sexta-feira, 15 de abril de 2016


Andrade Gutierrez diz que pagou pesquisas para Dilma
em 2014 sem declarar



Otávio Marques de Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez, quando foi preso na Lava Jato


A Andrade Gutierrez usou um contrato com o instituto Vox Populi para pagar pesquisas usadas e não declaradas pela equipe de comunicação da campanha da reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2014.
A construtora tinha um contrato com o Vox Populi para realização de levantamentos de dados destinados à empresa, que acabou sendo usado para bancar pesquisas qualitativas encomendadas pela equipe de produção de programas da candidata petista à reeleição.
A prática configura caixa dois. Os pagamentos abrangidos pelo contrato ultrapassaram R$ 10 milhões.
Os repasses diretos da construtora ao instituto Vox Populi não constam da prestação de contas da campanha nem da do PT.
Em delação premiada, ex-executivos da empreiteira já haviam admitido um esquema semelhante na primeira campanha de Dilma à Presidência da República, em 2010.
Na época, a Andrade, por meio de um contrato com a Pepper Digital, pagou R$ 6,1 milhões de serviços prestados para a então candidata Dilma.
A informação sobre o contrato com o Vox Populi não consta dos primeiros depoimentos da delação.
Na delação, o ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Marques de Azevedo disse que parte dos R$ 20 milhões doados oficialmente pela construtora à campanha presidencial eram descontados de propinas devidas em contratos de obras realizadas na Petrobras e no sistema elétrico.

Além destas pesquisas qualitativas bancadas pela Andrade, a campanha da presidente também contratou serviços diretamente ao instituto de pesquisas, declarando à Justiça Eleitoral ter pago R$ 11,286 milhões.
Foi R$ 1,48 milhão pago para a Vox Populi e R$ 9,8 milhões para a empresa Oma Assessoria de Pesquisa de Opinião.
As pesquisas contratadas eram detalhistas. Chegaram a identificar a tendência de voto de torcedores de futebol, que foi usada para orientar ações nas redes sociais e também confecção de programas eleitorais.
Azevedo e outros ex-executivos da Andrade já tinham concordado em relatar um suposto esquema de propinas na construção de estádios para a Copa do Mundo, realizada em 2014, e pagamento de suborno e superfaturamento nas obras da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, na usina nuclear de Angra 3, no Rio de Janeiro, e na ferrovia Norte-Sul.
Preso por oito meses em Curitiba, Otávio Azevedo foi liberado depois de fazer o acordo de delação premiada com a força-tarefa da Operação Lava Jato, no qual revelou também que o consórcio construtor de Belo Monte acertou pagar R$ 150 milhões de propina, para o PT e o PMDB.
O valor equivale a cerca de 1% do valor que as empreiteiras receberam pela construção da usina hidrelétrica de Belo Monte e seria dividido em partes iguais pelos dois partidos da base aliada da presidente Dilma.
No acordo assinado com a Procuradoria, a Andrade Gutierrez se comprometeu a fazer também um acordo de leniência com a CGU (Controladoria-Geral da União) em que pagará a multa de R$ 1 bilhão.
A leniência é uma espécie de delação premiada para empresas.
Com isso, a empresa espera continuar trabalhando com o setor público, responsável por quase a metade de sua receita.

O comando da campanha da presidente Dilma em 2014 afirmou, em nota, ser "absolutamente inverídica qualquer afirmação ou ilação de que a campanha presidencial Dilma-Temer tenha se utilizado da empresa Andrade Gutierrez para receber os serviços de pesquisas realizadas pela Vox Populi".
A nota, assinada pelo coordenador-jurídico da campanha Dilma-Temer 2014, Flávio Caetano, diz que a campanha contratou, em pesquisas, o valor de R$ 11,286 milhões referentes a sondagens quantitativas com as empresas Vox Opinião e Oma Assessoria de Pesquisas.
O texto diz ainda que as pesquisas qualitativas estavam inclusas no contrato de publicidade, pois orientava a elaboração da produção de conteúdo da campanha.
O coordenador afirmou ser "lamentável e no mínimo estranho que, às vésperas da votação do processo de impeachment, mais uma mentira escancarada envolvendo a campanha à reeleição da presidenta Dilma ganhe destaque na imprensa".
A construtora Andrade Gutierrez disse que não iria se manifestar sobre o assunto.
Por meio de sua assessoria, o Vox Populi disse "não ter conhecimento do teor de declaração feita por dirigentes da Andrade Gutierrez em processo de colaboração no âmbito da operação Lava Jato. Assim este instituto não tem qualquer comentário a fazer".




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