quarta-feira, 13 de abril de 2016


Operação Vitória de Pirro — 28ª Etapa da Lava Jato

Em mensagem de texto, Léo Pinheiro, da OAS, pediu a seu colega Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez, em agosto de 2014, que ligasse para o então senador Gim Argello 'Fico preocupado com as reações intempestivas' — ‘O nosso Alcoólico está indócil’, alerta empreiteiro.



Gim Argello — preso na 28ª fase da Lava jato


O celular do empreiteiro da OAS José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, apreendido na Operação Juízo Final, a 7ª fase da Lava Jato — em novembro de 2014 —, levou os investigadores a identificar o depósito de R$ 350 mil na conta da Paróquia São Pedro, no Distrito Federal, ligada ao ex-senador Gim Argello (PTB-DF). O arquivo de mensagens é revelador. Os textos indicam uma conduta agressiva de Gim Argello, provavelmente quando exigia propinas. Ele era chamado de ‘Alcoólico’ por Léo Pinheiro.
“Otávio, O nosso Alcoólico está indócil (sic). Seria oportuno uma ligação sua para ele. Fico preocupado com as reações intempestivas. Abs. Léo”, escreveu o empreiteiro no dia 5 de agosto de 2014 para Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez.
O ex-parlamentar Gim Argello foi preso na terça-feira, 12.abr.2016, na Operação Vitória de Pirro, 28ª etapa da Lava Jato. Para a força-tarefa da Procuradoria da República e da Polícia Federal, o repasse da OAS ao templo foi um pedido de Gim Argello para que Léo Pinheiro não fosse convocado a depor na CPI da Petrobrás, em 2014, da qual o então senador era vice-presidente.
Na decisão em que deflagra Vitória de Pirro e manda prender Gim Argello, o juiz federal Sérgio Moro se referiu a mensagens trocadas por Léo Pinheiro, em 2014, com interlocutores, entre eles o ex-presidente da Andrade Gutierrez e hoje delator da Lava Jato, Otávio Marques de Azevedo, como um ‘verdadeiro encontro fortuito de provas’.
O juiz da Lava Jato destacou ainda uma troca de mensagens de 30 de setembro de 2014, entre Léo Pinheiro e Gustavo Nunes da Silva Rocha, presidente da Invepar, empresa do Grupo OAS.
“Gustavo Rocha: Falei com ele [Gim Argello} agora. Fiquei de retornar com os próximos passos. Abs.”
Em 14 de maio de 2014, data da instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito da Petrobrás no Senado, José Adelmário trocou mensagens com Dilson Paiva e Roberto Zardi, ambos diretores da OAS.
“Dilson,
Preciso atender uma doação:
Para: Paroquia São Pedro
CNPJ 00.108.217/007980
C/C 01609.7
Agência: 8617
Bco: Itaú
Valor $350.000,00 (trezentos e cinquenta mil reais)
Centro de custo: Obra da Renest
Projeto Alcoólico
www.paroaquisaopedro.com.br
Endereço QSD AE 25 Setor D Sul Taquatinga
DF.”
Os investigadores estão convencidos que ‘Alcoólico’ é o codinome utilizado por Léo Pinheiro para referir-se a Gim Argello, em trocadilho com a bebida gim, aguardente aromático e destilado à base de cereais que teve origem nos Países Baixos no século XVII.
De acordo com a força-tarefa, a mensagem significa o pagamento de R$ 350 mil para conta da paróquia por solicitação de Gim Argello (‘Alcoólico’), com o custo sendo suportado pelos contratos da OAS junto à Refinaria do Nordeste Abreu e Lima.
Os investigadores resgataram troca de mensagens cifradas entre Léo Pinheiro e Roberto Zardi para esclarecer sobre o que estão tratando:
“José Adelmário: Dilson, vai lhe pedir um apoio. Vc. ainda continua tomando Gim? Qual alegoria marca? Abs
Roberto: OK, Tomei naquele dia e gosto.
José Adelmário: A a. Abs”
Em 16 de maio de 2014, há registro de ligações telefônicas de Gim Argello para Léo Pinheiro e para Roberto Zardi. A força-tarefa identificou que, neste mesmo dia, consta cobrança do empreiteiro a seus subordinados quanto ao repasse na conta do templo.
“José Adelmário: Já foi feito o depósito da Igreja?
Dilson: Dr. Leo. Ainda não. Conversei pessoalmente com o Roberto Zardi ontem. Ele vai procurar o padre pessoalmente.
Dilson: Já está marcada a conversa para hoje.
José Adelmário: Ok.”
Para os procuradores, como o pagamento seria feito com intermediação da Paróquia São Pedro, Dilson Paiva diz que embora o pagamento não tivesse ainda sido realizado, Roberto Zardi — diretor de Relações Institucionais da OAS, em Brasília — iria ‘procurar o padre pessoalmente’. Segundo a força-tarefa, isto ‘sugere uma conversa pessoal com Gim Argello’.
Em 20 de maio de 2014, consta registro de outra ligação de Roberto Zardi para Gim Argello, de acordo com a Lava Jato. No dia seguinte, Roberto Zardi confirma a Léo Pinheiro o recebimento da ‘doação’ por Gim Argello (‘Alcóolico’), relata a força-tarefa.
“Roberto Zardi: Doação, confirmado recebimento Alcoólico.
José Adelmário: Ok.”
Os procuradores identificaram ainda o nome ‘Alcoólico’ em troca de mensagens de Léo Pinheiro com Otávio Marques de Azevedo, presidente do Grupo Andrade Gutierrez que também fechou acordo de delação premiada com a Procuradoria Geral da República.
“José Adelmário: Podemos falar com o Alcoólico na 5ª tb?
Otávio Marques: Não entendi?
José Adelmário: Já falamos é o G
Otávio Marques: Ok.
José Adelmário: Tudo bem? na 5ª fim de tarde ou 6ª entre 10 e 11hs poderíamos conversar? Abs.”
Em outras mensagens, de 25 de junho de 2014, com empreiteiros, em conversa com Ricardo Pessoa, Léo Pinheiro volta a falar do ‘Alcoólico’.
“José Adelmário: Mário ou quem ele determinar precisam procurar o Alcoólico urgente. Estão numa pressão impressionante. Vc. falou com Sergio? Abs
Ricardo Pessoa: Ainda não falei com Sergio. Márcio me disse que já enviou o amigo para conversar. Abs.
José Adelmário: Com o Alcoólico?
Ricardo Pessoa: Sim. São amigos o álcool e o meloncia.
José Adelmário: Ok. O clima não está nada bom.”

Paróquia ligada a Gim recebeu R$ 300 mil da Andrade por ‘intermediação espontânea’ de Agnelo — templo situado em Taguatinga confirma em nota ter recebido R$ 350 mil da OAS a pedido do ex-senador, mas nega contato com dirigentes da empreiteira



Paróquia São Pedro em Taguatinga


A Paróquia São Pedro, situada em Taguatinga, no Distrito Federal, informou na terça-feira, 12.abr.2016, que recebeu ‘doação’ da Construtora Andrade Gutierrez no valor de R$ 300 mil em quatro de junho de 2014 ‘por intermediação espontânea’ do então governador do DF Agnelo Queiroz (PT/2011-2015). A igreja destacou que também ‘recebeu doações’ da Construtora Via Engenharia, ‘todas contabilizadas e à disposição das autoridades’.
As informações foram divulgadas em nota pela Paróquia São Pedro, citada na Operação Vitória de Pirro, 28ª fase da Lava Jato, por ter recebido R$ 350 mil da empreiteira OAS a pedido do ex-senador Gim Argello (PTB/DF), preso na terça-feira, 12.abr.2016.
A nota é subscrita pelo padre Moacir Anastácio de Carvalho. Ele confirmou o recebimento de R$ 350 mil da OAS. “Existem várias fórmulas de se angariar recursos e doações, desde campanha dos envelopes, vendas de camisetas, e doações de pessoas físicas e/ou jurídicas”, destacou.
Segundo o padre, em 2014, um dos paroquianos e membro da Coordenação da equipe de pentecostes engajado com o tradicional evento Semana de Pentecostes, o então deputado distrital Washington Gil Mesquita, ‘se ofereceu para conseguir patrocinadores para o nosso evento, culminando por pedir ajuda a outro frequentador e participante contumaz desse evento há mais de 10 anos, o ex-senador da República Dr. Jorge Argello (Gim Argello), que não mediu esforços para atender às necessidades da nossa Paróquia, procurando a Empresa OAS, que se dispôs a fazer uma ‘doação’ para a festa de Pentecostes’.
“Nesse período, o então deputado Washington Gil Mesquita repassou para o então senador Jorge Argello os dados bancários da nossa Paróquia, que mantemos no Banco Itaú, Agência 8615′.
“Assim é que, no dia 19 de maio de 2014, fomos avisados de a Construtora OAS teria realizado um depósito de R$ 350 mil em nossa conta, destinados à realização desse evento, cujo recibo foi disponibilizado ao Ministério Público Federal.”
A nota, inicialmente, traz elogios aos protagonistas da Operação Lava Jato. “Em nome da Paróquia de São Pedro gostaríamos de expressar a nossa admiração e respeito aos membros do Ministério Público Federal e, ao não menos ilustre juiz federal dr. Sérgio Moro, pelo trabalho incansável tanto de Sua Excelência, como também do próprio Ministério Público Federal, na condução dos trabalhos empreendidos na Força Tarefa que resultou na denominada Operação Lava Jato.”
Sobre a Operação Vitória de Pirro, padre Moacir afirma que a paróquia de São Pedro ‘nunca manteve qualquer tipo de contato com a Construtora OAS, muito menos com os seus Diretores’.
“Por sermos uma instituição religiosa que sobrevive, basicamente, de doações, jamais celebramos qualquer tipo de contrato de prestação de serviços com a Construtora OAS ou com qualquer outra Empresa.”
Segundo Padre Moacir, há dezessete anos a Paróquia São Pedro promove, anualmente, a ‘Semana de Pentecostes’, evento eclesiástico conhecido por congregar milhões de pessoas ao longo de oito dias, que ‘faz parte do calendário de eventos religiosos da Arquidiocese de Brasília, e que já se consolidou como tradição na comunidade católica do Distrito Federal, o que pode ser constatado por vasta divulgação na rede mundial de computadores’.
“Essa campanha é realizada todos os anos, a partir da quarta feira de cinzas, e o seu propósito é arrecadar recursos financeiros para fazer face a realização desse evento, que tem como principal objetivo evangelizar todos os cristãos batizados, e não evangelizados, missão primordial deste sacerdote.”
Padre Moacir afirma que a festa reúne cerca de três milhões de fieis. “Nesse contexto é que a Paróquia, com conhecimento da Arquidiocese de Brasília, sempre recebeu doações para o custeio das despesas demandadas pelo evento e, o saldo remanescente sempre foi investido no Centro de Evangelização Renascidos em Pentecostes.”







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