Sem saída — Dilma adia definição sobre ministérios, mas continua distribuição de cargos do segundo escalão
É fácil ver o quanto o governo Dilma Rousseff (PT) tem-se esforçado, nos
últimos dias, para tentar evitar o impeachment. Difícil, contudo, é
conceber o que a presidente pretende fazer caso permaneça no Palácio do
Planalto.
O Ministério da Saúde, por exemplo, virou simples moeda para comprar
apoio no Congresso, como se a pasta fosse desimportante e como se o país
não enfrentasse epidemias virais graves — zika, dengue, chikungunya e
gripe H1N1.
Tendo em mente apenas o objetivo de salvar a presidente, palacianos
também rifam o Ministério da Educação, uma cenoura em tese capaz de
atrair o PP — agremiação, não custa lembrar, campeã em aparições na
Operação Lava Jato.
A ausência de escrúpulos, naturalmente, não se manifesta somente no
primeiro andar da administração. No segundo e no terceiro escalão,
sobram cargos para o governo distribuir a futuros aliados.
Consta que articuladores do PT têm oferecido vagas nos Estados a que
pertencem deputados federais de menor visibilidade, sejam integrantes do
chamado "baixo clero", sejam parlamentares baseados nos grotões do
país.
Dá-se preferência àqueles do Norte e do Nordeste, onde a presidente teve
melhor desempenho eleitoral. Imagina-se que congressistas mais
distantes das grandes cidades sentirão menos pressão pelo impeachment —
movimentos anti-Dilma têm patrulhado políticos que não se juntam à
oposição.
A manobra inclui a participação do ex-presidente Lula. No sábado
(02.abr.2016), ele se reuniu em Fortaleza com dez integrantes de siglas
como PROS, PTN e PDT. O petista também almoçou com governadores do
Nordeste e, uma semana antes, encontrou-se com deputados de Alagoas,
Pernambuco e Pará.
Pelas contas do governo, trata-se de conquistar cerca de 40
congressistas para chegar a 172 e com isso impedir que a oposição
alcance os 342 votos necessários para encaminhar o processo de
impeachment ao Senado. Em torno de 150 deputados se dizem indecisos.
O mais provável é que a taxa de indecisão se mantenha elevada até o
momento da votação. Ao longo dos próximos dias, portanto, o Planalto
fará de tudo para selar novas alianças, aviltando-se mais e mais. Caso
sobreviva ao impeachment, o governo Dilma Rousseff sairá desse processo
ainda menor.
A decisão da presidente Dilma Rousseff de deixar a reforma ministerial
para depois da votação do impeachment não vai diminuir o ritmo da
redistribuição dos cargos no segundo escalão do governo. A ideia do
Palácio do Planalto é continuar oferecendo esses postos aos partidos da
base aliada como forma de "garantia" de que eles terão mais espaço no
governo após o impeachment ser barrado na Câmara.
Segundo um ministro próximo a Dilma, a nova estratégia evita o
"desgaste" tanto do governo quanto das siglas neste momento, pois tira a
impressão de que o Planalto está promovendo uma "barganha" de pastas
importantes, como Saúde e Educação, para impedir o afastamento da
presidente.
Se Dilma sobreviver ao processo, o discurso que será adotado é que o
governo precisa repactuar a sua base aliada para conseguir governar.
Entre os partidos que deverão ser contemplados com novos ministérios
após o processo de impeachment estão o PP, o PR e o PSD.
Desde que o PMDB decidiu deixar a base aliada, na semana passada, cargos
importantes que estavam com a sigla têm sido repassados a integrantes
de outras legendas.
Na terça-feira, 05.abr.2016, o Diário Oficial da União trouxe a nomeação
do novo diretor-geral do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas
(Dnocs), Antonio Iran Costa Magalhães. O nome, ligado ao PP, substituiu
Walter Gomes de Souza, que era indicado pelo PMDB.
Com a saída de Henrique Eduardo Alves do Ministério do Turismo, nomes
indicados pelo peemedebista também estão sendo demitidos da pasta.
Também houve mudanças em órgãos como a Caixa Econômica Federal, a
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e a Fundação Nacional de
Saúde (Funasa).
Depois de passar uma semana tentando reconfigurar a Esplanada, Dilma
afirmou que não faria qualquer mudança ministerial nos próximos dias. "O
Palácio do Planalto não pretende qualquer reestruturação antes de
qualquer votação na Câmara. Especulações sobre ministérios, sobre
mudanças no governo, são absolutamente especulações. Sem base de
verdade", disse.
Um dos motivos do adiamento foi o fato de seis dos sete ministros do
PMDB não terem deixado os cargos depois do rompimento do partido com o
governo. Apesar de Dilma precisar conquistar os votos de outros partidos
da base para barrar o impeachment, não pode abrir mão do apoio de
peemedebistas na votação.
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