Papéis indicam que Odebrecht fez compras
para sítio usado por Lula
para sítio usado por Lula
Documentos a que a reportagem teve acesso indicam que a empreiteira
Odebrecht bancou em fevereiro de 2011 a compra de bens para o sítio em
Atibaia (SP) frequentado pelo ex-presidente Lula.
Os papéis, de lojas de Atibaia, são os primeiros a ligar a construtora a
gastos com a aquisição de produtos para a propriedade rural usada pelo
ex-presidente.
Até agora somente testemunhos de fornecedores apontavam a Odebrecht como
responsável pelo pagamento de materiais para o imóvel no interior
paulista.
A empreiteira já admitiu ter atuado nas reformas do sítio, mas relatou
ter fornecido apenas parte da mão de obra para os trabalhos.
A construtora afirmou somente ter encaminhado o engenheiro Frederico
Barbosa e mais 15 funcionários para as obras no local, no período entre a
segunda quinzena de dezembro de 2010 e meados de janeiro de 2011.
Porém negócios feitos em nome do engenheiro da Odebrecht Paulo Henrique
Moreira Kantovitz em fevereiro de 2011 indicam que a empreiteira também
financiou a compra de bens para a propriedade rural.
Nessa época, Lula já frequentava o sítio, conforme manifestações dos
próprios advogados do petista. Segundo a defesa, o ex-presidente passou a
visitar o local a partir de 15 de janeiro de 2011.
A reportagem teve acesso ao teor de um pedido de compra de um aquecedor
elétrico para piscina feito em nome de Kantovitz em uma loja de Atibaia,
cujo dono pediu para não ser identificado.
O documento aponta que o aparelho, no valor de cerca de R$ 13 mil (R$ 18
mil em valor atualizado), foi retirado na loja no dia 2 de fevereiro de
2011 para ser instalado no sítio usado por Lula no município paulista.
Outro documento em nome de Kantovitz é a nota fiscal de aquisição de uma
porta de correr emitida por uma loja situada em São Paulo, a Hiper
Cartescos Madeireira, em 25 de fevereiro de 2011.
Esse papel foi apreendido pela Polícia Federal no apartamento de Lula,
em São Bernardo do Campo, em uma das diligências da 24ª fase da Operação
Lava Jato, realizada no dia 4 de março.
A nota fiscal aponta como endereço de entrega a loja Depósito Dias, de
Atibaia, que forneceu materiais de construção para o sítio, segundo
relato feito por Patrícia Fabiana Melo Nunes, dona da loja à época da
reforma na propriedade rural.
Mas o recibo de entrega da porta traz no campo de assinatura os dizeres
"Élcio P. Vieira", que correspondem ao nome do caseiro do sítio
frequentado por Lula, Élcio Pereira Vieira, conhecido como "Maradona".
A assinatura na nota fiscal é semelhante àquela feita pelo caseiro no
termo de depoimento que ele prestou à força-tarefa da Lava Jato, no
âmbito das investigações sobre a propriedade rural.
DINHEIRO VIVO — A direção da Hiper Cartescos Madeireira informou que o
valor da porta, de cerca de R$ 6.000 (R$ 8.400 em valor corrigido), foi
pago em dinheiro vivo na loja.
A ex-proprietária do Depósito Dias afirmou à reportagem em janeiro
último que o engenheiro da Odebrecht Frederico Barbosa fazia os pedidos
de materiais de construção para o sítio. Patrícia também disse que as
obras levaram a gastos de cerca de R$ 500 mil em sua loja.
Segundo a comerciante, esses produtos foram pagos também em dinheiro
vivo, por um homem que levava os valores em envelopes pardos, dentro de
uma mala.
OUTRO LADO — O Instituto Lula afirmou apenas que "documentos que não têm
relação com a propriedade do sítio têm sido vazados" na tentativa de
negar que a propriedade do imóvel de Atibaia (SP) é de Fernando Bittar e
Jonas Suassuna, donos da sítio no papel.
Porém, não respondeu porque bens adquiridos pelo engenheiro da Odebrecht
Paulo Henrique Moreira Kantovitz foram instalados no sítio.
Kantovitz disse que a Odebrecht vem realizando "cooperação" e pediu que a
reportagem procurasse a empreiteira para obter esclarecimentos.
A Odebrecht, que negocia acordo de delação premiada na Lava Jato, informou que não iria se manifestar.
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