manutenção da votação de uma "pauta-bomba" na terça-feira
(04.ago.2015), após os líderes concordarem que ela deveria ser adiada, é
sinal claro do clima em Brasília.
O vice-presidente também se colocou como alguém com "capacidade de
reunificar todos", o que num contexto em que o cargo da chefe está
ameaçado por eventuais pedidos de impeachment e pela baixíssima
aprovação, poderá ser objeto de especulações distintas.
Temer havia se reunido mais cedo com Joaquim Levy (Fazenda), principal
porta-voz até aqui dos apelos ao Congresso. O ministro deu também sua
palhinha, dizendo não desejar "ruptura" no Congresso e apontado a
gravidade da crise.
Por fim, um improvável Aloizio Mercadante (Casa Civil) falou em "acordos
suprapartidários" para superar ao menos a crise econômica – como se ela
fosse dissociável da política. De todo modo, a fala completa o cenário
de que o governo, ou parte dele, parece ter entrado em pânico.
O que vem por aí não ajuda os governistas. O presidente da Câmara,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), maquina sua vingança contra o que considera
perseguição pelo Planalto. Para cada declaração defendendo a
responsabilidade nas decisões, uma ação de bastidor para alfinetar o
governo.
Nesta quinta-feira (06.ago.2015), Dilma e seu antecessor, Luiz Inácio
Lula da Silva, aparecerão no programa de TV do PT e, até aqui, o partido
não deu sinais de que irá mudar isso. Chamará para si um provável
megapanelaço, que servirá de aperitivo para o protesto que pedirá a
saída de Dilma do governo no dia 16 de agosto.
Isso ocorre no momento em que o mesmo Cunha limpa a área para eventual
apreciação das contas de 2014 de Dilma e eventuais pedidos de
impeachment, em acordo tático com a oposição. Dono da bola e pressionado
pela certa denúncia que sofrerá pela Procuradoria-Geral da União por
acusações de levar dinheiro no petrolão, o presidente da Câmara ditará o
"timing" de todo o processo.
Por fim, o fantasma das apurações da Lava Jato segue em ritmo acelerado
de assombração. O temor de delações premiadas que possam comprometer
ainda mais o PT e o governo só fez crescer, além do impacto simbólico da
nova prisão do ex-ministro José Dirceu.
Enquanto o PT acredita que poderá rebater nas ruas esse tsunami, com
atos no dia 20, os principais atores do governo dão sinais de que
entenderam a natureza do problema.
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