Dilma critica impeachment sem olhar para o PT
A hipocrisia é uma característica comum na política. Mas algumas pessoas
exageram. Em conversa com a imprensa estrangeira, Dilma atribuiu a um
“veio golpista adormecido” o fato de o impeachment ter virado no Brasil
“um instrumento contra os presidentes eleitos.”
Quando Dilma acrescentou ter “certeza de que não houve um único
presidente depois da redemocratização do país que não tenha tido
processos de impedimento no Congresso”, não mencionou que foi o seu
partido, o PT, que banalizou o uso do impeachment como instrumento para
puxar o tapete de presidentes eleitos.
Estava claro que o PT, ao atear fogo sistematicamente em administrações
adversárias, trabalhava contra os seus próprios interesses, já que a
legenda frequentava a cena como alternativa de poder. Mas o partido não
parecia preocupado com o que pensariam dele no futuro quando foi às ruas
com faixas de “Fora Sarney'' e “Fora FHC.''
Na sua fase pós-redemocratização, a democracia brasileira produziu
apenas quatro presidentes eleitos pelo voto direto: Fernando Collor foi
despachado para casa mais cedo. Lula e FHC resistiram às tentativas. Se o
Senado confirmar o impedimento de Dilma, a taxa de letalidade do
impeachment será de 50%. Altíssima!
Dilma chegou a insinuar que Collor, hoje na sua base de apoio, talvez
tenha sido cassado injustamente, já que o STF o absolveu posteriormente
das imputações penais. A insinuação é espantosa, mas todo mundo tem o
direito de fazê-la. Porém, para não insultar a inteligência alheia,
Dilma talvez devesse reconhecer: sempre que foi intimado pela história a
optar, o PT revelou sua preferência por virar a mesa em vez de
sentar-se a ela.
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