Michel Temer tenta, no exterior, contra-argumentar tese de golpe — vice-presidente concedeu entrevistas ao "The New York Times" e a duas
publicações especializadas em finanças, "The Wall Street Journal" e "Financial Times"
O vice-presidente Michel Temer |
No dia em que Dilma Rousseff viajou para os Estados Unidos com a
intenção de denunciar o que chama de golpe de Estado representado pelo
processo de impeachment, o vice-presidente Michel Temer lançou uma
contraofensiva na imprensa internacional para rebater a tese de que o
possível afastamento da presidente represente ruptura da ordem
institucional do país.
Temer concedeu entrevistas separadamente ao "The New York Times" e a
duas das principais publicações especializadas em finanças do mundo — o
nova-iorquino "The Wall Street Journal" e o londrino "Financial Times" —
para rejeitar a pecha de golpista que Dilma tem lhe atribuído. O
peemedebista também diz que revelará os integrantes de seu ministério
quando o momento chegar.
Foram as manifestações públicas mais aprofundadas do peemedebista desde
que 367 dos 513 deputados da Câmara aprovaram a continuidade do processo
de impeachment, no domingo (17.abr.2016).
"Se cada etapa do impeachment está de acordo com a Constituição, como
pode ser golpe?", disse Temer ao "The Wall Street Journal".
"Estou muito preocupado com a intenção da presidente de dizer que o
Brasil é uma República de menor importância onde há golpes", afirmou ao
"The New York Times".
Se o Senado der continuidade ao processo iniciado pela Câmara, Dilma
será afastada por até 180 dias, sendo substituída por Temer. Em caso de
condenação, o peemedebista fica no cargo até a posse do sucessor
escolhido pelas urnas em 2018.
Dilma pretende dizer nos Estados Unidos que as chamadas pedaladas
fiscais não constituem motivo suficiente para seu afastamento e que ela
não é alvo de acusações de corrupção, diferentemente de grande parte dos
congressistas que votaram para destituí-la.
Ao internacionalizar o discurso de que o impeachment solapa a democracia
brasileira, Dilma busca minar a legitimidade de Temer aos olhos da
comunidade internacional.
Falando na condição de presidente interino devido à viagem de Dilma ao
exterior, Temer disse que deixará o cargo com a volta da titular, no
sábado (23.abr.2016), o que prova o funcionamento regular das
instituições no país.
O peemedebista expressou descontentamento com as recentes acusações de
que esteja conspirando para destituir a presidente e, assim, tomar o
lugar dela. "O fato de ela estar dizendo que eu sou um golpista é
obviamente perturbador para mim e para a Vice-presidência", disse.
Ele criticou a companheira de chapa com quem foi eleito em 2010 e
reeleito em 2014. Segundo ele, Dilma deveria cuidar da sua defesa no
Senado, etapa seguinte do processo de impeachment, ao invés de criar
problemas para o Brasil fazendo "falsas declarações" no exterior.
"O que ela deveria fazer, na minha opinião, é defender-se no Senado, com
argumentos sólidos e então o Senado não vai julgá-la nem afastá-la",
disse ao "Financial Times".
Também ao diário britânico, Temer relatou que Dilma perdeu,
simultaneamente, base de sustentação no Congresso e apoio da população.
Segundo pesquisa Datafolha do início de abril, o governo Dilma é avaliado como ruim ou péssimo por 63%.
"Quando ela me acusa de ser um conspirador ou um golpista, eu me
pergunto se eu realmente teria a capacidade de influenciar 367 deputados
e 70% da população brasileira. Trata-se de algo sem o menor
fundamento", afirmou Temer.
O vice também reclamou de ter sido isolado pelo Planalto. "Eu passei quatro anos em absoluto ostracismo", disse.
NOVO GOVERNO — Temer também se disse preparado para montar um novo
governo no caso de o Senado aprovar a continuidade do processo de
impeachment, mas evitou mencionar nomes.
"Quando o tempo chegar, eu terei o governo na minha cabeça e só então vou anunciar os nomes", disse.
Na mesma pesquisa Datafolha, realizada em 7 e 8 de abril, a taxa dos que
defendiam também o impeachment de Michel Temer era muito semelhante à
dos que queriam ver Dilma longe do Palácio do Planalto: 58% a 61%.
Em diferentes simulações da disputa presidencial de 2018, o atual vice-presidente alcança entre 1% e 2% das intenções de voto.
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