quarta-feira, 13 de abril de 2016


Canadá se oferece para substituir Brasil em missão de paz no Haiti — dívida brasileira com a ONU sobe a R$ 1,3 bilhão e põe em risco o direito a voto do País na organização



A presidente Dilma Rousseff cumprimenta o primeiro-ministro
do Canadá, Justin Trudeau, em reunião do G-20 na Turquia


Com o Brasil prestes a deixar o comando das forças de paz no Haiti depois de mais de uma década no país caribenho, o Canadá se apresenta para assumir as operações das Nações Unidas. O novo primeiro-ministro, Justin Trudeau, começou em fevereiro a negociar a transferência com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. A meta de Ottawa é a de enviar até 2 mil homens ao Haiti.
Hoje, cerca de 2,3 mil soldados, 2,6 mil policiais e 1,5 mil civis atuam em nome da ONU no país. Até o fim do ano, além da troca no comando das tropas de paz, o Brasil também precisa enviar recursos para quitar parte do que deve à ONU.
O País acumula uma dívida inédita de US$ 380 milhões (cerca de R$ 1,3 bilhão) com a organização, o segundo maior déficit de um governo com a instituição. Caso não arque com cerca de US$ 110 milhões, poderá até perder direito a voto.
Não apenas contas antigas não foram pagas, como uma reformulação do orçamento das operações de Paz da ONU fez a contribuição do Brasil crescer. A desvalorização do real também influiu no salto do déficit. Até o fechamento desta edição, o Ministério das Relações Exteriores não havia respondido à reportagem sobre a existência de alguma negociação em relação aos depósitos na ONU.
O Ministério da Defesa já havia declarado que, em outubro, entregará o comando das tropas e, desde o início do ano, a cúpula das Nações Unidas passou a negociar com outros países uma transferência.
Parte do esforço brasileiro para assumir as funções de comando em 2004 tinha como objetivo demonstrar à comunidade internacional que o País estava disposto a aumentar sua responsabilidades nos esforços por paz e segurança no mundo, gesto que foi saudado pela ONU.
Além das tropas, o governo fez doações para programas de combate à fome, foi eleito para dirigir entidades internacionais e aumentou aportes financeiros para o Alto Comissariado da ONU.
Mais de uma década depois, a situação do governo brasileiro com a ONU é diferente. Planilhas internas das contas da organização revelam que, em apenas oito meses, o buraco nas contribuições do País deu um salto de US$ 95 milhões.
Só no financiamento das diversas operações de paz no mundo, a dívida brasileira é de US$ 148 milhões. Entre os 193 países da ONU, apenas a dívida dos EUA, de US$ 1,1 bilhão, é maior. Isso sem contar com os gastos específicos do governo brasileiro para manter seus soldados no Haiti, que superaram a marca de R$ 2 bilhões. Desse total, o Brasil foi ressarcido em cerca de R$ 1,2 bilhão pela ONU.
Para o orçamento regular das Nações Unidas, a dívida brasileira era de US$ 220 milhões até 11.abr.2016, superando os US$ 190 milhões do Japão, o segundo maior doador das Nações Unidas. Outros US$ 10 milhões faltam nas contas brasileiras para os tribunais internacionais bancados pela entidade.
Os números internos mostram que o déficit não parou de crescer desde o fim de 2014. Naquele momento, ele era de US$ 190 milhões. No dia 4 de agosto de 2015, o buraco já chegava a US$ 285 milhões.
Em agosto do ano passado, o Ministério do Planejamento indicou que pretendia “regularizar o mais rapidamente possível o pagamento do valor devido” e, em reuniões em Nova York, a diplomacia brasileira chegou a indicar aos responsáveis pela contabilidade da ONU que o governo tinha como prioridade quitar as dívidas, como demonstração de seu “compromisso com o multilateralismo”.




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