segunda-feira, 11 de abril de 2016


Com crise, cai utilização da capacidade instalada das indústrias brasileiras



Erfides Bortolazzo Soares em sua indústria em Rio das Pedras (SP)


Em 2010, 240 moradores da cidade Rio das Pedras (SP) tiravam o sustento do trabalho na empresa SMV, fabricante de válvulas para a indústria de petróleo e gás, agroindústria e saneamento básico.
Os funcionários trabalhavam em dois turnos para operar 50 máquinas espalhadas no parque industrial de 11 mil metros quadrados. Um negócio que faturava R$ 25 milhões ao ano, dos quais R$ 5 milhões eram lucro.
Nesse tempo de prosperidade, o industrial Erfides Bortolazzo Soares, então com 42 anos, não titubeou em expandir a fábrica. Investiu R$ 5 milhões em seis novas máquinas de última geração — duas de grande porte, três de médio e uma de pequeno porte.
"A capacidade instalada estava em 80%. Índice ideal", diz o empresário. De lá para cá, porém, as máquinas foram sendo desligadas.
Em 2011, a capacidade instalada caiu para 70%; em 2012, despencou para 50%; em 2013, 40%. No ano seguinte, recuou para 30%, e no ano passado a fábrica praticamente parou.
"Hoje tenho apenas um empregado, um caseiro que olha a fábrica. Devolvi todas as máquinas novas porque não aguentei pagar. As que ficaram eu ligo de vez em quando para não estragar. O pouco que produzo é para cumprir a garantia de quem comprou minhas válvulas no passado."
A SMV é um caso que ajuda a entender a escalada da ociosidade do parque industrial brasileiro. Em fevereiro, o nível de utilização da capacidade instalada da indústria caiu para 73,6% — o que significa 26,4% de ociosidade. Foi o pior mês da série histórica da pesquisa, feita pela FGV-Ibre e que teve início em 2001.
O nível de utilização da capacidade instalada da indústria vem caindo desde 2013. Estava em 82,6% naquele ano, índice que pode ser considerado ideal. Em 2014, caiu para 81,2%, e, no ano passado, desabou para 76,4%.

REAÇÃO EM CADEIA — "A demanda interna está muito baixa e, como a indústria produz pouco, não faz sentido investir. O índice baixo é sinal de que nos próximos anos terá pouca maturação de investimento", disse Tabi Thuler Santos, coordenadora da pesquisa da FGV-Ibre.
E acrescenta: "Estamos passando por uma reação em cadeia. A indústria tem muito estoque, por isso produz pouco e demite. Ou seja, a indústria afeta ela mesma".
A Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) também detectou em pesquisa própria o pior índice de capacidade instalada nas indústrias que fabricam bens de capital.
As empresas do setor trabalharam com 60,9% da capacidade instalada em janeiro — o índice mais baixo já captado pela pesquisa, feita desde 1999.
A receita no setor caiu 10% entre 2014 e 2015. "Hoje o que se vende de máquina é para substituir as que não têm mais condições de trabalhar", diz Cristina Zanella, gerente do departamento de economia e estatística da Abimaq.
"Neste ano, o cenário vai se repetir. O setor não vai retomar enquanto a economia não voltar a aquecer."
A economista da Abimaq não está sozinha no pessimismo. A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) prevê que em 2016 seus associados que fabricam veículos leves deverão ter metade do parque industrial parado.
Para os fabricantes de veículos pesados, o prognóstico é que a ociosidade chegue a 74%. "Com a situação tão ruim, a consequência é que a viabilidade financeira das empresas começa a ser questionada", diz Luiz Moan Yabiku Junior, presidente da Anfavea.

MODERNIZAÇÃO EM RISCO — Diante desse quadro de alta ociosidade, a capacidade de investir é cada vez menor, segundo o economista Rafael Cagnin, do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
"Quando a indústria deixa de investir em máquinas, ela coloca em risco a sua trajetória de modernização."
Erfides, o empresário de Rio das Pedras, sabe que não terá de volta a indústria de válvulas do jeito que era.
"Não vou conseguir investir para ter uma fundição como eu tinha antes. Aquela empresa ficou no passado. Agora é esperar para ver se melhora", diz. Aos 48 anos, Erfides agora investe na paciência.




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