Andrade Gutierrez diz que pagou pesquisas para Dilma
em 2014 sem declarar
em 2014 sem declarar
Otávio Marques de Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez, quando foi preso na Lava Jato |
A Andrade Gutierrez usou um contrato com o instituto Vox Populi para
pagar pesquisas usadas e não declaradas pela equipe de comunicação da
campanha da reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2014.
A construtora tinha um contrato com o Vox Populi para realização de
levantamentos de dados destinados à empresa, que acabou sendo usado para
bancar pesquisas qualitativas encomendadas pela equipe de produção de
programas da candidata petista à reeleição.
A prática configura caixa dois. Os pagamentos abrangidos pelo contrato ultrapassaram R$ 10 milhões.
Os repasses diretos da construtora ao instituto Vox Populi não constam da prestação de contas da campanha nem da do PT.
Em delação premiada, ex-executivos da empreiteira já haviam admitido um
esquema semelhante na primeira campanha de Dilma à Presidência da
República, em 2010.
Na época, a Andrade, por meio de um contrato com a Pepper Digital, pagou
R$ 6,1 milhões de serviços prestados para a então candidata Dilma.
A informação sobre o contrato com o Vox Populi não consta dos primeiros depoimentos da delação.
Na delação, o ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Marques de
Azevedo disse que parte dos R$ 20 milhões doados oficialmente pela
construtora à campanha presidencial eram descontados de propinas devidas
em contratos de obras realizadas na Petrobras e no sistema elétrico.
Além destas pesquisas qualitativas bancadas pela Andrade, a campanha da
presidente também contratou serviços diretamente ao instituto de
pesquisas, declarando à Justiça Eleitoral ter pago R$ 11,286 milhões.
Foi R$ 1,48 milhão pago para a Vox Populi e R$ 9,8 milhões para a empresa Oma Assessoria de Pesquisa de Opinião.
As pesquisas contratadas eram detalhistas. Chegaram a identificar a
tendência de voto de torcedores de futebol, que foi usada para orientar
ações nas redes sociais e também confecção de programas eleitorais.
Azevedo e outros ex-executivos da Andrade já tinham concordado em
relatar um suposto esquema de propinas na construção de estádios para a
Copa do Mundo, realizada em 2014, e pagamento de suborno e
superfaturamento nas obras da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, na
usina nuclear de Angra 3, no Rio de Janeiro, e na ferrovia Norte-Sul.
Preso por oito meses em Curitiba, Otávio Azevedo foi liberado depois de
fazer o acordo de delação premiada com a força-tarefa da Operação Lava
Jato, no qual revelou também que o consórcio construtor de Belo Monte
acertou pagar R$ 150 milhões de propina, para o PT e o PMDB.
O valor equivale a cerca de 1% do valor que as empreiteiras receberam
pela construção da usina hidrelétrica de Belo Monte e seria dividido em
partes iguais pelos dois partidos da base aliada da presidente Dilma.
No acordo assinado com a Procuradoria, a Andrade Gutierrez se
comprometeu a fazer também um acordo de leniência com a CGU
(Controladoria-Geral da União) em que pagará a multa de R$ 1 bilhão.
A leniência é uma espécie de delação premiada para empresas.
Com isso, a empresa espera continuar trabalhando com o setor público, responsável por quase a metade de sua receita.
O comando da campanha da presidente Dilma em 2014 afirmou, em nota, ser
"absolutamente inverídica qualquer afirmação ou ilação de que a campanha
presidencial Dilma-Temer tenha se utilizado da empresa Andrade
Gutierrez para receber os serviços de pesquisas realizadas pela Vox
Populi".
A nota, assinada pelo coordenador-jurídico da campanha Dilma-Temer 2014,
Flávio Caetano, diz que a campanha contratou, em pesquisas, o valor de
R$ 11,286 milhões referentes a sondagens quantitativas com as empresas
Vox Opinião e Oma Assessoria de Pesquisas.
O texto diz ainda que as pesquisas qualitativas estavam inclusas no
contrato de publicidade, pois orientava a elaboração da produção de
conteúdo da campanha.
O coordenador afirmou ser "lamentável e no mínimo estranho que, às
vésperas da votação do processo de impeachment, mais uma mentira
escancarada envolvendo a campanha à reeleição da presidenta Dilma ganhe
destaque na imprensa".
A construtora Andrade Gutierrez disse que não iria se manifestar sobre o assunto.
Por meio de sua assessoria, o Vox Populi disse "não ter conhecimento do
teor de declaração feita por dirigentes da Andrade Gutierrez em processo
de colaboração no âmbito da operação Lava Jato. Assim este instituto
não tem qualquer comentário a fazer".
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