quinta-feira, 21 de abril de 2016


Dilma viaja a Nova York — viagem que havia sido cancelada voltou ao radar do Planalto — intuito seria denunciar o que a presidente tem chamado de 'golpe'



A apresentadora Christiane Amanpour, da CNN, fala sobre a crise política do Brasil


A presidente Dilma Rousseff decidiu confirmar sua participação na Cerimônia de Assinatura do Acordo de Paris sobre Mudança do Clima, na Organização das Nações Unidas (ONU), que ocorrerá em Nova York na sexta-feira (22.abr.2016). A petista viajará na quinta-feira (21.abr.2016) pela manhã — está marcada para as 9h30min a decolagem da presidente Dilma Rousseff de Brasília e a chegada a Nova York está prevista para as 19h30min, hora local — abrindo espaço para o vice-presidente Michel Temer assumir a Presidência da República interinamente. Dilma voltará a Brasília no sábado (23.abr.2016).

Havia dúvidas sobre a presença da presidente no evento. Nas últimas semanas, Dilma cancelou 3 agendas internacionais por causa da crise política. Na terça-feira (19.abr.2016) pela manhã, ministros palacianos contatados pela reportagem acreditavam que a petista optaria por não viajar ao exterior.
A presidente não foi a uma cúpula sobre segurança nuclear realizada em Washington no final de março. Nesta semana, faltou à Assembleia Geral da ONU Sobre Drogas na segunda-feira (18.abr.2016) e cancelou a participação na cerimônia de acendimento da tocha Olímpica que será realizada amanhã, quinta-feira (21.abr.2016), na Grécia.

A petista aproveitará a viagem a Nova York, entre outras razões, para criticar o que chama de “golpe” (o processo de impeachment) e falar sobre a situação política no país após a admissibilidade do processo de impeachment pela Câmara dos Deputados no último domingo (17.abr.2016).
O governo tem tido boa acolhida de parte da mídia internacional a respeito da tese do golpe. Na terça-feira (19.abr.2016), a rede de notícias a cabo norte-americana CNN transmitiu uma entrevista de mais de 9 minutos da apresentadora Christiane Amanpour com o repórter Glenn Greenwald, que mora no Rio.
Na conversa, Greenwald diz considerar o impeachment “anti-democrático”. É nessa onda que Dilma pretende surfar passando por Nova York, dando entrevistas para outros veículos internacionais.


O governo dedicou parte da segunda-feira (18.abr.2016), para desenhar estratégia de reação ao impeachment e tentar reverter a situação no Senado. Na terça-feira (19.abr.2016), a presidente Dilma Rousseff teria discutido com auxiliares, inclusive, a possibilidade de ir a Nova York para participar da Cerimônia de Assinatura do Acordo de Paris sobre Mudança do Clima, na Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo interlocutores, a presidente pretende usar a tribuna internacional para denunciar o que chama de "golpe", com relação ao processo de impeachment em curso no Senado.
Na semana passada, a viagem dependia da não aprovação do processo de impeachment na Câmara no último domingo (17.abr.2016). Com a derrota, a viagem foi suspensa, mas agora, com a estratégia de uma superexposição de Dilma para denunciar o que ela chama de "golpe", a presidente voltou a discutir o assunto com seus auxiliares e decidiu confirmar sua participação na Cerimônia de Assinatura do Acordo de Paris.






A presidente quer aproveitar sua viagem aos Estados Unidos para, da tribuna internacional, denunciar o golpe que ela diz que está sendo armado contra ela e que foi deflagrado e comandado na Câmara por Eduardo Cunha.
Dilma vai se escorar em notícias divulgadas pela imprensa internacional, que chegou a ironizar a situação no País por um réu colocar uma presidente em julgamento.
No período em que estiver nos Estados Unidos, Dilma pretende lembrar também que tanto a OEA quanto a Unasul questionaram o processo de abertura de impeachment.
No último dia 15.abr.2016, antes mesmo da votação na Câmara dos Deputados que autorizou a abertura do impeachment, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), o uruguaio Luis Almagro, esteve com Dilma e disse que "o impeachment constitui um ato de flagrante ilegalidade" que o processo contra Dilma era movido por “inconsistências” e “razões políticas oportunistas”. Na avaliação do secretário-geral da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), Ernesto Samper, o impeachment ameaça a segurança jurídica do Brasil e também da região.
Na segunda-feira, um dia depois da aprovação do afastamento da presidente pela Câmara, a Unasul emitiu nota em que considera o resultado um "motivo de séria preocupação".

Na agenda da presidente, além da reunião na ONU, a partir das 8h30min de sexta-feira (22.abr.2016), estão previstas pelo menos duas entrevistas — uma na própria sexta e outra no sábado. Dilma quer usar todos os meios possíveis e aproveitar que parte da imprensa internacional tem sido crítica ao processo de impeachment para repetir que está sendo 'vítima de processo baseado em uma flagrante injustiça, uma fraude jurídica e política, que é a acusação de crime de responsabilidade sem base legal, sem crime e ao mesmo tempo de um golpe".

Ao contrário da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da União Nacional das Nações Sul-Americanas (Unasul), o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, minimizou o processo de impeachment no Brasil. Dujarric disse, em entrevista coletiva, que o Brasil tem "tradição democrática" e "instituições de Estado fortes". Acrescentou ainda que "o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, está acompanhando a situação política no Brasil "de perto" e que "o Brasil tem uma tradição democrática sólida e instituições de Estado fortes".



O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO)


Bater na tecla do 'golpe' fora do País irrita oposição — A disposição da presidente Dilma Rousseff de denunciar em fóruns internacionais o que chama de “golpe” para tirá-la do Palácio do Planalto incomoda a oposição. Dilma viajará para Nova York e já avisou que usará a tribuna da Organização das Nações Unidas (ONU) para apontar o dedo na direção de seus algozes.
“É inaceitável a presidente utilizar uma viagem internacional para denegrir a imagem do Brasil no exterior”, afirmou na quarta-feira (20.abr.2016) o senador Ronaldo Caiado (GO), líder do DEM no Senado. "Há um desgoverno instalado e muitos eleitores foram tratados como inocentes úteis nessa história."

O vice-presidente Michel Temer, que assumirá interinamente o governo até sábado (23.abr.2016) — quando Dilma retornará de Nova York —, já mostrou preocupação com a narrativa de que há um “golpe” em curso no País e pediu a ajuda de aliados para desconstruir esse discurso.
Temer, que tem sido criticado e chamado de “traidor”, “golpista” e “conspirador” por Dilma, não pretende viajar a Brasília. A ideia é permanecer em São Paulo, sem agendas externas, com comportamento discreto.
Michel Temer assumirá a Presidência no momento de maior tensão com o Palácio do Planalto. A presidente chama-o abertamente de golpista e o acusa de conspirar contra o seu governo. Em outras oportunidades, o vice-presidente evitou usar o gabinete presidencial durante interinidades. Despacha do seu próprio escritório, na sede da Vice Presidência da República. Às vezes, nem fica em Brasília.
No Brasil, todas as vezes que a presidente viaja para o exterior, o vice precisa assumir oficialmente a função. Embora hoje em dia as comunicações digitais e via satélite permitam que o chefe de Estado e de governo possa tomar decisões de qualquer parte do planeta, essa tradição antiga foi mantida em todas as Constituições Brasileiras.

A estratégia do governo e do PT consiste em expor ao máximo as "fragilidades" de Temer e carimbá-lo como um "traidor" que conspirou contra Dilma dentro do Palácio do Planalto, sempre insistindo que ele é "sócio" do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), réu em ação penal autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da Operação Lava Jato.

O ministro do Supremo Celso de Mello
Dilma comete 'gravíssimo equívoco' — Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) criticaram na quarta-feira (20.abr.2016) a possibilidade de a presidente Dilma Rousseff usar a viagem que fará aos Estados Unidos para defender que o processo de impeachment em curso é um golpe contra a democracia. Para o decano da Corte, Celso de Mello, a presidente comete um "gravíssimo equívoco" ao fazer essa avaliação, pois o processo que pede o seu afastamento no Congresso está correndo dentro da normalidade jurídica.
"Ainda que a senhora presidente da República veja, a partir de uma perspectiva eminentemente pessoal, a existência de um golpe, na verdade, há um grande e gravíssimo equívoco, porque o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal deixaram muito claro que o procedimento destinado a apurar a responsabilidade política da presidente da República respeitou, até o presente momento, todas as fórmulas estabelecidas na Constituição", defendeu.
Para Celso de Mello, porém, Dilma tem o direito de viajar para o exterior mesmo após a Câmara decidir aceitar o pedido de impeachment porque ela ainda não foi afastada das suas funções na Presidência. Ele, no entanto, voltou a criticar o tom do discurso que poderá ser adotado pela petista. "Eu diria que é no mínimo estranho esse comportamento ainda que a presidente possa, em sua defesa, alegar aquilo que lhe aprouver. A questão é saber se ela tem razão", disse.
Um dos maiores críticos ao governo no STF, o ministro Gilmar Mendes também ironizou a possibilidade de Dilma fazer um discurso em Nova York nesse sentido. "Eu não sou assessor da presidente e não posso aconselhá-la, mas todos nós que temos acompanhado esse complexo procedimento no Brasil podemos avaliar que se trata de procedimentos absolutamente normais, dentro do quadro de institucionalidade", disse.
Cunha — Os dois ministros, porém, evitaram comentar sobre a situação do maior algoz de Dilma, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), responsável por conduzir o processo na Casa.
Celso de Mello defendeu que o Supremo não está demorando para julgar o pedido, feito em dezembro pela Procuradoria-Geral da República, de afastamento do presidente da Câmara do cargo. "Não há atraso, há estrita observância ao que estabelece a lei", disse.
Os dois ministros, no entanto, admitiram que o STF poderá discutir se Cunha poderá ou não assumir a Presidência, em caso de impeachment de Dilma, já que ele será o segundo na linha sucessória após o vice-presidente, Michel Temer. O peemedebista já réu num processo do Supremo e há um artigo na Constituição que impede alguém denunciado de ocupar o cargo.

Agenda — Além de Nova York, a agenda de Dilma com eventos populares será retomada na próxima semana com uma viagem prevista a Salvador (BA). A viagem deve ocorrer na segunda-feira ou terça-feira da próxima semana para uma cerimônia de entrega de unidades habitacionais do programa Minha Casa, Minha Vida.




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