Aumenta a distância entre o real e as moedas de países emergentes
O real deixou de acompanhar as moedas emergentes e acelerou suas perdas
em relação ao dólar desde que o governo praticamente zerou a meta
fiscal, em 22 de julho.
A distância entre a cotação da moeda brasileira e a de uma cesta de
divisas emergentes (como as de China, África do Sul e Rússia) está no
maior patamar desde o início do ano, o que mostra que não são apenas as
turbulências externas que afetam o real, mas também a recessão e as
dificuldades do governo para cumprir o superavit.
O recorde anterior era de março, quando parte das dificuldades atuais já era conhecida.
As dificuldades do câmbio pioraram na semana passada também porque a
agência de classificação de risco S&P ameaçou rebaixar a nota
brasileira, o que tiraria do país o chamado grau de investimento,
espécie de selo de bom pagador da dívida pública.
A expectativa de votação das chamadas pautas-bombas pelo Congresso, que
podem elevar o gasto público e aprofundar a crise, também acentuou o
pessimismo, levando o dólar a subir na quarta-feira (05.ago.2015) pelo
quinto dia seguido até bater em R$ 3,50.
Desde a mudança na meta fiscal (de 1,1% do PIB para 0,15%), o dólar
passou de R$ 3,2269 para R$ 3,4854 no câmbio à vista, referência do
mercado financeiro.
O real perdeu 24,2% de seu valor em relação ao dólar neste ano. A
maioria das moedas dos grandes países emergentes se desvalorizou menos
de 10%, com exceção do peso colombiano (19,5%), da lira turca (16,8%) e
do rublo (12,5%).
A cesta de moedas emergentes compreende divisas de dez países, sendo que
só a Rússia não tem o grau de investimento. Essas moedas seguem
basicamente a variação dos preços de commodities, além da perspectiva de
alta dos juros nos EUA, prevista para a partir de setembro.
"Estamos nos distanciando do grupo de países emergentes com uma situação
mais estável, conforme o quadro econômico vai se deteriorando e a crise
política não parece arrefecer", disse Newton Rosa, economista-chefe da
SulAmérica Investimentos.
"Estamos no lado ruim dos emergentes, mais próximos de Turquia e Rússia e
cada vez mais distantes dos países que têm perspectiva melhores de
crescimento."
Para Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, a taxa de câmbio
brasileira passou a espelhar mais os negócios com CDS ("credit default
swap", em inglês), um "seguro" para cobrir eventuais calotes e que mede o
risco do país.
O CDS brasileiro de cinco anos, que começou o ano em 200 pontos, atingiu
nesta quarta 307. Há duas semanas, estava em 275 pontos. Isso significa
que quem compra proteção para um título do Brasil de US$ 10 milhões
paga US$ 300 mil por ano ao vendedor do CDS. Em julho de 2014, pagava
US$ 140 mil.
"Nós estamos mais para submergentes que para emergentes. Nossos títulos
já são negociados como "junk" [alto risco]. Mesmo a desvalorização
cambial não consegue impulsionar a competitividade do país, com exceção
da exportação de matérias-primas, como papel e celulose, que têm os
custos todos em real", disse Vieira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário