Moro sonha com fim da Lava Jato até dezembro — juiz federal que conduz maior investigação sobre corrupção no País avalia a interlocutores que sucessão de operações pode provocar desgaste até mesmo na opinião pública
O juiz federal Sérgio Moro |
O juiz federal Sérgio Moro gostaria que a Lava Jato chegasse ao seu fim
até dezembro. Ele tem dito a interlocutores que esta é a sua
‘expectativa’. Considera que a sequência de desdobramentos da grande
investigação pode provocar um desgaste até mesmo na opinião pública que,
hoje, presta apoio maciço à força-tarefa da Lava Jato.
“Terminar até dezembro a parte da primeira instância é uma expectativa
ou um desejo”, disse Moro a uma pessoa próxima, na quarta-feira,
13.abr.2016.
Mas ele próprio admite que essa é uma meta ‘imprevisível’. A cada
desdobramento da Lava Jato surgem indicativos de outras tramas ilícitas
envolvendo outros agentes públicos e políticos. O que força a abertura
de novos procedimentos no âmbito da Polícia Federal e da Procuradoria da
República.
Apesar das declarações de solidariedade que têm recebido nas redes
sociais e em eventos dos quais participa, o juiz da Lava jato tem dito a
interlocutores que ficou ‘consternado’ com o que chama de
‘manifestações de raiva e intolerância’ registradas nas últimas semanas.
Tais manifestações ganharam força sobretudo depois que a Lava Jato
conduziu coercitivamente o ex-presidente Lula, no dia 4 de março, para
depor nos autos da Operação Aletheia — fase da Lava Jato que investiga o
sítio Santa Bárbara, de Atibaia, cuja propriedade é atribuída ao
ex-presidente.
A condução coercitiva do petista foi decretada por Moro que, em sua
decisão, destacou que não se tratava de uma antecipação de condenação,
mas apenas de uma medida necessária para a investigação.
Moro também tem insistido na linha de que a Justiça sozinha não pode ser
a solução para a crise política e ética que o País atravessa. Ele
acredita que chegou a hora de outras instituições, e também a sociedade,
se empenharem para alcançar mudanças importantes que possam levar a um
combate mais eficaz à corrupção e à redução do quadro de impunidade.
O juiz considera que um primeiro passo nessa direção foi dado pelo
Supremo Tribunal Federal — em recente decisão, a Corte admitiu execução
de prisão de condenados em ações penais quando a sentença é confirmada
por colegiado de segundo grau.
A Lava Jato está em sua 28ª etapa ostensiva — a primeira foi deflagrada
em março de 2014. Desde então, vem sendo mantida média superior a uma
operação por mês.
A investigação, que inicialmente mirava em quatro grupos de doleiros,
desvendou um esquema complexo de corrupção, propinas e cartel de
empreiteiras na Petrobrás.
Com a descoberta sobre supostos pagamentos a deputados, senadores e
governadores a Lava Jato chegou ao Supremo Tribunal Federal, instância
máxima que detém poderes para processar políticos com foro privilegiado.
Delações premiadas, quase cinquenta, são o grande aliado da Lava Jato, mas recebem pesadas críticas de advogados e juristas.
Todas as ações penais da Lava Jato na primeira instância estão sob responsabilidade do juiz Moro.
Em uma atuação incomum para os padrões da Justiça brasileira, Moro tem
conduzido em ritmo acelerado os processos criminais, impondo pesadas
condenações a políticos, doleiros, empreiteiros, operadores de propinas e
ex-dirigentes da Petrobrás.
As decisões de Moro têm sido confirmadas pelas instâncias superiores do
Judiciário, a partir do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4).
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